Ontem, terça-feira (22) foi realizado o primeiro dia da Conferência FACTA WPSA – Brasil. Dentro de um formato totalmente digital, ainda devido às restrições da pandemia de Covid-19, e com o tema “Avicultura Recalculando”, o grande pilar de discussão para o avanço do setor foi a união das questões tecnológicas, políticas e estruturais para o segmento avícola.
A abertura contou com a palestra “Política e Agricultura: O que os produtores precisam entender?”, proferida por Itamar Borges, atual Secretário de Agricultura do Estado de São Paulo.
Borges falou sobre o trabalho da Secretaria de Agricultura de São Paulo e sobre as políticas desenvolvidas, suas políticas de ação para 2021 e 2022. “A importância do agronegócio paulista é enorme, sendo o primeiro produtor em diversos setores, entre eles, ovos e o quarto na produção de frango”, destacou. “Lembro que São Paulo responde por 40% da renda do agronegócio nacional, está aí sua importância para o Brasil, com 2 milhões de pessoas empregadas no segmento”, disse.
Borges ainda destacou a qualidade sanitária do setor avícola. “É uma referência para o Brasil”, afirmou.

Na sequência, Marcos Jank (INSPER) falou sobre a imagem do Brasil no exterior e o que é e como fazer para mostrarmos a sustentabilidade da nossa produção animal.

Segundo Jank, de forma geral, o agro vem tendo um excelente desempenho, com grande poder exportador, com mais de 50% das vendas externas totais do Brasil. “O mercado continua muito firme, com a demanda aquecida na Ásia. Lembro ainda que os estoques mundiais estão baixos e o câmbio excepcionalmente desvalorizado do Brasil é uma combinação que não tínhamos há muito tempo, além da queda da taxa de juros, o que levou a um grande aquecimento nas vendas internacionais. 2020, foi o segundo melhor ano para o agronegócio brasileiro, com mais de US$ 100 bilhões em divisas. 2021 devemos registrar mais de US$ 121 bilhões de dólares em divisas, um recorde histórico para o país”, disse.
Ele apontou ainda o maior desafio: o principal é a questão do meio ambiente. “No mundo se fala mais de Amazônia do que futebol e samba. O Brasil tem falhado em relação à comunicação efetiva sobre as questões do desmatamento. O Brasil precisa fazer alguma coisa. Precisamos agir e falar sobre estas ações. O mundo está preocupado com o fluxo do desmatamento, por isso que o desmatamento de 1 milhão de hectares por ano chama tanto a atenção”, afirmou. “Lá fora, este desmatamento também é associado ao agronegócio, na produção de grãos e proteína animal, o que impacta diretamente nosso business. Não temos conseguido um diálogo sereno e permanente e o setor privado precisa participar do dia a dia da formulação das políticas envolvendo as questões ambientais”, afirmou.
Sanidade também foi um ponto de destaque por Jank. “Food Safety também precisa entrar nesta integração de discurso: agricultura, nutrição, meio ambiente e sanidade, dentro de um processo é preciso mostrar que o Brasil está muito melhor que a maioria dos países. Se fosse o contrário, não venderíamos tanto, por exemplo, de carne de frango ao exterior”, afirmou.
E por último, ele destacou a abertura para novos negócios. “O Brasil precisa ter uma ação mais eficaz por parte de instituições governamentais para habilitação de produtores para o acesso ao mercado externo. Hoje temos somente cem frigoríficos habilitados para China, por exemplo, o que é muito pouco”, afirmou.

Continuando o evento, o Movimento ESG no agro foi abordado por Iane Almeida, zootecnista da Seara. O conceito Enviromental, Social and Governance (ESG) não é atual, segundo ela aponta. “Os critérios que apontam para a ética e a moral há décadas são valores que implicam na decisão para investimentos”, apontou.
“Esferas sociais e de governança eram os maiores, na década de 50, porém, as questões meio-ambientais tem ganhado muita importância, com grande preocupação na sustentabilidade. Isto nada mais é do que sustentabilidade ambiental”, explicou. “É importante destacar que o agronegócio é o setor que mais tem familiaridade com a sigla ESG, com grande preocupação para trazer este conceito para nossas empresas e para nossas vidas. Atuar de acordo com padrões ESG amplia a competitividade do setor, indica solidez, custos mais baixos, melhor reputação e maior resiliência, com maior valor moral e, consequentemente, maior valor financeiro, agregando na reputação”, disse. “A preocupação e o relato de impactos nas dimensões ESG garantem maior competitividade, acesso a novos mercados e a perenidade do negócio”, concluiu.

Marcio Milan (vice-presidente da Associação Brasileira dos Supermercados – ABRAS), dando sequência, abordou as exigências do novo consumidor para produtos avícolas frente a uma vida mais longa e saudável.
Segundo Milan, o consumidor que ficou mais na residência em função do isolamento forçado pela Covid-19 busca praticidade, alimentos mais saudáveis, sofisticação e quer saber o cuidado com o bem estar animal. “E cabe ao varejo estar atento e acompanhar, pois é um movimento com tendência de alta. As ações e preocupações do varejo com a sustentabilidade e o cuidado com o bem-estar animal precisam ser compartilhadas, pois o consumidor está mais consciente”, disse. “A reflexão que gostaria de deixar aqui é sobre as informações nas embalagens, se elas estão completas, dentro daquilo que é valorizado e exigido pelo consumidor, dentro de sua busca pela sofisticação, com certificação de origem, o que traz confiança aos consumidores”, afirmou.

No “Espaço MSD” durante a Conferência FACTA WPSA – Brasil o tema foi “Legislação do uso de antibióticos e como isso afeta os mercados exportadores na prática das empresas de frango de corte”, sob o comando da Médica Veterinária, Marília Rangel.
Segundo ela, o Brasil vem caminhando em linha com grandes países compradores. “O uso de antibióticos como promotores de crescimento já é uma questão que o agronegócio já está atento há décadas”, apontou. “E há uma exigência crescente para a proibição também como tratamento já à partir do próximo ano, principalmente por parte da China. O objetivo é reduzir o impacto da resistência antimicrobiana na saúde humana. Por isso a importância do uso racional dos antimicrobianos. Destaco a regra dos “5 somentes”. Somente use antimicrobianos quando prescritos por um veterinário. Somente use quando necessário (antimicrobianos não curam todas as infecções), somente use a dosagem prescrita e respeite a duração do tratamento e período de retirada, somente adquira antimicrobianos de fontes e distribuidores autorizados e somente use antimicrobianos associados a boas práticas de saúde animal, de higiene e vacinação”, explicou Marília Rangel.

Na sequência, Eduardo Leffer, da Coopavel comprovou, com vários dados toda a viabilidade técnica e econômica da produção de frangos sem uso de antibióticos. “É fundamental a união e a sinergia entre a nutrição, manejo e sanidade a campo para que possamos obter bons resultados que garantam os melhores índices zootécnicos na produção avícola de corte”, disse.

A utilização de compostos bioativos e o elo entre o poder da natureza e nutrição animal sustentável foi apresentado por Bruna Boaro, Zootecnista da Indukern.

Fechando a noite e como não poderia deixar de entrar nas discussões e análises, o desenvolvimento da microbiota intestinal em avicultura, suas variações e consequências no desempenho em condições de campo foi debatido por Jaime Parra, da Universidade Nacional da Colômbia.

Parra explicou que saúde intestinal é um termo comumente usado na literatura médica e pela indústria de alimentos. “É o resumo de uma perfeita integridade intestinal, maturidade do sistema imunológico e a estabilidade e equilíbrio da microbiota”, disse.

A microbiota intestinal cumpre uma função extremamente importante: ser a primeira linha de defesa contra patógenos e diferentes toxinas de origem microbiana. O processo de imunomodulação é determinado principalmente pela microbiota intestinal, cujo desequilíbrio (disbiose) está relacionado a um sistema imunológico fraco e respostas imunológicas ineficientes.

“No entanto, quando o equilíbrio microbiano é estabelecido no nível intestinal (eubiose), em grande parte por mecanismos de exclusão competitiva, o deslocamento de potenciais patógenos exógenos ou endógenos ocorre através da produção de metabólitos com propriedades antimicrobianas (bacteriocina-peptídeos antimicrobianos e AGVs -butirato)”, explicou o professor.

Os mecanismos de sinalização realizados pelos AGVs e outros metabólitos produzidos pela microbiota, modulam a resposta imune, desencadeando cascatas pró ou antiinflamatórias e, portanto, a resposta contra patógenos. Por tanto, a microbiota desempenha um papel fundamental, do ponto de vista imunológico e nutricional, garantindo não só um ótimo estado fisiológico, mas também a melhoria dos diferentes parâmetros produtivos. Portanto, diversos estudos têm se concentrado no estudo do microbioma intestinal para gerar avanços no conhecimento da saúde e fisiologia animal e humana.

“Os estudos do microbioma estão apenas começando a se desenvolver. No entanto, devido à atual dinâmica sócio-política, econômica e ambiental, este é o momento certo para começar a explorar os padrões do microbioma e catalogar a diversidade microbiana em diferentes sistemas e estágios de produção. Da mesma forma, o estudo do microbioma intestinal constitui uma oportunidade ideal para integrar esforços entre cientistas de diferentes áreas e a indústria de alimentos para desenvolver estratégias nutricionais que permitam modificar o microbioma dos sistemas de produção animal em benefício da saúde humana e animal e da sustentabilidade ambiental”, finalizou Parra.

Hoje, quarta-feira (23), a Conferência FACTA WPSA terá sua continuidade com nomes como José Antônio Ribas Jr. (Seara), Alfredo Velez (ANAPA, Nicarágua), Anderlise Borsoi (Ministério da Agricultura), Barbara Vargas (Aviagen), Hernan Rojas (Consultor, Chile), Algis Martinez (Cobb) e Rodrigo Gallardo (Davis).
O evento contará hoje também com o tema “A proteção da Bronquite Infecciosa em destaque”, dentro do Espaço VAXXINOVA, comandado pelo Médico Veterinário Gustavo Schaefer.
(Avisite)