Yago Travagini é economista e consultor de mercado pela Agrifatto
Stefan Podsclan é engenheiro agrícola e consultor de mercado pela Agrifatto
Jéssica Huescar é médica veterinária e trainee pela Agrifatto
Antônio Costa é estagiário pela Agrifatto 

 

 

Resumo da semana:
Mais uma semana que se encerra com a sustentação da arroba do boi gordo. A média do animal no período ficou em R$ 315,62/@, variando positivamente 0,81% no comparativo semanal e atingindo o maior valor médio semanal desde a penúltima semana de abril/21. Com essa valorização no preço pago ao produtor, as escalas de abate dos frigoríficos paulistas continuaram a se prolongar, com a média do estado se estabelecendo em 10 dias úteis. Enquanto o mercado físico vai demonstrando cada vez mais firmeza, o futuro vai sofrendo. O contrato futuro para outubro/21 na B3 fechou mais uma semana em queda, chegando ao menor valor dos últimos 36 dias.
Com o eminente início da colheita do milho 2ª safra, a melhora da oferta de cereal no mercado físico vai se tornando cada vez mais latente e tem ajudado o preço deste a ceder. A cotação média do milho em São Paulo fechou a última semana a R$ 95,88/sc, desvalorizando 3,29% em comparação a semana retrasada. Além da melhora da oferta, a manutenção do dólar abaixo dos R$ 5,15 auxilia para que o preço do milho se mantenha em desvalorização no país.
O petróleo BRENT encerrou a terceira semana consecutiva em alta, com as expectativas crescentes do mercado em uma retomada da demanda global e a redução dos estoques do betuminoso nos EUA. O barril do petróleo BRENT está sendo negociado na casa dos US$ 72,14, valorizando 1,12% em comparação a semana retrasada e fechando ao maior preço desde maio de 2019.
No mercado da soja a baixa demanda de compradores para exportação, a desvalorização da oleaginosa em Chicago e a manutenção do dólar a patamares reduzidos está forçando os preços da soja no mercado interno para baixo. Vale ressaltar que o vazio sanitário começou nesta última quinta-feira (10/06) no estado do Paraná e na próxima terça-feira (15/06) se inicia também no Mato Grosso. A oleaginosa fecha o período com os preços em torno de R$ 170,63/sc, com queda de 2,19% ante a sexta-feira retrasada.

 

1. Na tela da B3
Mais uma semana de desvalorização para os vencimentos futuros de boi gordo na B3, mesmo com o mercado físico demonstrando recuperação. Desta vez, o contrato futuro para outubro/21 (mais negociado na bolsa brasileira) registrou queda de 1,98% no comparativo semanal, chegando ao menor valor dos últimos 36 dias, cotado a R$ 329,15/@.
Ao buscar fundamentos para essa desvalorização do boi gordo na B3, a única possível justificativa no radar é a melhora momentânea das escalas de abate. No geral, todos os outros fatores dão sinais positivos. A demanda interna está demonstrando recuperação e os preços da carcaça casada no mercado interno embarcaram em forte valorização pela segunda semana consecutiva. O dólar voltou a subir, e as vendas de carne bovina para fora do país continuam firmes. Ou seja, se a queda do boi gordo na B3 está fundamentada, esta fundamentação se dá apenas na melhora momentânea das escalas de abate (que só cresceram por conta da aceitação dos frigoríficos em pagar preços maiores).
De olho nisso, as Pessoas Físicas que já detinham a maior posição comprada de boi gordo na B3, aumentaram sua posição ainda mais, atingindo um saldo positivo de 9,98 mil contratos, 48% acima do que fora visto na semana retrasada. Esse é o maior posicionamento comprado das PFs desde 2019. Do outro lado, quem sustenta a posição vendida são os Investidores Institucionais e as PJ não financeiras, no entanto, a “aposta” desses nas quedas do ativo ainda é “tímida”, se comparado a novembro/20. Desta forma, fica claro que os operadores estão tomando um lado no mercado de maneira cada vez mais intensa. A pergunta que fica é: quem estará mais correto quando for realizado?
Fonte: Agrifatto; B3;

 

1.1. O que o mercado futuro proporciona?
Com o boi gordo na B3 “devolvendo” praticamente toda a valorização que havia sido observada durante o mês de maio/21 nas últimas duas semanas, a realização de novas vendas de futuros ou compras de proteções contra a queda de preço do boi gordo não nos parece adequada neste momento, denotando calma para aqueles que ainda não travaram seus animais via B3.
O momento parece ser mais oportuno para aqueles que necessitam repor seus estoques de animais. Sendo assim, a compra de futuros de boi gordo para outubro/21 na casa dos R$ 330,00/@ aparenta ser uma operação interessante, visto a grande capacidade de tal vencimento romper os R$ 340,00/@ e consequentemente levar a cotação do boi magro conjuntamente.
Com a atual conjuntura de preços e volatilidade ainda elevada, operar opções de boi gordo continua a ser uma tarefa difícil. Para se ter uma ideia, a compra de uma PUT simples para outubro/21 com um strike nos R$ 320,00/@ custaria algo em torno de R$ 9,45/@, e, considerando a atual leitura de mercado, a probabilidade de execução desta é baixa. Se ainda assim, o interesse em proteger parte dos animais é grande, a operação via opções mais indicada neste momento seria as PUTs Spreads ou a operação de Collar, que tem como benefício reduzir o custo de proteção da PUT via financiamento através da venda de outra PUT ou de uma CALL. No entanto, como ressaltamos, não acreditamos que este seja o momento para realizar travamento de vendas.
A chegada ao patamar dos R$ 330,00/@ no vencimento para outubro/21 na B3 esfriou de vez o mercado a termo paulista, visto que os pecuaristas se mostram reticentes em fazer vendas futuras a tais preços. As pedidas para efetivação de negócios continuam girando acima dos R$ 340,00/@ no estado de São Paulo.

 

2. Enquanto isso, no atacado…
Em mais uma semana com demanda acima das expectativas e quantidade disponibilizada pelos frigoríficos reduzida, o preço da carne bovina no atacado paulista registrou valorização no comparativo semanal. A carcaça casada encerrou a semana cotada ao valor médio de R$ 19,81/kg, valorizando 3,46% em comparação a semana passada. A chegada nesse patamar faz a carcaça casada bovina encostar nos maiores níveis de 2021.
Esmiuçando-se entre os cortes comercializados, nota-se que o dianteiro e a ponta de agulha têm encontrado mais facilidade para ser escoado do que os cortes do traseiro, destacando a preferência do consumidor brasileiro por cortes mais baratos.
O processo de valorização também aconteceu nas outras proteínas animais. Para o frango, o mercado voltou a se aquecer, após duas semanas mornas nos negócios. Com bons volumes negociados, que reduziram consideravelmente os estoques dos frigoríficos, o preço do frango resfriado acumulou alta de 5,25% no comparativo semanal, fechando com preço médio de R$ 6,66/kg.
Do mesmo modo, a carcaça suína continuou a registrar reajustes para cima em seus preços, seguindo as expectativas do setor. A valorização foi a maior entre as três proteínas aqui descritas (12,67%), atingindo os R$ 9,50/kg, o maior valor desde a segunda semana de maio/21. Vale destacar o desempenho das exportações de carne suína, que atingiram o maior volume da história para um mês de maio, com 91 mil toneladas embarcadas, enxugando a oferta no mercado interno.

 

3. No mercado externo
Durante a segunda semana de junho/21 foram enviadas 29,15 mil toneladas de carne bovina in natura para fora do país, 20,0% a mais que na semana retrasada, totalizando 53,45 mil toneladas já embarcadas no mês. Apesar do maior volume enviado aos portos, houve uma desaceleração na média diária de embarques, que retrocedeu 17,5%, diferença que pode ser explicada pelo menor número de dias úteis no comparativo dos períodos analisados e pela desvalorização do dólar.
Com relação ao preço médio por tonelada houve um leve acréscimo no comparativo semanal, estabelecendo-se em US$ 5,1 mil/t – alta de 0,5%, se comparado ao mesmo período do ano passado a valorização é de 19,23%. Com esse aumento no preço médio, a receita obtida com os embarques de proteína bovina no mês já totaliza US$ 273,9 milhões, que equivale a 41,9% do montante de junho/20.
As exportações do milho seguem em ritmo lento, a média diária de embarques está na casa das 202,70 toneladas, redução de 98,64% quando comparado ao mesmo período de 2020. O preço pelo grão exportado chegou aos US$ 1,29 mil/t, alta de 9,07% ante a primeira semana do mês.
Em contrapartida as importações do cereal vêm ganhando força e a primeira quinzena de junho vai se encerrando com 21,46 mil toneladas compradas, alta de 423,43% ante todo o período de junho/20. O valor pago pelo produto diminuiu em 4,36% e está sendo cotado a US$ 264,60/ton.
Caminhando para o fim da primeira quinzena do mês de junho/21, as exportações totalizaram 5,10 milhões de toneladas de soja, volume que já corresponde a aproximadamente 40% das 12,74 milhões de toneladas exportadas em junho do ano passado. A performance de carregamento registrou uma esfriada em seu ritmo, com 637 mil toneladas carregadas diariamente, mas ainda se mantendo 5% superior à média de jun/20.
A receita de US$ 2,35 bilhões obtida com as exportações de soja nos quinze primeiros dias úteis de junho/21 corresponde a quase 55 % da receita obtida em junho/20. O preço da tonelada despachada ficou em US$ 462/t contra US$ 337/t em junho/20, diferença de 37%.

 

4. A compra do pecuarista
A melhora da oferta do cereal já é refletida no comportamento do indicador de preços do milho e Campinas/SP que registra negócios da saca do cereal no nível de R$95,00/sc. Vale ressaltar que esse movimento de desvalorização é registrado em algumas regiões do país, especialmente nas regiões Sul e Sudeste. Já na região Centro-Oeste onde a colheita do milho 2ª safra está engatinhando, os preços ainda não cederam. A expectativa que oportunidades de negócios com preços mais baixos comecem a surgir nas próximas semanas.
Os preços da arroba do boi gordo em São Paulo vêm registrando ligeiras valorizações, atualmente com indicação média para junho em R$313,00/@. A combinação do recuo do milho e da melhora do preço da arroba do boi tem contribuído para ajustes positivos na relação de troca boi/milho, favorecendo a posição do pecuarista para a aquisição do cereal.
No mercado futuro essas relações de troca boi milho tem registrado pequenas oscilações, mas o posicionamento e a estratégia do pecuarista para compra do cereal e venda do milho é determinante para alcançar resultados nas relações melhores que os indicados.

 

Fonte: Agrifatto

 

Com o preço do farelo em movimento de baixa, a relação de troca entre o boi e o derivado está favorável ao pecuarista. A indicação de preços para Rio Verde/GO está em R$2.080,00/ton e tem expectativa de que novas desvalorizações na tonelada do derivado aconteçam durante o mês de julho diante da grande oferta de farelo no mercado interno. Preços da saca de soja em níveis mais baixos e demanda sem fortes acelerações. A relação de troca entre farelo de soja e boi gordo está no melhor nível desde fevereiro/2020.
Fonte: Agrifatto;

 

 

5. O destaque da semana
O Indea-MT divulgou os dados de bovinos mato-grossenses encaminhados para a linha de abate durante o mês de maio/21, e apesar do crescimento já esperado para o mês, os comparativos anuais continuam em decréscimo. Foram 392,17 mil animais abatidos no mês passado, 10,67% a mais do que em abril/21, no entanto, o recuo frente a maio/20 chegou a 10,09% e atingiu o menor volume para um mês de maio desde a greve dos caminhoneiros de 2018.
O avanço mensal do abate foi puxado sobretudo pelos machos. Essa categoria registrou um total de 222,97 mil cabeças encaminhadas para a linha de abate, 14,81% maior que em abril/21. As fêmeas avançaram em menor proporção, com o ritmo de crescimento de 5,65% no comparativo mensal, com um total de 169,21 mil cabeças abatidas. Vale a ressalva de que esse é o menor volume de fêmeas abatidas em um mês de maio dos últimos onze anos.
Com esse resultado de maio/21, o ano de 2021 apresenta um total de 1,81 milhão de bovinos mato-grossenses abatidos, o menor resultado dos últimos doze anos. Sendo que as fêmeas atingiram sua menor participação no abate total desde 2010, com uma representatividade de 43,2%.
Fonte: Indea-MT;

 

Além disso, vale destacar que a redução da idade média de abate dos bovinos continua a acontecer no estado mato-grossense. A participação dos animais com menos de 24 meses no total abatido chegou a 20,51% nos cinco primeiros meses de 2021, a maior representatividade da história e 11 p.p. a mais do que era observado há cinco anos atrás. Esse movimento pode trazer algumas consequências a longo prazo para a pecuária brasileira, dentre elas, destaca-se o possível encurtamento do ciclo pecuário, visto que os bovinos estão girando mais rapidamente nas propriedades.
Fonte: Agrifatto;

 

6. E o que está no radar?
Após consolidar uma valorização na semana passada, o boi gordo inicia a segunda semana do mês com uma maior pressão na ponta da oferta, isso por que as escalas de abate voltaram a evoluir em todo o país.
A volta ao patamar dos R$ 315,00/@ fez com que os pecuaristas aceitassem negociar seus lotes de animais, e, desta forma, as unidades frigoríficas conseguiram alongar suas datas de abate. Em São Paulo, a programação média voltou aos 10 dias úteis. Diante disto, neste momento, não há necessidade, por parte das indústrias, em oferecer maiores preços para efetivar novas compras de animais, levando a uma tendência de maior estabilidade para a cotação do boi gordo.
Se para o pecuarista, as notícias do ponto de vista da oferta não são tão animadoras, a outra ponta do mercado tem emplacado consecutivas altas. O preço da carne bovina no varejo paulista fechou o mês de maio/21 com a sexta alta consecutiva, enquanto a carcaça casada bovina encerrou a semana passada com mais uma valorização, destacando que o consumo interno parece estar sendo reativado.
No médio e longo prazo, a reativação do nosso maior mercado consumidor (brasileiro) poderá significar um boi gordo com maior potencial de valorização, mesmo diante de uma situação de melhor oferta. Lembrando que o grande entrave para o boi gordo brasileiro valorizar ainda mais nos últimos meses foi a forte redução do consumo interno de proteína bovina.
Diante disto, a tendência para o boi gordo nesta semana é de maior estabilidade de preços no mercado físico.
Agrifatto