Investidores do mercado futuro de soja, milho e trigo na Bolsa de Chicago (CBOT) devem voltar suas atenções para o relatório de oferta e demanda que o Departamento de Agricultura dos Estados Unidos (USDA) divulgará amanhã (10), o primeiro com projeções para a safra norte-americana 2016/17. A movimentação de fundos, as perdas na safra de soja argentina e o clima seco em áreas de cultivo de milho no Brasil também devem continuar no radar dos traders, assim como as condições e o ritmo de plantio nos EUA.

Quanto à soja, os futuros se recuperaram na sexta-feira das perdas do dia anterior, com novas compras de fundos dando impulso aos preços. O vencimento julho avançou 22,50 cents (2,22%) e terminou em US$ 10,3475 por bushel, alta semanal de 0,49%. Segundo o diretor do Société Générale Michael McDougall, a massa de dinheiro especulativo que entrou recentemente nos mercados de commodities continua direcionando a CBOT. O motivo apontado para as compras ainda é o prejuízo causado por episódios de estiagem e excesso de chuvas na América do Sul. “A situação da Argentina melhorou e isso tranquilizou o mercado, mas não se tem absoluta certeza de qual o tamanho da perda em quantidade e qualidade”, apontou o analista. Neste começo de semana, investidores dão continuidade aos ajustes de posição antes do relatório de maio do USDA. A média de analistas ouvidos pela Dow Jones Newswires prevê que o USDA reduzirá para 428 milhões de bushels a sua projeção para o estoque final dos EUA em 2015/16, ante 445 milhões de bushels previstos no mês passado. Para a produção norte-americana em 2016/17, a expectativa do mercado é de que o governo norte-americano projete 3,788 bilhões de bushels, contra o volume de 3,929 bilhões de bushels estimado para o ciclo 2015/16. O clima e o ritmo de semeadura nos EUA também devem direcionar as cotações. O USDA divulga o relatório semanal de acompanhamento de plantio no país nesta segunda-feira, às 17h de Brasília.

milho se recuperou das perdas das últimas duas sessões na sexta-feira. O milho para julho ganhou 3,75 cents (1%), para US$ 3,7750 por bushel. Na semana, entretanto, o recuo foi de 3,64%. As dúvidas sobre as condições da segunda safra brasileira oferecem suporte ao mercado. “A situação do milho está mais problemática no Brasil, onde esfriou e ficou seco de novo, e a safra pode ter novas perdas mais para frente. São esperadas duas semanas de tempo principalmente seco no Centro-Sul”, ressaltou McDougall. Embora haja previsão de precipitações em alguns pontos do Paraná e de São Paulo, partes de Goiás e Mato Grosso seguem sem chuvas. Nos EUA, o clima é considerado favorável, e McDougall projeta que o USDA deve apontar 50% da área plantada nesta segunda-feira, o que é considerado um plantio feito cedo e pode indicar a possibilidade de aumento de área. Para o relatório de oferta e demanda, analistas esperam que o USDA reduza os estoques finais da safra 2015/16 para 1,825 bilhão de bushels, ante 1,862 bilhão de bushels no mês anterior. Quanto à produção em 2016/17, o mercado prevê que o governo norte-americano aponte 14,151 bilhões de bushels, ante 13,601 bilhões de bushels em 2014/15.

Quanto ao trigo, os futuros subiram na sexta-feira, influenciados pelo desempenho do milho. Os dois grãos são substitutos diretos em ração animal e costumam se mover na mesma direção. O vencimento julho do trigo avançou 0,50 cent (0,11%), para US$ 4,6375 por bushel. Porém, na semana, a queda foi de 5,07%. Os ganhos foram limitados por relatos de que a safra de inverno dos EUA neste ano pode ter melhor rendimento que a do ano passado. “A situação climática é boa nos EUA para trigo”, disse McDougall. O recuo do dólar no exterior no começo da sexta-feira também contribuiu para a alta das commodities, embora o ritmo de queda da divisa norte-americana tenha diminuído ao longo do dia. O dólar terminou praticamente estável em relação ao euro e ao iene, e sem direção única na comparação com moedas emergentes e ligadas a commodities. Para o relatório da terça-feira, a expectativa dos analistas para a produção de trigo em 2016/17 é de 1,975 bilhão de bushels, ante 2,052 bilhões de bushels em 2014/15. Com relação ao estoque final em 2014/15, a previsão é de que o USDA estime 978 milhões de bushels, ante os 976 milhões de bushels do mês passado.

Café: Nova York volta ao intervalo
Os contratos futuros de café arábica acumularam valorização de cerca de 2,15% na semana passada, tendo como base o segundo vencimento, julho de 2016. O mercado esteve um pouco esvaziado, com baixa volatilidade. As cotações chegaram a romper a parte de baixo do intervalo entre 120 cents e 130 cents. No entanto, não houve sequência de perdas e o mercado se recuperou. A expectativa agora é que os preços voltem a se aproximar de 130 cents, principalmente considerando o dólar enfraquecido e os fundos de investimento vendidos em café em Nova York.

Na semana passada, os contratos subiram 2,15% (260 pontos) na Bolsa de Nova York (ICE Futures US), base julho. As cotações do arábica encerraram na sexta-feira (29), a 123,45 cents. No período, os contratos marcaram máxima de 124,80 cents (sexta, dia 6) e mínima de 118,90 cents (quarta, dia 4).

O Escritório Carvalhaes, de Santos (SP) destaca em boletim semanal que A provável troca de governo no Brasil continuou pressionando a cotação do dólar em relação ao real e a recuperação de 300 pontos nos contratos de café com vencimento em julho na ICE em Nova York na sexta-feira não chegou a refletir no mercado. Os compradores mostram interesse nos lotes oferecidos, mas seguram o valor de suas ofertas. Os negócios são poucos porque a oferta de lotes da safra que se encerra é pequena e os vendedores recusam a maior parte das ofertas. Alguns exportadores já estão com uma atenção maior para os primeiros lotes da safra 2016. Os poucos que aparecem estão com alta porcentagem de verdes.

Segundo Carvalhaes, o Brasil só terá volume razoável de lotes 2016 a partir de meados do próximo mês e boa parte desses primeiros lotes deverão ser usados para cumprir contratos de venda física para entrega futura, fechados no semestre passado e no início deste ano a preços bem superiores aos praticados atualmente. Os mais finos serão muito disputados pelos compradores de café para o mercado “gourmet”. “Os cafeicultores que tiverem fôlego para aguentar os primeiros meses do novo ano safra deverão obter preços melhores que os oferecidos atualmente pelos compradores”, avalia Carvalhaes.

Açúcar: Futuros na ICE começam semana com suporte em 15,70 cents/lb
Os futuros de açúcar demerara iniciam a semana com suporte nos 15,70 cents por libra-peso, respeitados na última sexta-feira. A avaliação é de que os contratos até podem rompê-lo, mas não passam dos 15,50 cents/lb, patamar este que atrai demanda. Ao mesmo tempo, não se espera um avanço para além dos 16 cents/lb na Bolsa de Nova York (ICE Futures US), pois as condições climáticas no Brasil continuam favoráveis aos trabalhos de campo.

Nesta semana, uma nova frente fria deve passar pelo Sudeste, mas sem chuvas volumosas. Em São Paulo, as precipitações, entre 20 mm e 40 mm, tendem a se concentrar no sul e litoral do Estado, longe dos canaviais centrais, de acordo com a Climatempo. Chuvas assim ocorreram no fim de abril, e a moagem de cana no território paulista transcorreu sem problemas.

Julho recuou 10 pontos (0,63%) e encerrou sexta em 15,74 cents/lb, com máxima no dia de 16,04 cents/lb (mais 20 pontos) e mínima de 15,62 cents/lb (menos 22 pontos). Outubro caiu 7 pontos (0,43%) e terminou em 16,09 cents/lb.

(AE)