Um estudo realizado pela Serasa Experian em junho aponta que 15,9% dos produtores rurais de Estados com produção agrícola expressiva estão com as contas atrasadas. O levantamento abrangeu 95 mil agricultores de Goiás, Mato Grosso, Mato Grosso do Sul, Paraná, Rio Grande do Sul, Santa Catarina e Tocantins. O porcentual do setor é bem inferior ao verificado em relação à população adulta destas regiões, de 37,7%. Somente em Tocantins a inadimplência dos agricultores é um pouco superior à dos demais moradores.
Em Mato Grosso, 23,5% dos produtores estão inadimplentes, ante 47,7% da população adulta em geral; em Goiás, a inadimplência entre agricultores chega a 28%, abaixo dos 40,2% das pessoas adultas; em Mato Grosso do Sul, os porcentuais de produtores e população adulta com contas atrasadas é de 16,1% e 41,8%, respectivamente; no Paraná, 13,5% e 37,1%; no Rio Grande do Sul, 11,3% e 35,2%; Santa Catarina, 17,5% e 33,2%; e Tocantins, 43,5% e 41,5%.
Na avaliação do economista da Serasa Experian, Luiz Rabi, a menor inadimplência de produtores em comparação com a população adulta pode ser reflexo do melhor desempenho do setor durante a pandemia de covid-19. “O agronegócio continuou gerando empregos e renda neste período, contando também com preços favoráveis à comercialização de seus produtos, por isso os ganhos dos produtores se mantiveram ou até cresceram, fazendo com que muitos conseguissem pagar contas e evitar a negativação”, disse ele em nota.
A exceção é Tocantins, onde 64,4% dos trabalhadores do campo têm renda mensal de até R$ 2 mil, conforme a Serasa. “Mais da metade dessas pessoas têm ganhos muito baixos, se compararmos com os demais Estados analisados. Com o aumento dos insumos, contas básicas e a taxa de juros, fica mais difícil manter o orçamento doméstico em ordem e a inadimplência aumenta”, explica Rabi.
O Paraná tem o menor porcentual de produtores com renda mensal de até R$ 2 mil (25,5%). Na sequência estão Santa Catarina (29,3%), Mato Grosso do Sul (31,8%), Mato Grosso (32,0%), Goiás (33,3%) e Rio Grande do Sul (51,2%).
A maior taxa de inadimplência foi observada em agricultores com renda de R$ 2 mil a R$ 4 mil, enquanto se verificou queda significativa dos atrasos nos pagamentos entre produtores com ganhos mensais superiores a R$ 10 mil. Neste caso, a maioria, em todos os Estados analisados, pontuou entre 600 e 700 pontos, conforme a metodologia da Serasa, o que é positivo. Somente em Tocantins 72,0% dos produtores teve menos de 600 pontos.
“O maior desafio para o setor é aumentar essa pontuação, para que o acesso ao crédito seja facilitado, com condições e prazos maiores”, afirma Rabi.
O estudo avaliou, ainda, a inadimplência de agricultores por faixa etária, e identificou que há uma redução entre aqueles com idade a partir dos 41 anos até 60 anos. Estes são os que menos deixam de honrar compromissos financeiros (apenas 14,1% dos que têm essa idade).
Os principais inadimplentes tem de 31 a 40 anos (20,7% do grupo). Rabi lembrou que a Serasa Experian realizou recentemente um estudo em parceria com o Ibope Inteligência e o Instituto Paulo Montenegro, que mostrou que as experiências vividas ao longo da vida influenciam como o consumidor lida com as finanças, “o que pode indicar o porquê de os produtores idosos deverem menos”.
(AE)