Yago Travagini é economista e consultor de mercado pela Agrifatto
Stefan Podsclan é engenheiro agrícola e consultor de mercado pela Agrifatto
Jéssica Huescar é médica veterinária e trainee pela Agrifatto
Antônio Costa é estagiário pela Agrifatto
Resumo da semana:
O mercado físico do boi gordo continua morno, com preços praticamente estáveis nas principais praças do país. No estado de São Paulo, o animal pronto para o abate fechou a semana a um valor médio semanal de R$ 317,07/@, avançando 0,31% em comparação a semana passada. Com uma demanda interna retraída o período se encerra com as escalas se alongando nos frigoríficos paulistas, as indústrias, que operam com capacidade reduzida, encontraram um ponto “ótimo” em que o equilíbrio da oferta e demanda mantêm os preços estáveis.
Apesar do cenário de um possível início de inversão do ciclo pecuário, houve uma correção nos preços praticados pelo bezerro em Mato Grosso do Sul, que voltou a se valorizar após 3 semanas em queda. O animal foi negociado na média de R$ 2.849,17/cabeça durante a última semana, avançando 1,60% no comparativo semanal.
Com o relatório divulgado pelo USDA na última quinta-feira (12/08), o preço do milho em Chicago finalmente encontrou força para superar os US$ 5,60/bu e fechar a semana com valorização de 2,34%, ficando cotado a US$ 5,68/bu. O USDA revisou para baixo a estimativa de produção de milho nos EUA de 385,19 milhões de toneladas para 374,65 milhões de toneladas, abaixo das expectativas do mercado, resultando assim na mais intensa valorização do cereal nos EUA dos últimos 30 dias.
Com mercado de exportação aquecido, o preço pago pelo suíno vivo aumentou nos últimos dias, enquanto os preços no atacado recuaram, o animal foi vendido pelos produtores na média de R$ 7,28/kg, alta de 1,51% na semana. Cabe a ressalva de que no atacado, tanto a proteína suína quanto o frango resfriado têm demonstrado um bom desempenho, diferentemente da carcaça bovina, fato que poderia significar uma possível evolução futura da proteína bovina.
1. Na tela da B3
E vamos para 38 dias consecutivos em que o preço do boi gordo para outubro/21 não se movimenta para além dos R$ 320-329,00/@ na B3.
Ainda que a semana tenha se iniciado com as máximas do vencimento futuro ultrapassando os R$ 326,00/@, a falta de novidades voltou a demonstrar o seu “poder” de não demandar nenhuma força ao mercado de boi gordo na B3. E, desta forma, sem nenhuma força, seja compradora ou vendedora, o vencimento para outubro/21 encerrou a semana cotado a R$ 322,90/@, recuando 0,87% frente os valores de fechamento da sexta-feira passada.
Como pode ser visto abaixo, após atingir a mínima de R$ 312,55/@ ao fim do mês de junho/21, o contrato para outubro/21 do boi gordo na B3 não conseguiu emplacar uma tendência. Desde então, o Índice de Força Relativa referente a 9,14 e até o de 25 dias não atingiu em nenhum momento as posições sobre compradas (acima de 70) ou sobre vendidas (abaixo de 30).
Fonte: Agrifatto; B3;
A paradeira do mercado físico auxilia nesta calmaria dos contratos futuros, enquanto os operadores não enxergarem uma tendência definida, seja de alta ou de baixa, para o boi gordo, ainda observaremos os preços vagando entre os R$ 320,00-330,00/@ na B3. Visualizamos que na atual situação apenas a real “volta” da demanda interna é que pode mexer com esse mercado em 2021.
1.1. O que o mercado futuro proporciona?
Sem grandes movimentações, não há justificativas para novos posicionamentos de curto prazo, desta forma, ressaltamos o que havíamos dito no relatório da semana passada:
“Ainda enxergamos a capacidade de valorização de todos os vencimentos do último quadrimestre de 2021, em especial o outubro/21 e o novembro/21. A exposição a essa possibilidade continua a poder ser feito através das opções, e visualizamos as CALLs e suas operações estruturadas como as que fazem mais sentido neste momento (considerando as opções). Sendo que tanto a CALL SPREAD (compra de uma CALL financiada por outra CALL) quando a operação de COLLAR (Compra de uma CALL financiada pela venda de uma PUT) se mostram interessantes e com custos relativamente “baratos” comparada as CALLs secas.
Apenas para elucidar, é possível fazer uma COLLAR com uma CALL com strike nos R$ 335,00/@ a um custo médio de R$ 0,95/@, financiada pela venda de uma PUT com strike nos R$ 315,00/@. Cabe ressaltar que essa operação irá exigir caixa necessário para cobrir os ajustes diários e a margem, por isso, envolve mais riscos que a CALL Spread listada na semana passada.
E também como listamos na semana passada, a compra de futuros também se mostra como uma operação interessante, com o físico variando próximo aos R$ 315,00/@ segundo o indicador Cepea, oportunidades de entrada no BGIV21 na casa dos R$ 322-323,00/@ poderão surgir, e seriam bons valores de entradas.”
No entanto, há um movimento que continua se destacando: a queda da volatilidade implícita das opções de boi gordo. Para aqueles mais conservadores, é possível estabelecer travas nos R$ 310,00/@ para o mês de outubro/21 a um valor médio de R$ 2,98/@.
No médio prazo, a liquidez que a B3 tem oferecido para os contratos futuros de boi gordo ainda é ínfima, há 3 contratos em aberto para maio/22 e 5 para outubro/22, dificultando a operação para esses meses. No entanto, para aqueles que já detêm os custos estabelecidos para esses animais, o lançamento de ofertas de venda próximos aos R$ 320,00/@ pode ser interessante.
2. Enquanto isso, no atacado…
Com a chegada da segunda quinzena do mês de agosto/21, o mercado já se prepara para a redução do consumo da proteína bovina. E, diante disso, o volume de mercadorias disponibilizadas para reposições de estoque já foi menor do que a semana passada. No entanto, ainda assim lida-se com sobras de produtos no varejo, causando uma intensa queda de braço entre distribuidores e frigoríficos.
Ainda assim, a carcaça bovina casada chega ao fim da segunda semana de agosto/21 com uma leve valorização de 0,56% no seu preço médio, ficando cotada a R$ 19,72/kg.
Para o frango resfriado, as vendas no interior paulista foram consideradas normais. A procura pela proteína aumentou, dando sinais de que um processo de recuperação de poder de compra possa estar acontecendo nas terras paulistas. Com a oferta firme e demanda tanto interna quanto externa aquecidas, o preço da do frango resfriado fechou a semana cotada em média R$ 7,90/kg, com valorização de 5,42% no comparativo semanal.
O mercado da proteína suína segue mais estabilizado. Com a oferta e demanda estabilizada, os participantes desta cadeia estão de olho na movimentação chinesa para novas compras de proteína suína. Com isso, a carcaça especial suína quase não apresenta reajustes significativos, fechando a semana cotada em média R$ 10,10/kg, com desvalorização de -0,44% no comparativo semanal.
Caminhando para a próxima quinzena do mês de agosto, momento que termina a euforia e o consumo de carne bovina costuma reduzir, porém com espaço para uma leve reação do mercado conforme a vacinação do COVID-19 avança e os estabelecimentos comerciais vão voltando a normalidade, com isso, o mercado ainda pode permanecer firme nos próximos dias.
3. No mercado externo
As exportações de carne bovina in natura desaceleraram na última semana, foram 43,86 mil toneladas embarcadas, 24,02% a menos no comparativo semanal. A primeira quinzena do mês se encerrou com uma média diária de embarque em 10,15 toneladas/dia, avanço de 30,71% ante o mesmo período em 2020.
O preço pago pela proteína bovina brasileira recuou 0,23% nos últimos cinco dias úteis, a tonelada foi comercializada na casa de US$ 5,53 mil. Nesse período, foi arrecadado um montante de US$ 242,02 milhões com as vendas externas, totalizando US$ 562,29 milhões durante os 15 primeiros dias de agosto/21, valor correspondente a 85,96% de todo o mês no ano passado.
As vendas externas do milho quase dobraram durante a última semana, com volume 97% superior no comparativo semanal, 1,41 milhões de toneladas do cereal deixaram os portos brasileiros. Até o momento, agosto/21 totaliza 2,13 milhões de toneladas exportadas, volume 28,3% inferior ao mesmo período de 2020. A receita obtida durante a primeira quinzena do mês corrente ficou em US$ 427,46 milhões, valor que corresponde a 42,9% de todo agosto/20.
As importações também continuam em ritmo acelerado, nos últimos cinco dias úteis 34,01 mil toneladas de milho chegaram a território nacional, avanço de 65,6% no comparativo entre as semanas. O montante desembolsado nas negociações da última semana ficou na média de US$ 7,94 milhões, consolidando US$ 13,51 milhões na primeira quinzena do mês e superando em 49,4% o montante de agosto/20.
A primeira metade de agosto registrou 3,58 milhões de toneladas exportadas, somente a 2ª semana de agosto foram 2,2 milhões de toneladas, um avanço expressivo de 60,1% sobre a semana anterior. A média dos embarques ficou na casa de 358,95 mil ton/dia, o ritmo de embarque é 29,2% superior ao mesmo período em 2020.
O preço pela soja brasileira embarcada está praticamente estável em US$ 472,30/ton. A receita obtida com as comercializações externas da oleaginosa ficaram na casa de US$ 1,04 bilhões durante a última semana, totalizando US$ 1,69 bilhões na primeira quinzena do mês corrente, valor 72,5% superior comparado ao mesmo período em 2020.
4. A compra do pecuarista
Chegamos à metade do mês de agosto com a relação de troca entre boi gordo e milho registrando melhora de 1%, praticamente estável em relação semana anterior, com o pecuarista conseguindo adquirir 3,18 sacas de milho com uma @ de boi gordo vendida.
O preço do cereal registrou ligeiro recuo de 0,8% no preço médio semanal, mas está estabilizado nos níveis de R$ 100,00/sc em Campinas/SP, já boi gordo em São Paulo registrou sútil melhora no preço médio semanal que foi de R$ 317,03/@.
Os preços futuros do cereal foram os vilões da semana e colaboraram para deteriorar levemente as relações de troca futuras já pressionadas. Enquanto os futuros do cereal voltaram a superar o patamar de R$ 100,00/sc, os do boi gordo permaneceram estáveis e levaram as relações de troca para níveis próximos de 3,2 sc/@.
No curto e médio prazo não há nenhuma sinalização de redução dos preços do cereal, que devem se manter nos níveis de R$ 100,00/sc com possibilidade de superar os níveis de R$ 105,00/sc dependendo exclusivamente do comportamento da demanda.
Fonte: Agrifatto;
O poder de compra do pecuarista em relação ao farelo de soja registrou ligeiro recuo nessa 2ª semana de agosto. O preço médio da arroba em R$ 316,05, recuando 0,6% no comparativo com o mês de julho/21 e a elevação dos preços do farelo na última semana foram os agentes dessa redução da relação de troca para 3,05 toneladas farelo por boi gordo de 20@.
A valorização nos preços da soja registrada na última semana influenciou os valores do farelo, elevando o preço médio da semana para níveis próximos de R$ 2.130,00/ton em Rio Verde/GO. O preço médio do derivado para o mês de agosto é de R$ 2.075/ton e 1% superior ao preço médio registrado em julho. O dólar nos patamares de R$5,25 também influenciou no movimento dos preços.
Para o curto-médio prazo o mercado da oleaginosa está de olho na safra dos EUA, que por consequência, influencia os preços da mesma no Brasil. Com a redução na estimativa de safra nos EUA trazendo uma expectativa de valorização nos preços da soja, é esperado que os preços do farelo de soja tenham o mesmo comportamento mesmo diante da demanda interna morna e dos bons estoques do derivado nas indústrias brasileiras.
Fonte: Agrifatto;
5. O destaque da semana
Na última quinta-feira (12/08), o IBGE divulgou os resultados preliminares da Pesquisa Trimestral do Abate de bovinos no Brasil. Foram abatidos 7,07 milhões de cabeças durante o segundo trimestre de 2021, um avanço de 7,72% ante o primeiro trimestre desse ano. No entanto, traçando um comparativo com o mesmo período de 2020 observamos um recuo de 4,53%.
Além disso, vale destacar que este é o menor volume de bovinos abatidos em um segundo trimestre desde 2011, quando 7,06 milhões de animais foram encaminhados para a linha de abate.
Este recuo destaca de maneira ainda mais intensa o momento vivenciado pela pecuária de corte brasileira no que diz respeito ao ciclo pecuário. Ainda que os resultados completos não tenham sido divulgados, a expectativa é de que as fêmeas tenham atingido um nível de participação sobre o total de bovinos abatidos no menor patamar dos últimos 10 anos.
Fonte: IBGE;
A oferta só não é tão escassa pois o processo de aumento de produtividade da pecuária de corte brasileira continua a acontecer de maneira intensa. Isso por que a quantidade média de carcaça gerada pelos bovinos abatidos no segundo trimestre de 2021 ficou em 17,64 arrobas, 2,72% acima do mesmo período de 2020 e o maior resultado da história. Desta forma, a produção recuou “apenas” 1,93% no comparativo anual, estabelecendo-se em 1,87 milhão de toneladas.
Um fato interessante a ser destacado é que esses números destoam completamente do discurso de “escalas alongadas” que os frigoríficos do país falam atualmente. O que estamos observando aparentemente é uma adequação das unidades frigoríficas a nova realidade de demanda interna e oferta restrita que o mercado propõe
6. E o que está no radar?
Se a uma semana acreditávamos que o mercado finalmente iria engatar a segunda marcha e iria acelerar para cima dos R$ 325,00/@, os dados dos últimos dias da semana passada não foram tão animadores.
As escalas dos frigoríficos paulistas voltaram a se alongar, e com isso, a possibilidade de valorização da arroba nos próximos dias foi interrompida. Além deste alongamento das escalas, destaca-se também a queda no desempenho das vendas da carcaça bovina no atacado paulista. O otimismo com a chegada do dia dos pais deu lugar a um volume de vendas fraco e os varejistas não aceitando novos reajustes.
Desta forma, com um mercado interno ainda depressivo, o boi gordo ainda deve enfrentar dificuldades para se valorizar, visto que as indústrias frigoríficas estão trabalhando bem alinhadas junto a demanda interna. A tendência natural para o preço nos próximos dias continua a ser de estabilização dentro do patamar de R$ 315,00 – 325,00/@, a perspectiva de alta é assim “empurrada” para a semana final de agosto/21 ou a primeira quinzena de setembro/21.
Agrifatto