Yago Travagini é economista e consultor de mercado pela Agrifatto
Stefan Podsclan é engenheiro agrícola e consultor de mercado pela Agrifatto
Laura Rezenda é média veterinária e consultora pela Agrifatto
Jéssica Huescar é médica veterinária e trainee pela Agrifatto
Antônio Costa é estagiário pela Agrifatto
Resumo da semana:
Em um cenário de ajuste entre o novo nível de oferta (sem China comprando) e demanda interna depressiva, mas buscando um “piso” para suas cotações, a pressão continuou a acontecer sobre o preço do boi gordo em São Paulo. O animal pronto para o abate foi negociado na média de R$ 265,25/@, uma queda de 1,77% no comparativo semanal, sendo este o menor valor desde a semana do natal de 2020.
Acompanhando a desvalorização no mercado doméstico da proteína animal (que recua por conta da forte queda da carcaça casada bovina), o suíno vivo passou por um forte recuo na última semana. O preço pago ao produtor ficou na média de R$ 7,03/kg, queda de 4,65% no comparativo semanal. O cenário de queda deve continuar afetando as demais proteínas, enquanto a situação não se estabilizar para o boi gordo.
Influenciada pela forte valorização do dólar, a soja registrou avanços no mercado físico brasileiro. Em Paranaguá/PR, a oleaginosa foi cotada a um preço médio de R$ 171,53/sc na semana passada, com alta de 1,45% no comparativo semanal. Cabe a ressalva de que o mercado norte-americano da oleaginosa não consegue avançar com consistência além dos US$ 12,30/bu, mesmo com avanço dos óleos vegetais.
Com a demanda global por energia aquecida e o risco de crise energética assombrando alguns países, o petróleo WTI encerrou mais uma semana em valorização. O betuminoso fechou a sexta-feira sendo avaliado em US$ 82,58/barril, alta de 1,20% ante a semana retrasada. Além disso, a cotação do petróleo sofreu ainda mais pressão por conta dos números do Departamento de Energia norte-americano que informou que os estoques da commodity recuaram em 431 mil barris em comparação a semana retrasada.
1. Na tela da B3
O fundo do fundo?
O mercado do boi gordo seguiu caindo durante a última semana, dando ares de que a desvalorização deveria continuar nas próximas semanas. No relatório do início da semana passada visualizamos que o mercado poderia estar chegando próximo de um “fim” para o seu processo de queda. No entanto, houve espaço para que as cotações caíssem ainda mais e chegassem ao menor valor desde 18/12/2020.
A semana se encerrou com o preço do boi gordo no mercado físico paulista negociado a R$ 260,20/@, recuando 2,47% no comparativo com a sexta-feira da semana anterior. Ou seja, a pressão e o ajuste continuam a favorecer os frigoríficos, que oferecem valores de balcão cada vez menores. Na B3, o vencimento para out/21 recuou 1,89% fechando a sexta-feira a R$ 265,40/@.
Apesar dessa contínua desvalorização, visualizamos que o movimento de queda deve começar a perder espaço nos contratos de mais curto vencimento (out/21 – nov/21), já que a movimentação da carcaça bovina no atacado paulista foi mais animadora. Apesar da queda nos preços, o escoamento foi considerado bom e este pode ser um indicativo de equilíbrio para o elo atacadista e consequentemente para o boi gordo.
Outro ponto que destacamos na semana anterior acabou se concretizando. Sem a volta chinesa os vencimentos mais distantes (nov/21 – dez/21 – jan/22) foram mais penalizados que o out/21, esses três contratos registraram desvalorizações de mais de 3% no comparativo semanal, justamente por conta da distante possibilidade chinesa de volta as compras. Caso isso perdure pela próxima semana, visualizamos que os vencimentos que mais sentiram seriam os de dez/21 e jan/22.
Dois players seguem como destaque nas movimentações de contratos futuros de boi gordo na B3 nesta semana. Os Investidores Institucionais (Fundos) aumentaram sua posição comprada em 64% (após aumentarem em 81% na semana retrasada), assumindo o maior saldo comprado desde 06/02/2020, com 3,58 mil contratos, ao mesmo tempo em que as Pessoas Físicas intensificaram as vendas e estão com um saldo vendido de 3,01 mil contratos, o maior posicionamento vendido das PFs desde 2019.
Ainda que não haja “bola de cristal” no mercado, a movimentação dos fundos para um aumento de posição comprada levanta indagações sobre o caminho do boi gordo na B3 nos próximos meses, afinal, esses mesmos fundos sustentaram uma posição vendida desde o dia 24/06/2021 e auferiram um lucro considerável com essa operação até inverterem a mão. Mais uma vez, atenção a movimentação dos fundos!
Fonte: Agrifatto; B3;
1.1. O que o mercado futuro proporciona?
Apesar da desvalorização de 2% do preço físico e no contrato corrente na B3 ainda visualizamos que a balança de oferta e demanda para a cotação do boi gordo está chegando próximo a um “mínimo”. O “espaço” de queda para baixo dos R$ 265,00/@ foi atingido pelos frigoríficos, que conseguiram performar um preço médio de R$ 260,00/@ na sexta-feira, ainda assim, as notícias de comercialização de carne que vieram dos atacadistas foram mais “animadoras”.
Ainda que as cotações da carcaça casada bovina tenham recuado novamente, o volume de vendas foi considerado bom, mesmo estando na última semana do mês e com uma quantidade de carne disponibilizada maior, e a impressão dos atacadistas é que um equilíbrio possa ter sido encontrado.
Isso demonstra que a pressão sobre o boi gordo dos frigoríficos operantes no mercado físico paulista pode estar próxima a um fim. E desta forma, visualizamos que a venda de futuros ou compra de PUTs de curto prazo (out/21 e nov/21) não façam muito sentido de serem feitas no atual momento. Acreditamos que para esses vencimentos, o ideal é se manter fora das vendas.
No entanto, a situação para os meses de dez/21 e jan/22 continua em aberto e com a precificação na B3 indicando uma recuperação, acreditando na volta da China ao mercado ou até mesmo de que o mercado interno conseguiria absorver essa oferta que chegaria, melhorando assim as cotações.
O contrato para dez/21 é negociado a R$ 282,00/@ enquanto que o jan/22 é comercializado próximo aos R$ 289,00/@, com um ágio de 8,38% e 11,07% frente os valores atuais de out/21.
Diante disso, o foco da comercialização e estancamento da “sangria” para aqueles que detêm animais em confinamento e ainda não os comercializaram deve ser nesses meses, sendo feita através de compra de PUTs ou venda de futuros.
Considerando a possibilidade de que a China permaneça ausente do mercado até jan/22, a tendência é que as cotações para dez/21 e jan/22 sintam uma maior pressão negativa e recuem frente os patamares atuais.
Diante disto, uma estratégia interessante é basicamente a compra de PUT simples que protejam o valor mínimo de R$ 260,00/@, com um custo médio de R$ 3,78/@. Esse tipo de proteção se mostra interessante, pois com ela será possível surfar em uma possível valorização do boi gordo nos próximos meses, considerando a possibilidade da volta chinesa, ainda assim, caso a resposta da China seja negativa um mínimo estaria garantido.
Além disso, a venda de futuros para dez/21 e jan/22 é outra opção em que se estabelece o preço de comercialização dos animais a serem entregues nesses meses a R$ 282,00 /@ e R$ 289,00/@, bem acima dos R$ 260,00/@ propostos na PUT simples. No entanto, essa operação não permitiria “surfar” em uma alta do boi gordo, caso a China retome as compras de carne bovina do Brasil nas próximas semanas. Cabe a ressalva de que essa operação poderia ser feita de forma “casada” com a compra de uma CALL (opção de compra), no entanto, com o atual nível de volatilidade empregado pelo mercado, essas estão a preços não muito interessantes.
Conjecturando o espectro especulativo, a compra de futuros para nov/21 a um patamar abaixo de R$ 270,00/@ nos parece interessante, já que o mercado dá sinais de que há um equilíbrio se formando agora no patamar de R$ 260,00/@ com o foco das cotações no mercado interno, e, como o mês de novembro historicamente é o melhor mês para os preços da carcaça bovina no atacado paulista, a compra de futuros para nov/21 pode ser uma estratégia interessante em um ambiente especulativo para o boi gordo.
2. Enquanto isso, no atacado…
O mercado atacadista de carne bovina paulista encerrou a sexta-feira em toada diferente das semanas anteriores. As vendas foram consideradas boas, com todas as mercadorias postas para comercialização vendidas, o que garantiu uma melhora no escoamento, comparado com as últimas semanas e evidenciando um possível equilíbrio entre oferta e demanda. Como o volume disponibilizado ao mercado foi maior que nas semanas anteriores, os preços dos cortes bovinos passaram por reajustes negativos, o que fez com que a carcaça casada bovina desvalorizasse -1,52% no comparativo semanal e ficasse cotada em R$ 18,09/kg.
No mercado de frango em São Paulo, a movimentação de vendas durante a semana foi considerada regular. Com os preços da carne bovina diminuindo devido ao cenário atual, o escoamento dos cortes de frango tende a diminuir, gerando mercadorias remanescentes nas prateleiras, o que pode pressionar os preços para baixo. Com isso, as cotações de frango resfriado fecharam a semana em R$ 8,07/kg, desvalorizando -0,83% no comparativo semanal.
Assim como o frango, o mercado de proteína suína também sentiu a retração de consumo esta semana. Como o volume de negociações diminuíram, as pressões nas cotações foram inevitáveis. Sendo assim, a carcaça especial suína terminou a semana cotada em média de R$ 10,20/kg, desvalorizando -1,35% no comparativo semanal.
Com as cotações dos principais cortes bovinos estando nos menores patamares de 2021, se assemelhando aos valores do final de 2020, em conjunto com a aproximação do feriado prolongado do dia 02/11, talvez poderemos visualizar um aquecimento do mercado consumidor interno brasileiro em relação a proteína bovina, ressaltando a perspectiva de equilíbrio entre oferta e demanda.
3. No mercado externo
Durante a última semana 16,92 mil toneladas de carne bovina foram exportadas, consolidando uma média de embarques diários na casa de 4,17 mil toneladas, 48,68% a menos que o mesmo período no ano passado. Até o momento, o mês de out/21 totaliza 62,61 mil toneladas da proteína bovina enviadas aos portos, convergindo para o que pode ser o pior resultado das exportações brasileiras desde mai/18.
O preço do produto no mercado internacional ficou na casa dos US$ 5,23 mil/t, queda de 0,78% ante a semana anterior. Com isso, as vendas dos 20 primeiros dias úteis do mês totalizaram US$ 327,70 milhões e uma média diária de US$ 21,84 milhões, 36,72% abaixo do resultado diário que fora constatado em out/20. Ou seja, mesmo com o preço 23% maior que em 2020, a receita total com a venda de carne bovina do país ainda deve ficar abaixo no comparativo anual.
As exportações de milho ganharam força na última semana com 704,12 mil toneladas embarcadas, um aumento de 229,73% no comparativo semanal. A uma média de vendas externas em 93,36 mil ton/dia, os 20 dias úteis de outubro/21 consolidam 1,40 milhões de toneladas exportadas, volume que corresponde a 28,0% de todo volume exportado em outubro/20. Essas negociações totalizaram um montante de US$ 297,25 milhões, uma média diária de US$ 19,81 mi/dia, 52,51% de queda quando comparado a mesma ocasião em 2020.
O volume de importação do cereal vem batendo recordes, durante a última semana 156,36 mil toneladas atracaram em portos brasileiros, alta de 114,06% ante a semana retrasada, totalizando 436,60 mil toneladas no mês corrente, volume 128,82% maior que todo outubro/20. Para as compras internacionais do grão foram investidos US$ 104,25 milhões, valor 3,17 vezes maior que o montante utilizado em todo o mês em 2020, quando a tonelada era 55% do que é avaliada hoje.
As exportações de soja totalizaram 666,28 mil toneladas na 3ª semana de outubro, aumento de 6,31% no comparativo semanal. Até o momento, outubro/21 totaliza 2,73 milhões de toneladas da oleaginosa deixaram os portos brasileiros, volume 12,88% maior que o registrado em outubro/20.
O preço médio da tonelada ficou em US$ 524,50, queda semanal de 0,99%. Durante a última semana, as vendas externas geraram uma receita de US$ 337,61 milhões, com isso, os 20 dias úteis do mês corrente totalizam um montante de 1,43 milhões, faturamento 61,96% superior que todo outubro/20.
4. A compra do pecuarista
Com a entrada do período das chuvas inicia-se também o período de manejo nutricional das pastagens, seja as adubações de cobertura ou reforma de pastagens. Os preços dos fertilizantes vêm passando por fortes elevações devido a diversos problemas nos países produtores e não há uma sinalização ou expectativa de estabilização dessas sucessivas elevações de preços, da mesma forma também existe uma preocupação com a disponibilidade desses produtos nos próximos meses.
Em Mato Grosso, o preço médio da tonelada da uréia ultrapassa o nível de R$ 4.300,00/ton e o Super Simples supera os R$ 1.500,00/ton. Desde o início de 2021, o fertilizante nitrogenado acumula alta superior a 70% e o super simples acima 60%.
Esse movimento no preço dos fertilizantes combinado ao comportamento do preço da arroba, está trazendo uma significativa deterioração do poder de compra do pecuarista para realizar o manejo das suas pastagens. Com a relação de troca para o nitrogenado se aproximando do pior nível desde novembro/18 e desde agosto/19 para o fosfatado.
Fonte: Conab; Agrifatto;
5. O destaque da semana
Em um momento de instabilidade político-econômica no país, o dólar atingiu o maior patamar frente ao real desde 14/04/21. Temores de piora do cenário fiscal do Brasil e a saída de secretários do Ministério da Economia fizeram com que a moeda americana encerrasse a semana sendo cotada a R$ 5,71, uma alta de 4,78% ante a sexta-feira retrasada.
Desde o início de outubro/21 o dólar já acumula uma valorização de 5,95%, já no ano de 2021 o avanço é de 10,64%. Esse forte avanço da moeda associado à inflação no país, deixa o mercado brasileiro apreensivo, o que é refletido em queda também do índice Ibovespa que fechou a semana com um recuo de 7,28%, a maior retração semanal do ano.
Fonte: Agrifatto
Com a desvalorização do real, a carne bovina brasileira (que voltou a ser a mais barata do mundo há algumas semanas) se torna ainda mais competitiva no mercado internacional, os preços do boi gordo e da proteína vermelha ficam mais atrativos para os compradores estrangeiros.
Apesar da redução do volume de exportações de carne bovina nesse mês, uma possível retomada dos embarques para a China criaria um cenário mais favorável para o pecuarista, que vê o preço da arroba acumular queda de 9,88% no estado de São Paulo. No entanto, sem a volta dos chineses as compras o impacto dessa alta do dólar sobre os pecuaristas se dá muito mais sobre os insumos que são dolarizados (fertilizantes, etc) do que sobre a arroba do boi gordo.
A permanência de Paulo Guedes no ministério da economia deve manter os ânimos do mercado menos exaltados, no entanto, com o rompimento do teto de gastos “aceito” pelo ministro da economia, a pressão sobre o câmbio brasileiro deve continuar.
6. E o que está no radar?
A temática chinesa continua no radar da pecuária brasileira, a última semana foi recheada de novidades no âmbito político, de possíveis resoluções acontecendo no curto prazo, mas a realidade foi outra e continuamos mais uma semana sem a volta dos chineses e sem apontamentos oficiais de que isso pode acontecer no curto prazo. As conversas do “rádio corredor” é de que não há sinalização de que os chineses estejam com pressa em resolver o imbróglio.
Desta forma, conforme já havíamos pontuada na semana passada, o balizador de preços do boi gordo é o mercado interno e o “fundo” das cotações do boi gordo deve ser delimitado pelo valor da carcaça casada no atacado paulista, que continua a sofrer reajustes. Fora observado mais uma semana de queda na carcaça casada bovina, que recuou 1,52%, sendo cotada em média a R$ 18,09/kg.
Ainda assim, um fato que não havia sido observado anteriormente e que suscita a possibilidade de que a desvalorização da carcaça e do boi gordo esteja próximo de um final é que o volume de vendas foi considerado bom, e isso aconteceu mesmo com o aumento de proteína disponibilizado e estando na última semana do mês (que costuma ser ruim de vendas).
Ou seja, apesar dos recuos, a carne bovina parece estar encontrando seu ponto de equilíbrio no atacado paulista, isso nos leva a crer que os fortes recuos do boi gordo chegaram ao fim, e o que veremos a partir de agora devem ser leves reajustes para baixo ou até mesmo um equilíbrio de preços no atual patamar. Vamos acompanhar!