Gustavo Machado é consultor de mercado pela Agrifatto
Como já era esperado, o feriado de Carnaval reduziu expressivamente o volume de negociações de bovinos terminados, reduzindo as programações de abates que começaram a ser refeitas com maior volume apenas na última sexta-feira.
Mas a expectativa de melhor escoamento de carne no início do mês permitiu alta do preço da carcaça casada bovina no atacado.
O seu preço subiu 1,60% na comparação semanal, com a média em São Paulo passando de R$ 9,65/kg para a última cotação de R$ 9,80/kg. Além disso, o produto já acumula alta de 6,00% desde o início de fevereiro, melhorando o spread carcaça/arroba e fazendo-o voltar a trabalhar em campo positivo.
Isso ocorreu devido à estabilidade do preço do boi gordo em São Paulo, com referência de preços em torno de R$ 146,50/@ à vista e livre de Funrural, enquanto que a média dos preços para Goiás, Minas Gerais e Mato Grosso do Sul registraram recuo dos preços entre R$ 1,00 e R$ 2,00 por arroba no mesmo período.
O fato é que nesta segunda metade do mês a tendência é de desaceleração para o consumo interno conforme dilui-se o efeito do recebimento dos salários no início do mês, e mesmo com as escalas reduzidas, as indústrias devem ser comedidas nas novas compras, limitando assim qualquer alta mais forte neste momento.
Porém, como de maneira geral as indústrias exibem escalas encurtadas e a disponibilidade segue justa (as condições dos pastos permitem reter o animal por mais tempo), os preços também encontram suporte importante.
Portanto, estabilidade é o cenário atual mais comum observado na maioria das praças.
Ademais, o gráfico 1 ilustra a variação porcentual histórica entre fevereiro e março do mesmo ano para os preços da carcaça casada bovina e do indicador do boi gordo (ambos calculados pelo Centro de Estudos Avançados em Economia Aplicada – CEPEA).
Gráfico 1.
Evolução da variação dos preços entre fevereiro e março – de 2008 a 2017 (%).
Fonte: CEPEA / Agrifatto
Pelo levantamento se observa que os preços pecuários acompanharam em alguma proporção a mesma variação registrada para o valor da carcaça casada bovina no atacado.
A exceção ocorre em 2014 e 2015, período de valorização da arroba bovina em resposta à alta dos preços de reposição, resultado do próprio ciclo pecuário, quando a oferta de animais seguia uma curva negativa e impulsionou positivamente as cotações da arroba.
Ainda assim, a variação positiva do indicador do CEPEA entre os dois meses seguiu em proporção menor a cada ano desde 2014, até que no ano passado registrou a pior queda após a operação Carne Fraca deflagrada pela Polícia Federal em 17 de março.
Ou seja, a expectativa de queda do consumo de carne a partir de agora deve manter os preços no atacado com estabilidade ou até mesmo causar pressão negativa até o fim do mês, o que poderia levar a um viés baixista também aos valores ofertados pelo animal terminado.
Por fim, o contrato futuro de boi gordo na B3 (antiga BM&FBovespa) com vencimento para fev/18 registra equilíbrio em torno de R$ 145,20/@, com variação positiva de 0,45% desde o início do mês.
Já o vencimento para mar/18, apesar do baixo volume de contratos negociados, conta com variação positiva a partir de fevereiro de 0,95%, indicando que uma demanda aquecida no início do próximo mês pode gerar nova pressão positiva.
Gráfico 2.
Variação das cotações futuras – Boi gordo com vencimento em fevereiro/18.
Fonte: BM&FBovespa / Broadcast AE / Agrifatto
Gráfico 3.
Variação das cotações futuras – Boi gordo com vencimento em março/18 (R$/@).
Fonte: BM&FBovespa / Broadcast AE / Agrifatto
Tal análise confere o esboço de uma possível oportunidade de vender animais em um prazo curto (até 45 dias) dentro de um ambiente de preços estáveis.