Yago Travagini é economista e consultor de mercado pela Agrifatto
Stefan Podsclan é engenheiro agrícola e consultor de mercado pela Agrifatto
Jéssica Huescar é médica veterinária e trainee pela Agrifatto
Antônio Costa é estagiário pela Agrifatto
Resumo da semana:
No mercado físico, o boi gordo se sustenta e encerra a primeira quinzena do mês com valorização. No estado de São Paulo, o animal é vendido na casa dos R$ 321,85/@, avanço de 0,74% no comparativo semanal. Os efeitos das adversidades climáticas no centro-sul do país e a maior oferta do boi gordo terminado em confinamento deixam a indústria com uma certa facilidade para manter as programações de abate.
Nas principais regiões produtoras do país o clima firme favorece a colheita do milho, que deve ser acelerada em agosto. Durante a semana, apenas negociações pontuais para cumprir os contratos, aqueles que conseguem, seguram a produção para especular melhores ofertas futuras. No mercado spot, a restrição da oferta é refletida nos preços que avançam 6,67% no comparativo semanal, a saca do grão é negociada por R$ 97,34 em Campinas/SP.
A soja também avança no mercado físico, alavancada pela valorização em Chicago após previsões climáticas prejudiciais para a produtividade norte-americana. A saca da oleaginosa está sendo comercializada na média dos R$ 170,39 em Paranaguá/PR, avanço de 3,25% no comparativo semanal.
Já o dólar continua a sua montanha russa no mercado. Após a alta da semana retrasada, os preços voltam a cair nos últimos dias devido a apreensão por uma possível inflação dos EUA. A moeda americana se desvalorizou 2,27% frente ao real ao longo da semana e fecha a primeira quinzena do mês sendo liquidado a R$ 5,12.
1. Na tela da B3
Com pouca novidade no mercado, mas sob influência da moeda norte-americana, o boi gordo na B3 registrou movimento de estabilidade durante a semana, dentre os ligeiros altos e baixos. A cotação do boi gordo na B3 para outubro/21 encerrou o último dia da semana valendo R$ 324,25/@, sem variação no comparativo semanal. Com a principal fato da semana divulgado na sexta-feira sobre o caso de PSA confirmado em produção comercial de suínos na Alemanha, o mercado deve acompanhar com maior rigor a situação e o desenrolar da situação o que pode influenciar ligeiro movimento de alta na B3 nas próximas semanas.
Os players de boi gordo na B3 trouxeram menor movimentação nas posições durante a última semana, as posições em futuros e opções somaram 80,785 mil contratos, avanço de 1,92% considerando os dados divulgados pela B3 no dia 15/julho, quinta-feira.
Em uma semana de ajustes de posições, contratos futuros registraram variação positiva de 1,79% o que representa 330 contratos no período. Os maiores destaques são para o avanço das posições compradas de PF’s em 459 contratos e a liquidação de 365 posições de venda de PJ não-financeira.
Já as posições de contratos em opções avançaram 1,95% na e somam um total de 62.061 operações. As operações com PUT’s aumentaram 3% na semana diante do receio de queda nos preços da arroba no curto prazo com Investidores não-residentes e Investidores institucionais fazendo seus ajustes. Os investidores institucionais liquidaram 594 PUT’s enquanto os investidores não residentes adquiriram 330 PUTs’, sendo as maiores movimentações da semana nas operações de opções.
Fonte: Agrifatto; B3;
1.1. O que o mercado futuro proporciona?
O mercado físico segue inalterado sustentado especialmente pela demanda de carne para exportação, já que o mercado interno ainda não trouxe significativa melhora da fluidez nas últimas semanas. A entrada dos animais do 1º giro do confinamento pode trazer ligeiro movimento de recuo nos preços do boi gordo pago ao pecuarista. Embora seja perceptível, acreditamos que esse movimento seja pontual e temporário devido aos custos elevados que atrasaram a decisão do pecuarista sobre sua estratégia de confinamento.
Mesmo que um recuo pontual aconteça, não há sustentação diante da oferta restrita de animais, descartando assim desvalorizações intensas e proteções contra a possibilidade dessas quedas nos preços da arroba.
O momento parece ser mais oportuno para aqueles que necessitam repor seus estoques de animais. Sendo assim, a compra de futuros de boi gordo para outubro/21 na casa dos R$ 330,00/@ aparenta ser uma operação interessante, visto a grande capacidade de tal vencimento romper os R$ 340,00/@ e consequentemente levar a cotação do boi magro conjuntamente. Cabe ressaltar que esse tipo de operação sempre irá exigir um fluxo de caixa maior e por isso, deve se atentar ao caixa da empresa antes de realizar tal operação.
As opções para outubro/21 continuam sem grande atratividade, isto por que as proteções de venda (PUTs) para este mês com um strike de R$ 300,00/@ estão custando algo em torno de R$ 4,82/@. Diante dos altos custos de confinamento e da reposição de animais, tal proteção não se mostra nada atrativa para os pecuaristas. A compra de opção que, diante da análise de mercado, nos parece mais atraente continua sendo a CALL simples, atualmente, a compra de uma CALL para outubro/21 com strike nos R$ 340,00/@ custaria algo em torno de R$ 3,87/@, podendo ser uma boa opção.
Além disso, as CALLs Spreads continuam no radar visto que é possível realizar a compra de uma CALL com strike nos R$ 335,00/@ a um custo estimado de R$ 2,83/@, que seria financiada pela venda de outra CALL nos R$ 350,00/@.
Essas seriam as opções apresentadas pelo mercado atualmente, mas diante da movimentação dos últimos dias e da previsão de “falta de notícias” para os próximos dias, devemos ver a especulação ditando o ritmo do mercado no curto prazo, desta forma, a mensagem que fica é: paciência e solidez de caixa, a mágica da volatilidade das commodities ainda terá espaço.
2. Enquanto isso, no atacado…
Com a diminuição do consumo interno de carne bovina, a movimentação do mercado físico passou por uma perda de ritmo. Devido ao primeiro giro de confinamento, os frigoríficos tiveram uma sutil melhora na oferta de gado e com isso agora se encontram com certo conforto nas suas programações de abate. Isso fez com que o preço da arroba do boi gordo oscilasse em algumas praças pecuárias, fortalecendo a queda de braços entre frigoríficos e pecuaristas que não aceitam preços menores, devido ao alto custo de nutrição dos animais em confinamentos, fechando a maioria das negociações em média de R$ 315,00/@.
O mercado atacadista de carne bovina, ainda opera as suas negociações com mercadorias adquiridas da semana passada. A lentidão de vendas no varejo continua ditando a firmeza dos preços dos principais cortes bovinos que foram comercializados durante a semana. Com isso, a carcaça casada bovina, encerrou a sexta-feira nos mesmos patamares da semana anterior, cotada em R$ 19,98/kg, sofrendo desvalorização de -3% no comparativo mensal.
Com o enfraquecimento da força aquisitiva da grande parte dos consumidores, a proteína de frango se tornou mais atrativa e teve aumento em sua procura. Os frigoríficos, portanto, tentam um reajuste positivo nos preços da carcaça resfriada de frango, na expectativa de boas vendas no final de semana. Assim, os preços para carcaça de frango resfriado fecharam a média semanal em R$ 7,26/kg, valorizando 2,69 % comparado a semana anterior.
O mercado da proteína suína segue operando calmo, com vendas razoáveis. Apesar da procura pela proteína estar aquecendo, a oferta ainda se mantem maior do que a demanda, fazendo com que os preços da carcaça especial suína fechem a semana cotada a R$ 9,38/kg, passando por desvalorização de -1,50%.
As ofertas altas no atacado com lenta concretizações de vendas no varejo, continua travando a maioria dos negócios em São Paulo. A expectativa ainda se firma na possibilidade de melhoras nos negócios. Porém, de modo geral, o mercado tende a preços estáveis olhando a curto prazo.
3. No mercado externo
A primeira quinzena de julho/21 se encerra com um leve recuo nos embarques de carne bovina in natura, a média foi de 7,43 mil toneladas exportadas por dia, 1,77% de queda no comparativo semanal. Nos último 5 dias úteis, 36,24 mil toneladas do produto tiveram destino aos portos, com isso, o mês totaliza 89,23 mil toneladas enviadas, 1,04% a mais que o mesmo período em 2020.
Na última semana, o valor pago pela proteína brasileira avançou 0,67% sendo negociada a US$ 5,39 mil/tonelada. Foi arrecadado um montante de US$ 197,32 milhões com as negociações do período, portanto, a receita do mês corrente com a atividade chegou na casa dos US$ 481,17 milhões, o que corresponde a 69,65% de todo o mês de julho/20.
As exportações do milho brasileiro voltam a ganhar expressão no mercado. Durante última semana foram enviadas aos portos uma média de 43,65 mil toneladas/dia, 98,62% de avanço no comparativo semanal, totalizando 523,90 mil toneladas na primeira quinzena de julho/21. O valor pago pelo produto está na casa dos US$ 221,9/ton, valorização de 5,75%. Com isso o período que compreende os primeiros 12 dias úteis do mês totalizam US$ 116,22 milhões com as negociações, o que corresponde a 18,35% de todo julho/20.
Já as importações do cereal dos últimos cinco dias úteis do mês atual, ficaram na média de 2,6 mil toneladas/dia, 6,82% superior a semana retrasada. Julho/21 totaliza 31,30 mil toneladas que chegaram ao país, 70,51% de todo o mês em 2020, para essas negociações foi desembolsado um montante de US$ 8,58 milhões.
As exportações de soja ganharam força na última semana. Com uma média de 462,53 mil toneladas/dia enviadas aos portos, 18,64% a mais que a semana retrasada, a oleaginosa encerra a primeira quinzena do mês com 5,55 milhões de toneladas embarcadas, 6,86% superior que mesmo período em 2020.
O preço médio pago pelo produto recuou 1,51% no comparativo semanal e está na casa dos US$ 455,20/tonelada. Com isso, as negociações da última semana geraram uma receita de US$ 1,26 bilhões, 40,0% a mais que o mesmo período em 2020, totalizando US$ 2,52 bilhões nos primeiros doze dias úteis do mês.
4. A compra do pecuarista
A colheita avança, mas o mercado não dá trégua, a forte procura pelo cereal combinada com a menor oferta leva a saca do milho para a terceira semana consecutiva de valorização com preço médio semanal de R$ 97,04/sc em Campinas/SP, 2,07% acima do preço médio semanal anterior. Desde o início do mês de julho, o preço da saca de milho registra alta de 8,7% e não sinaliza acomodação ou recuos, embora esses comportamentos não estão descartados especialmente nos estados onde a colheita está mais atrasada.
Com os preços do boi gordo operando próximo da estabilidade, o pecuarista tem ligeiras perdas na relação de troca boi-milho compradas as semanas anteriores, mas as pequenas oscilações positivas nos preços do boi gordo têm colaborado para a estabilidade. Com preço médio semanas de R$ 320,05/@ em São Paulo e 0,5% acima da semana anterior, a valorização da arroba do boi não acompanha a elevação dos preços na saca do cereal
No mercado futuro as cotações também tem poucas alterações com pouco impacto na relação de troca. Com os contratos futuros de milho indicando níveis entre R$ 95,00 e R$ 99,00/sc, o desenho para o restante do ano vai depender mais da valorização dos preços do boi gordo, uma vez que não nenhuma sinalização do mercado em recuos no preço do cereal. É o cenário que temos apontado desde meados de abril, está difícil para o pecuarista que não se programou.
Fonte: Agrifatto
5. O destaque da semana
A confirmação na Alemanha do primeiro caso de Peste Suína Africana (PSA) em uma granja de produção comercial de suínos, passa a mensagem sobre a dificuldade das autoridades no controle da enfermidade. O país é o principal produtor e fornecedor de carne suína para o continente europeu e um possível aumento nas notificações na Alemanha combinada com uma possível dificuldade de controle da PSA no continente europeu pode ajudar a fortalecer a demanda internacional por proteínas de origem animal, a princípio não na mesma magnitude do que aconteceu na China, mas deixa todo o mercado de proteínas apreensivo de forma geral quanto à oferta e demanda de carne frente à confirmação de novas contaminações que devem vir a surgir.
A China convive com focos pontuais de PSA, embora não seja amplamente divulgado, o país tem adotado maior rigor em questões relacionadas a sanidade das criações no seu país para que a mesma cause novos estragos na produção local de suínos que está em recuperação e consequente oferta de carne para sua população.
6. E o que está no radar?
A safra de soja e milho norte-americana entrou no período crítico de dependência das boas chuvas e temperaturas para a definição das produtividades. O comportamento no clima nos próximos 60 dias vai orientar o comportamento dos preços da soja e do milho em Chicago. A princípio a forte onde calor que atinge os EUA e sua continuidade nas próximas 2 semanas é a maior preocupação do mercado, que também vem monitorando a probabilidade de redução das chuvas no mesmo período. Esse período crítico deve ser o definidor de preços das duas commodities para a temporada 21/22.
Do lado da carne bovina o mercado aguarda desdobramentos e novidades referentes ao caso de PSA identificado na Alemanha e seus impactos num possível aumento da demanda de carnes para exportação, da mesma forma permanece avaliando o comportamento do consumo local de carne bovina, além da sinalização de aumento de animais prontos para o abate oriundos do 1º giro do confinamento.