Yago Travagini é economista e consultor de mercado pela Agrifatto
Stefan Podsclan é engenheiro agrícola e consultor de mercado pela Agrifatto
Jéssica Huescar é médica veterinária e trainee pela Agrifatto
Antônio Costa é estagiário pela Agrifatto
Laura Rezende é médica veterinária e consultora pela Agrifatto
Resumo da semana:
Respaldado por um consumo interno combalido e estoques elevados, os frigoríficos vão ganhando espaço para reduzir cada vez mais o preço pago pelo boi gordo em São Paulo, desta forma, fechamos a segunda semana consecutiva com desvalorização no animal, com queda de 0,60% e cotado em média a R$ 312,69/@. O fato das entregas dos confinamentos se avolumarem ao mesmo tempo que a capacidade de suporte das pastagens estar nas suas mínimas anuais também facilita a pressão baixista dos frigoríficos ao manter as escalas alongadas.
O bezerro, que ensaiou uma recuperação na semana retrasada, voltou ter um movimento de queda de preços nos últimos dias. A dificuldade em manter os animais nos pastos continua ditando o ritmo do mercado da reposição, deixando os criadores mais suscetíveis a oferta menores por seus animais. O bezerro sul-mato-grossense encerrou a sexta-feira sendo negociado a R$ 2.813,62/cab, acumulando queda de 3,00% no comparativo semanal.
O preço pago ao produtor pelo suíno vivo, passou por um forte recuo nessa última semana. Com a chegada do fim do mês e a diminuição do apetite do consumidor final, todas as proteínas animais sofreram com pressões negativas, e com a suína não foi diferente, desta forma, os frigoríficos repassaram o recuo para o produtor. O animal ficou com o preço médio de R$ 6,34/kg na última sexta-feira, recuando 10,45% ante a semana retrasada.
O petróleo WTI encerrou a semana em alta após sinais de melhora na demanda pelo produto e estoques abaixo do esperado nos EUA. O Petróleo WTI, encerrou a sexta-feira na casa dos US$ 68,65/barril, fechando ao maior valor dos últimos 15 dias e demonstrando uma valorização de 7,89% no comparativo semanal.
1. Na tela da B3
Após mergulhar mais uma semana em desvalorização, o boi gordo voltou a reagir na B3. As duas semanas consecutivas de queda no vencimento outubro/21 deram lugar a uma tímida valorização de 0,35% nesta semana, voltando ao patamar dos R$ 314,90/@ ao final da sexta-feira.
O interessante do movimento observado na B3 durante a semana é que chegamos a ter negócios de R$ 310,00/@ a quarta e quinta-feira da semana passada, sendo este o menor valor para o vencimento outubro/21 desde 03/03/2021, destacando assim a fragilidade que o mercado físico demonstra ao futuro. No entanto, a recuperação aconteceu durante a quinta-feira e fechamos a semana com alta.
Apesar disso, o destaque dessa semana vai para a movimentação entre os players que operam boi gordo na B3. Isso por que, depois de 37 semanas as Pessoas Físicas não são os principais operadores comprados (apostando na alta) neste momento, e agora as PJs não financeiras (frigos) assumem a “ponta” com um saldo comprado de 5,05 mil contratos.
Enquanto as PJs não financeiras aumentaram sua exposição na compra em 47%, através da compra de futuros e da venda de PUTs, as PFs reduziram sua exposição na compra em 36%, com um saldo positivo de pouco mais de 2,96 mil contratos, diminuição essa feita através da venda de contratos futuros e da compra de PUTs.
Acreditamos que essa movimentação destrava a percepção de que os frigoríficos “não tinha interesse” nos valores que estavam sendo negociados na B3 para os meses de outubro e novembro/21, e isso, pode significar que há espaço para a valorização do ativo neste período de tempo. Claramente teremos que observar a demanda interna nas próximas semanas, mas ao menos os operadores da B3 que sofreriam com uma valorização do boi gordo no mercado físico, parecem ter encaminhado algumas proteções contra alta.
Fonte: Agrifatto; B3;
1.1. O que o mercado futuro proporciona?
Ainda visualizamos que a precificação atual de R$ 314,55/@ para outubro/21 e de R$ 323,45/@ é inconsistente com a sazonalidade de preços observadas tanto para o boi gordo no mercado físico, quanto para a carcaça bovina no atacado paulista e para a proteína bovina no varejo.
Ainda assim, acreditamos que tais contratos ainda poderão sofrer pressões grafistas que o façam recuar durante esta semana, e esse processo pode ser intensificado pelos frigoríficos com poder de “barganha” para forçar quedas no físico, mas isso, abriria oportunidades de novas compras.
No que diz respeito as condições de negócios, visualizamos uma forte redução da volatilidade do boi gordo na B3, logo a precificação das opções se tornou mais atrativa, tanto para a compra (CALL) quanto para a venda (PUT).
Diante do cenário diferente, acreditamos que três cenários possíveis possam ser traçados. Listamos a seguir:
Conservador: Para aqueles mais conservadores, que não querem se expor ao risco de mercado dos próximos meses, a compra de PUTs simples se desenha como ideal para ao mesmo tempo estar protegido contra desvalorizações ainda mais fortes que a atual, mas ao mesmo tempo surfar em uma possível valorização do boi gordo nos próximos meses. É possível proteger o valor de R$ 305,00/@ para os quatro meses restantes de 2021 com um custo médio de R$ 3,06/@, 1,00% sobre o total protegido. Além disso, as PUTs SPREADs também são boas opções pensando na proteção parcial desses animais, com um dispêndio médio de R$ 1,90/@ é possível proteger a queda de preço do boi gordo a partir dos R$ 305,00/@ até os R$ 295,00/@.
Mista: Neste cenário, em que o operador está disposto a correr um pouco mais de risco baseando a sua decisão na conjuntura construída pela análise de mercado abaixo, mas ainda assim, não gostaria de se expor tanto, visualizamos a CALL Spread como uma das opções mais interessantes. A compra de CALLs na casa dos R$ 320,00/@ financiadas pela venda de outras CALLs na casa dos R$ 330,00/@ para os próximos quatro meses implicaria em um custo médio de R$ 3,39/@, e, considerando a possibilidade de que o boi gordo deve ultrapassar este valor (R$ 320,00/@) neste período, essa se mostra uma alternativa com risco baixo, mas interessante para auferir uma proteção interessante contra uma possível alta do animal.
Arrojada: Na opção mais arrojada temos a compra de contratos futuros para os quatro meses finais de 2021. O recuo de preços frente ao que era observado no mês passado reforçou a máxima de que o mercado futuro segue seus caminhos amparados no físico mais do que nunca neste ano, no entanto, assim como em 2020, quando as indicações da B3 para o último quadrimestre do ano em agosto/20 não superavam a cotação no físico (R$ 220,00/@), tal cenário é posto novamente em 2021. Com a percepção de que há espaço para melhora sazonal da demanda interna, externa e a oferta ainda escassa acreditamos que há espaço para a compra de futuros de boi gordo na B3 para os próximos meses nos valores negociados atualmente, R$ 314,00/@ para outubro/21 e R$ 321,00/@ para novembro/21.
2. Enquanto isso, no atacado…
Conforme o passar da semana, a demanda interna no mercado atacadista continuou não sendo o suficiente para absorver os volumes de mercadorias das prateleiras. Com a oferta ainda constante, a alternativa encontrada pelos frigoríficos foi aceitar desvalorizações nos preços dos principais cortes bovinos comercializados, tais como carcaça casada, dianteiro e ponta de agulha. Com isso a carcaça casada bovina no mercado atacadista passou por desvalorização de -0,78% no comparativo semanal, fechando cotações com preço médio de R$ 19,48/kg.
Para o frango o cenário é um pouco diferente. O balanço entre a oferta e demanda ainda parece desequilibrado, com a demanda se mantendo aquecida mesmo ao final do mês, período sazonal de menor consumo. Com isso, a o frango resfriado passou pela sétima semana consecutiva de valorização, desta vez, com alta de 3,36% no comparativo semanal, fechando a sexta-feira cotada em R$ 8,66/kg.
Já para a carne suína, o mercado ainda opera de forma irregular. As vendas de carcaças e cortes ainda sentem os efeitos da retração de consumo, tanto no varejo quanto no atacado, sem a concretização de grandes volumes de vendas. Com isso, apresentou-se sobra de mercadorias, e a carcaça especial suína passou por desvalorização de -4,42% no comparativo semanal, e fechou cotada em média de R$ 9,60/kg.
A expectativa de melhora no consumo, está com a chegada do início do mês de setembro, com consequente recebimento dos salários e também com o feriado do dia 7 de setembro (Dia da Independência do Brasil), que podem estimular o consumo de carne bovina. Enquanto isso, para os próximos dias, o mercado deve continuar “minguado”, até o final do mês.
3. A compra do pecuarista
O mês de agosto encerrou com o segundo pior patamar de relação de troca boi/milho desde junho/16. O movimento da arroba do boi gordo colaborou com este resultado de piora do poder de compra para o pecuarista, o preço médio de agosto da arroba do boi gordo em São Paulo foi de R$ 315,14/@, recuo de 1,08% sobre o preço médio do mês anterior.
A saca do milho encerrou o mês de agosto/21 com preço médio de R$ 98,97/sc em Campinas/SP, preço médio mensal superior em 1,72% sobre o mês de julho/21 e o segundo mais valor médio mensal de toda série histórica.
Na última semana ficou evidente uma maior movimentação no mercado do milho trazendo movimento de recuo de 2,1% no preço da saca do cereal em Campinas/SP, que encerrou a última semana do mês no preço médio de R$ 97,38/sc. Durante o mês de setembro é esperado novos recuos, mas o preço deve se estabilizar e oscilar no intervalo entre R$ 95,00 e R$ 100,0/sc durante o final de 2021 e início de 2022.
O cenário futuro para os preços do cereal não está definido devido à produção de milho 1ª safra, mesmo com o plantio já iniciado nos estados do RS e SC, as projeções iniciais não são de aumento expressivo da área plantada no Brasil, que associada à ocorrência de La Niña traz dúvidas sobre a oferta de milho a partir de março 2022 especialmente para as regiões Sul e Sudeste que são as principais produtoras do milho 1ª safra e estão susceptíveis aos efeitos do fenômeno climático.
Fonte: Agrifatto;