Yago Travagini é economista e consultor de mercado pela Agrifatto
Stefan Podsclan é engenheiro agrícola e consultor de mercado pela Agrifatto
Jéssica Huescar é médica veterinária e trainee pela Agrifatto
Antônio Costa é estagiário pela Agrifatto
Resumo da semana:
Mesmo com o alongamento das escalas de abate para o maior nível dos últimos dois anos, o preço do boi gordo permanece firme, mas desanimado. O valor médio do animal ficou em R$ 318,19/@ na última semana, 0,03% abaixo do que fora visto na semana retrasada. Com isso, esta foi a oitava semana consecutiva em que a cotação do boi gordo ficou entre os R$ 315,00/@ e R$ 320,00/@ no estado de São Paulo, desta forma, o preço médio de julho/21 ficou em R$ 318,62/@, apenas 0,43% acima do que fora registrado em junho/21.
O bezerro acumulou novas perdas na semana em Mato Grosso do Sul. A maior oferta da reposição associada a perdas de qualidade pastagens nas principais regiões pecuárias do país, continuam a contribuir para a queda de preços do animal, que foi negociado em média a R$ 2.888,26/cab na última semana, emplacando assim a segunda semana consecutiva de desvalorização e o menor valor médio semanal desde a 2ª semana de março/21.
E o farelo de soja continua com dificuldades em engatar uma alta no mercado interno brasileiro. Após registrar valorização na semana retrasada, aguardava-se que o mercado do farelo iria entrar novamente em uma onda de alta, no entanto, a última semana foi marcada por uma queda de 2,86% no preço do proteinado, que encerrou o período cotado a R$ 2.032/t, o menor valor desde o início de julho/21.
Após nove semanas, em um movimento que era considerado inesperado até um mês atrás, o preço do milho fechou a última semana acima dos R$ 100,00/sc. Com um valor médio de R$ 101,60/sc, a cotação do cereal chegou ao maior valor desde a 3ª semana de maio/21, sendo essa a quinta semana consecutiva de alta do milho. A chegada de mais uma frente fria e os agricultores sem “pressa” de fechar novos negócios fez com que os preços do cereal continuassem a sofrer pressão por novas altas.
1. Na tela da B3
Mais uma semana de pouca movimentação do boi gordo na B3. Tanto o preço quanto o volume de negociações realizadas permaneceram estáveis. O vencimento para outubro/21 encerrou a semana cotado a R$ 325,10/@, valorizando 0,96% no comparativo semanal. Apesar da alta, nota-se que o mercado futuro continua sem um sinal de tendência definido.
E como salientado, não só o preço continua “parado”, o volume de contratos (futuros + opções) permaneceu praticamente o mesmo dá semana retrasada. Até o fim da última quinta-feira (29/07/2021) pouco mais de 85,11 mil contratos de boi gordo estavam em aberto, apenas 0,06% a mais do que na semana retrasada.
A paradeira é geral até mesmo entre os operadores de mercado, já nos encaminhamos para a 3ª semana consecutiva sem mudanças de posicionamentos dos players do mercado. As Pessoas Físicas ainda sustentando uma posição comprada em contraste com os Investidores Institucionais detendo uma grande posição vendida.
O encerramento do contrato para julho/21, que aconteceu na última sexta-feira, marca a entrada nos vencimentos que historicamente a remuneração pelo boi gordo são maiores. Ainda assim, os ágios oferecidos para esses vencimentos (agosto/21 – setembro/21 – outubro/21 – novembro/21) não estão nada atrativos para os produtores que se interessem fazer novas vendas. Fato é que a B3 está desanimadora para a ponta vendedora neste momento.
Fonte: Agrifatto; B3;
1.1. O que o mercado futuro proporciona?
Com a volatilidade recuando a níveis mais “aceitáveis”, as opções vão ficando mais atrativas. No entanto, as possibilidades que o mercado futuro oferece nesta semana não são muito melhores do que observamos na semana retrasada.
A junção das alternativas oferecidas pela B3 e de análise de mercado ainda nos faz acreditar que a posição mais interessante a ser assumida neste momento para o curto prazo (outubro/21) é a compra. No caso das opções, visualizamos as CALLs e suas operações estruturadas como as que fazem mais sentido neste momento. Sendo que tanto a CALL SPREAD (compra de uma CALL financiada por outra CALL) quando a operação de COLLAR (Compra de uma CALL financiada pela venda de uma PUT) se mostram interessantes e com custos relativamente “baratos” comparada as CALLs secas.
Apenas para elucidar, é possível fazer uma COLLAR com uma CALL com strike nos R$ 335,00/@ a um custo médio de R$ 0,97/@, financiada pela venda de uma PUT com strike nos R$ 315,00/@. Cabe ressaltar que essa operação irá exigir caixa necessário para cobrir os ajustes diários e a margem, por isso, envolve mais riscos que a CALL Spread listada na semana passada.
E também como listamos na semana passada, a compra de futuros também se mostra como uma operação interessante, no entanto, com um delta de risco-retorno menor, afinal o mercado já escalou dos R$ 321,00/@ na semana passada para os R$ 326,00/@.
Cabe ressaltar que os primeiros negócios nos vencimentos para 2022 foram feitos, e, as referências rompem os R$ 320,00/@. Para aqueles que já detêm o custo dos animais que serão entregues em maio/21, e enxergam em tal preço uma boa rentabilidade, a trava via venda de futuros já deve começar a ser ventilada.
2. Enquanto isso, no atacado…
Motivados pela expectativa de recuperação no comércio varejista na primeira quinzena de agosto, o mercado atacadista apresenta uma perspectiva altista, na esperança de uma melhor demanda pela proteína bovina e consequente evolução no escoamento da mesma no mercado interno. Enquanto isso, a carcaça casada bovina, fechou a última semana de julho/21 cotada a R$ 19,67/kg, com desvalorização de -1,05% no comparativo semanal.
As vendas de frango resfriado e seus cortes em São Paulo apresentaram baixos volumes de comparada a semana anterior, com isso, os distribuidores recusaram novas entregas e forçaram compras a patamares menores. Desta forma, o frango resfriado fechou a semana recuando 0,41% no comparativo semanal, cotado a R$ 7,47/kg.
Para o mercado da proteína suína, há boa procura pelos cortes no comercio atacadista paulista, porém, com volumes mais retraídos em comparação a semana anterior. O preço da carcaça especial suína, fechou então a semana cotada em média de R$ 10,08/kg, valorizando 2,19% no comparativo semanal.
Com o recebimento dos salários na primeira semana de agosto/21, redução das restrições no estado de São Paulo e dia dos pais no domingo, grandes expectativas estão sendo depositadas para melhora no volume de vendas e preços mais aquecidos.
3. No mercado externo
A última semana de julho/21 se encerrou com uma queda no volume das exportações de carne bovina in natura, foram 35,79 mil toneladas embarcadas no período, recuo de 13,25% no comparativo semanal. Ainda assim, o mês finalizou-se com o melhor resultado diário da história para um mês de julho, foram 7,56 mil toneladas/dia, 2,70% acima de julho/20, levando o Brasil a um total exportado de 166,29 mil toneladas, o melhor resultado de 2021.
Com o preço pago pela tonelada atingindo um dos maiores valores da história, US$ 5,43 mil/t, o avanço anual sobre o faturamento foi muito maior. Foram US$ 902,60 milhões, 36,58% a mais do que no mesmo período do ano passado e também o melhor resultado de 2021. Desta forma, damos boas-vindas ao segundo semestre de 2021, período de exportações sazonalmente mais aquecidas.
Na última semana de julho/21 foram embarcadas 862,175 mil toneladas de milho, volume 44,35% superior à 3ª semana do mês. Com uma média diária de 90,15 mil toneladas carregadas nos navios, o volume preliminar de milho brasileiro é de 1,98 milhões de toneladas em julho/21, quantidade que corresponde a 49,8% do volume exportado em julho/20. O preço médio do cereal exportado foi de US$ 203,9/ton e a receita preliminar para o mês de julho é de US$ 404,32 milhões com as exportações do milho, valor correspondente a 63,84% de julho/20.
Durante todo o mês de julho, 144,31 mil toneladas do produto desembarcaram no país, volume 225,10% superior ao mesmo período em 2020. Em valores, as importações do grão estrangeiro totalizaram US$ 37,25 milhões para o mês, o que corresponde a 444,26% de avanço quando comparado a julho/20.
As exportações de soja registraram 1,64 milhões de toneladas na última semana de julho, volume 12,03% superior ao da 3ª semana do mês. Com uma média diária de 393,89 mil toneladas embarcadas, julho/21 totalizou 8,66 milhões de toneladas exportadas, 12,95% a menos que no mesmo mês em 2020.
A um preço médio de US$ 460,40/ton, as vendas dos últimos dias do mês geraram uma receita de US$ 800,50 milhões, crescimento de 20,74% no comparativo semanal. Assim, o mês encerrou com um montante acumulado de US$3,99 bilhões, avanço de 15,36% quando comparado a julho/20.
4. A compra do pecuarista
A euforia que tomou conta do mercado do milho durante o mês de julho deixou a relação de troca boi-milho em 3,27 sc/@, uma perda de 4,97% no poder compra do pecuarista em comparação ao mês anterior. Considerando os indicadores CEPEA/ESALQ, o cereal registrou um preço médio mensal de R$ 97,30/sc, 5,65% superior ao mês anterior, enquanto a @ do boi gordo valorizou 0,41% no comparativo com junho e encerrou julho com preço médio mensal de R$ 318,56/@.
Com as notícias sobre a viabilidade de importações de milho argentino para a região Sul, é esperado que nas próximas 2-3 semanas o preço do cereal tenha recuos abrindo oportunidades de compra física, mas a tendência é que o mercado se equilibre conforme o cenário atual aponta, com os preços do cereal na B3 indicando níveis acima de R$ 95,00/sc para o 2º semestre de 2021.
Embora as projeções de alta na arroba do boi gordo estão mantidas, os futuros do boi gordo também não sinalizam um cenário positivo para a relação de troca com milho, dificultando, mas não inviabilizando a operação para quem está se programando para a operação de engorda.
Fonte: Agrifatto;
Com o farelo de soja encerrando o mês de julho no preço médio de R$ 2.055,48/ton em Rio Verde/GO, estável no comparativo com junho, a relação de troca entre o derivado e o boi gordo permaneceu no mesmo patamar de junho mesmo com a ligeira valorização mensal da arroba de boi gordo. No curto prazo não há indicações de mudanças significativas nos preços do farelo, mas as oscilações positivas na saca de soja devem trazer momentos de elevação nos preços do derivado.
Fonte: Agrifatto;
5. O destaque da semana
O Departamento de Agricultura dos Estados Unidos (USDA) divulgou nesta quinta-feira (29/07), uma nota relatando a presença do vírus causador da peste suína africana (PSA) em continente americano. O fato ocorreu na República Dominicana e foi confirmado pela Organização Mundial de Saúde Animal (OIE). O país não registrava focos da doença desde 1978, sendo a primeira vez que é detectada nas Américas em 40 anos.
Na Europa, foram registrados vários novos focos da PSA em 2021, principalmente em suínos selvagens. A Polônia, já confirmou a ocorrência da enfermidade em rebanhos domésticos e a doença se alastra. No fim da primeira quinzena de julho/21, os alemães constataram o primeiro caso da doença em animais de fazendas situadas no leste do país, região que faz fronteira com o território polonês. A União Europeia está adotando medidas para controlar a disseminação do vírus, que está presente no leste do continente desde 2014.
A Associação Brasileira de Proteína Animal (ABPA) em conjunto com Ministério da Agricultura (Mapa), estudam medidas preventivas em portos, aeroportos e granjas, afim de evitar a introdução do vírus no Brasil. Desde 1984 não é registrado foco de PSA em território brasileiro.
A chegada do vírus nas Américas acende uma luz amarela no mercado global de proteína animal. Tendo em vista a importância do rebanho suíno norte-americano e brasileiro para o comércio mundial de carnes, uma possível proliferação da PSA em qualquer um desses países poderia causar fortes danos econômicos e um desequilíbrio na oferta global de proteína suína. Vamos acompanhar!