O movimento de importação de milho da Argentina e do Paraguai por indústrias de carnes brasileiras é consistente e deve persistir nos próximos meses, afirma o presidente da Associação Brasileira de Proteína Animal (ABPA), Ricardo Santin. Ele disse que esta tem sido uma estratégia para as empresas garantirem o cereal a preços mais baixos do que os pedidos no mercado doméstico, especialmente após a quebra na safrinha de milho nas regiões mais afetadas pela estiagem e, mais recentemente, pelas geadas.

“As empresas já entenderam que o patamar de preços atual é a nova realidade e que provavelmente o mercado só vai se regular na chegada da segunda safra de 2022. Por enquanto, basta procurar preços mais adequados ou repassar esses custos aos produtos finais”, disse, acrescentando que os preços mais adequados, no momento, se encontram nos países vizinhos.

Até agora, já foram relatadas compras equivalentes a 30 navios carregados com milho da Argentina pela JBS, além de três outros navios que já estariam fechados para a BRF e um adicional para outro grupo frigorífico, comenta Santin. Há, ainda, as compras que chegam ao País por transporte terrestre, com caminhões vindos do Paraguai para o Paraná. “Ouvimos de duas grandes cooperativas paranaenses que fecharam importação de 250 mil toneladas de milho do Paraguai na semana”, segundo o executivo.

Outro fornecedor que entra na lista de avaliação da indústria são os Estados Unidos, uma vez que a tarifa externa comum segue zerada para compra do cereal de países de fora do Mercosul. Contudo, a compra compensa apenas para poucas empresas. De acordo com o presidente da ABPA, existem companhias se preparando para a importação do milho norte-americano, principalmente no Espírito Santo e no Nordeste. Porém, o setor aguarda que o Ministério da Economia e o governo federal acatem o pedido da ABPA para que seja retirada a taxa do PIS/Cofins para pequenos produtores cuja produção é voltada ao mercado local.

Ontem (27), a referência de preço no Porto de Rio Grande para o milho dos EUA estava em R$ 85,00 a saca, para agosto ou setembro, R$ 89,00 por saca para outubro e novembro e R$ 90,00 para dezembro. Esses valores se somam à cobrança do PIS/Cofins. “Com o dólar a R$ 5,16, a compra dos EUA já começa a ser mais viável para os produtores que têm o regime de drawback, mas o milho é mais atrativo no próprio Mercosul”, disse Santin. Ele afirmou, ainda, que não acredita em um descolamento da paridade de preços do interior para os do Porto, a exemplo do que houve no ano passado.

Além das importações de milho, indústrias de carne de frango e suína têm iniciado uma substituição de cereais, com aumento de compras de grãos de inverno, como o trigo, observa o presidente da ABPA. Ele conta ter ouvido relatos de uma única empresa, por exemplo, ter adquirido 35 mil toneladas do trigo argentino para utilizar na engorda de suínos.

Em relação à disponibilidade de milho, Santin diz que “não se está na iminência de escassez do produto”, porém isso não significa que há uma oferta integral. Segundo ele, o que vai definir a estratégia de compra das empresas nos próximos meses são os recortes de preços e oferta locais. O executivo cita como exemplo a produção volumosa de milho no Maranhão, Tocantins e Piauí, mas lembra das perdas em áreas de Mato Grosso do Sul, onde a chegada da massa de ar polar pode acentuar os problemas das lavouras.

O mercado deve monitorar, entretanto, a reação dos produtores de milho com o aumento das importações das agroindústrias brasileiras. “O vendedor que esperava uma JBS chegar nele para pedir mais pela saca e elevar o preço já pode não ter essa oportunidade”, exemplifica ele, ao comentar que, caso a caso, não é descartado um recuo no preço do milho.

“Todas as empresas estão avaliando a situação com cautela. Enquanto isso, nós seguimos pedindo ao governo mais informação e liberdade de exportação e importação. O setor de carnes, assim como o de milho, quer aumentar a produção do cereal para suprir o mercado interno e exportar o excedente”, conclui.

(AE)