Lygia Pimentel é médica veterinária e consultora pela Agrifatto
Gustavo Machado é engenheiro agrônomo e consultor pela Agrifatto

O consumo interno ainda segue relativamente lento, limitando altas mais expressivas. Mas a expectativa do mercado para 2018 é de ampliação da demanda por carne bovina, com pressão positiva aos preços.

Os pontos que serão aqui abordados e que oferecem essa perspectiva são:

  • Poder de compra da população (influenciada, por exemplo, pela taxa de desemprego; evolução do rendimento médio mensal e menor corrosão dos salários pelos níveis de inflação);
  • Influência política (perfil dos candidatos e financiamento de campanha);
  • Projeção para o consumo per capita de carne bovina.

    1. Poder de compra da população

A taxa de desemprego no Brasil ainda deve seguir relativamente alta em 2018, já que o aumento do número de pessoas empregadas seguirá na esteira da recuperação econômica.

A questão é que o desemprego deve manter sua curva negativa, alcançando no segundo semestre os níveis do início de 2016 (gráfico 1).

Gráfico 1.
Taxa de desocupação e projeção para 2018 (%).

Fonte: IBGE / Agrifatto

Junto ao gradual aumento da proporção de pessoas empregadas, avança também o rendimento médio da população brasileira, cuja projeção indica alta real de 4% entre 2016 e 2017, com estimativas de variação positiva ao redor de 2,25 p.p. este ano ante 2017 (gráfico 2).

Gráfico 2.
Evolução do rendimento médio mensal do trabalho principal no Brasil.

Fonte: IBGE / Agrifatto

E apesar da taxa de endividamento das famílias brasileiras ainda se manter em níveis altos, terminando 2017 acima de 60%, a proporção de contas em atraso registra-se em curva negativa com a intenção de consumo subindo, outra evidência de que o estrago foi grande, mas que o pior já passou.

Por fim, adiciona-se ainda o controle da inflação (medida pelo IPCA), atualmente abaixo do centro da meta, que continua em 4,5%. De acordo com último boletim FOCUS do Banco Central do Brasil (26.02.2018) o IPCA em 2018 está previsto em 3,75%.

A inflação melhor controlada diminui a corrosão dos salários, estimula o consumo e possibilitou forte retração da taxa Selic.

Ao mesmo tempo, o processo descrito acima, além de aquecer a economia também favorece aceleração da inflação, portanto, conforme o índice de preços retorne ao nível de 4,5% estabelecido como meta pelo Banco central, espera-se reajustes positivos para a taxa Selic.

            2. Influência política

Ainda é cedo para afirmar quais serão os candidatos que disputarão a corrida eleitoral e suas chances de vitória, mas o fato é que há boa possibilidade de eleição de um candidato com perfil alinhado às responsabilidades fiscais e, portanto, reformistas.

Outro ponto importante neste contexto se dá pelo novo sistema de financiamento de campanha.

Após o Supremo Tribunal Eleitoral (STF) proibir as doações de campanha, os recursos virão de resolução aprovada pelo Tribunal Superior Eleitoral (STF) por meio do fundo eleitoral orçado em R$ 1,7 bilhão, e adicionando-se mais recentemente a possibilidade de utilização do fundo partidário de R$ 888 milhões.

Portanto, o financiamento de campanha por meio dos fundos totaliza o montante de R$ 2,6 bilhões, o que já representa sozinho 51% do financiamento total da campanha de 2014, a mais cara da história.

O dinheiro que será pontualmente injetado na economia colabora com a hipótese de aumento do consumo, especialmente a partir do segundo semestre.

A questão é que talvez esse fator ainda não tenha sido precificado nos mercados futuros, atualmente em torno de R$ 150,00/@, considerando a média dos vencimentos. Portanto, dependendo do ritmo de recuperação econômica e confirmando-se o melhor consumo interno, os preços futuros ainda podem ser influenciados positivamente.

             3. Projeção para o consumo per capita de carne bovina

Sabidamente, a crise econômica trouxe mudanças nos hábitos de consumo, e a carne bovina perde espaço para os bens substitutos.

E assim o consumo per capita recuou 15,50% entre 2013 e 2016. Parte dessa queda já foi recuperada em 2017, quando o consumo subiu 6,80%, e espera-se que a curva positiva se mantenha este ano e retorne a patamares acima de 40 kg/hab/ano, reaproximando-se do nível registrado em 2013.

Gráfico 3.
Evolução do consumo per capita de carne bovina no Brasil (kg/hab/ano).

Fonte: Agrifatto

A tendência positiva para o consumo interno associada à expectativa de bom desempenho das exportações colabora em sustentar os preços pecuários. A perspectiva de aumento da demanda interna fica em torno de 8% e do volume de exportação próximo a 5%.

Portanto, analisando-se as variações de preços entre abril e outubro em anos eleitorais, quando há fortalecimento do consumo interno, temos como exemplo três simulações: