Gustavo Machado é consultor de mercado pela Agrifatto
Confirmando-se o bom desenvolvimento da safrinha, a expectativa é de ajustes negativos para os preços do milho, mas a conjuntura ainda aponta para um ambiente de sustentação ao longo do ano.
Devido a menor produção e atraso da semeadura, a pressão altista predomina com limitação da curva positiva pelos estoques mais altos, mas a conjuntura de comercialização mais lenta e a quebra da safra Argentina prevaleceram para o fortalecimento dos preços.
Mercado Interno
Internamente, a menor área semeada e o menor investimento em tecnologia diminuíram as estimativas de rendimento da temporada atual, com a maior queda registrada para a 1º safra, recuo de 17,50% (gráfico 1).
Mas com o aumento dos estoques e o menor ritmo de negociação do cereal, a relação da disponibilidade do grão neste primeiro semestre pouco se alterou.
Somando-se os estoques de passagem com a estimativa de colheita do milho safra, em torno de 40 milhões de toneladas, pode ficar disponível ao mercado interno nesta primeira metade do ano o suficiente para suprir cerca de 60% do consumo projetado para 2018 (no ano passado, a oferta neste período supria 65% da estimativa do consumo daquele ano).
Portanto, o recente fortalecimento do preço do milho relaciona-se particularmente pelo encarecimento dos fretes e pela ponta vendedora voltada a colheita e comercialização da soja. Sendo que o anúncio dos leilões públicos da CONAB, em 1 milhão de toneladas, não representa volume suficiente para retirar de forma consistente a pressão positiva.
Vale destacar que os riscos climáticos seguem no radar e devem continuar ocasionando volatilidade aos preços nas próximas semanas.
Exportações brasileiras
As exportações também permanecem como fator de sustentação. Em 2017, os embarques atingiram volume recorde de 29,25 milhões de toneladas, apesar de as exportações terem começado aquele ano em níveis inferiores à média (devido à quebra de safra em 2015/16).
Já nestes primeiros meses de 2018, as exportações se mostram em linha com o histórico, com os dados parciais de março/18 apontando para alta de 200% em relação a mar/17 (gráfico 2).
Portanto, tudo indica que o volume exportado deve superar o recorde recente e ultrapassar 30 milhões de toneladas, com a valorização cambial aumentando a competividade brasileira no momento de exportações do segundo semestre.
Mercado externo
A quebra da safra Argentina ocorre em um ano de queda de oferta dos principais produtores e com a demanda se apresentando firme.
Estima-se queda de 3% para a produção mundial de milho, a mesma proporção de queda para a produção chinesa, além de recuo de 4% da produção norte-americana e redução de 12% para a temporada da Argentina (Departamento de Agricultura dos EUA – USDA).
Por outro lado, espera-se alta de 9% para a demanda global, considerando que apenas a China deva consumir 60% a mais do cereal nesta safra.
Com o mercado internacional firme, o preço de paridade de exportação do milho brasileiro também segue em curva positiva, puxando as cotações internas.
Observe pelo gráfico 3 a seguir como as cotações futuras do contrato para setembro/18 da Bolsa de Mercadorias de Chicago (CBOT) e da B3 (antiga BM&F) seguem tendências similares.
Conclusões
As expectativas já eram de preços reajustados positivamente este ano, mas a quebra da safra Argentina foi o fator que promoveu um movimento de alta ainda mais consistente.
A demanda aquecida e oferta menor trazem suporte aos preços com viés altista, e deve limitar as quedas nesta temporada.
Em abril a alta volatilidade permanece no radar, reduzindo-se com a safra de verão chegando ao mercado, e conforme também se confirme o desenvolvimento da 2º safra.
Com exceção de algum problema grave na safrinha, os preços de balcão e as cotações devem ser ajustadas após a intensa valorização de fevereiro.
O gráfico 4 reúne os preços entre 2007 e 2017 corrigidos pelo IGP-DI, com o provável equilíbrio de preço estimado para 2018. No momento, a projeção em SP fica entre R$ 32,50/sc e R$ 37,50/sc.