O presidente da Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa), Celso Luiz Moretti, afirmou ontem (7), em audiência pública no Senado, ser contrário à “janela enorme” de plantio de soja estabelecida pelo Ministério da Agricultura para diversos Estados, entre eles Mato Grosso, maior produtor nacional da oleaginosa. Em 10 de setembro, a pasta publicou a portaria 394, estendendo o calendário de semeadura do grão de 110 para até 140 dias, em muitos casos até fevereiro.
“Para controlar a grande doença da soja, que é a ferrugem (asiática), existem algumas estratégias: ou você desenvolve a genética (de semente) e obtém um material resistente, o que nós não temos ainda, ou desenvolve moléculas (fungicidas) para controlar o fungo que causa a ferrugem, e as moléculas têm mostrado que sua eficiência vem diminuindo cada vez mais, estamos em 70% (de eficiência), ou usa a terceira estratégia, que é o escape, reduzir a janela de plantio, faz o vazio e faz o calendário”, explicou Moretti aos senadores. Até então, representantes da Embrapa não tinham se manifestado sobre o assunto.
“Especificamente em Mato Grosso nos manifestamos contrários ao plantio em fevereiro”, disse ele em resposta ao questionamento do senador Jayme Campos (DEM-MT), durante audiência pública da Comissão de Agricultura e Reforma Agrária (CRA) do Senado sobre contribuições da Embrapa para a agricultura sustentável no Brasil em seus 48 anos, realizada pela manhã.
No dia 1º de setembro, a Agricultura havia publicado a primeira portaria ampliando o calendário de semeadura da soja no Brasil, a 389, que foi criticada por várias entidades do agronegócio, órgãos estaduais de defesa vegetal e a própria Embrapa, por meio de nota. Após os protestos de parte do setor, o ministério editou a portaria 394, em 10 de setembro, que manteve o prazo estendido da semeadura, até fevereiro, para a maioria dos Estados, mas concedeu aos governos locais a prerrogativa de acatá-lo ou não, mediante solicitação justificada.
Nesta última portaria, Mato Grosso do Sul e Bahia conseguiram restabelecer a data limite do plantio para 31 de dezembro, a fim de reduzir os riscos da disseminação do fungo Phakopsora pachyrhizi, causador da ferrugem. Mas Goiás, que também protestou contra a alteração, ainda não conseguiu restabelecer o calendário anterior.
Fontes relatam também que a alteração do calendário de soja foi motivada por demanda de lideranças de Mato Grosso interessadas em um prazo mais longo que permitisse cultivar a soja, com a finalidade de salvar sementes para uso próprio, por volta de fevereiro, a fim de colher em maio, quando o clima é mais seco, o que contribuiria para a qualidade do grão. A prática é legal, mas a extensão do prazo do plantio é contestada no setor porque implicaria o dobro de aplicações de fungicidas, mais tempo de plantas vivas no solo servindo de hospedeiras para o fungo e, consequentemente, maior resistência do fungo aos fungicidas atuais.
(AE)