Yago Travagini é economista e consultor de mercado pela Agrifatto

Stefan Podsclan é engenheiro agrícola e consultor de mercado pela Agrifatto

Jéssica Huescar é médica veterinária e trainee pela Agrifatto

Antônio Costa é estagiário pela Agrifatto 

 

 

Resumo da semana:

Após seis semanas consecutivas com queda no preço médio, o boi gordo fechou a última semana de maio/21 com alta na cotação. O valor do animal em São Paulo ficou em R$ 312,19/@ na média da última semana, subindo 1,56% no comparativo semanal. A alta foi ocasionada sobretudo pela redução da oferta de gado pronto para abate no estado paulista, e com o encurtamento das escalas e a maior dificuldade de preenchimento das mesmas, os frigoríficos aceitaram pagar mais para adquirir os bovinos. Cabe a ressalva de que os animais com tipificação para exportação voltaram a ganhar prêmios mais altos, não à toa, os negócios de R$ 320,00/@ voltam a acontecer em São Paulo somente para esses animais.

No Brasil, o mercado físico do milho vem se deparando com um crescimento da oferta, visto que com a proximidade da colheita da segunda safra, os produtores estão aceitando vender o cereal a preços cada vez menores. Desta forma, o milho fechou a semana com um valor médio de R$ 98,71/sc, recuando 3,42% no comparativo semanal. Vale a ressalva de que a desvalorização do dólar, que voltou a vigorar abaixo dos R$ 5,25, está pesando sobre a precificação do milho no mercado físico.

O dólar continuou sua trajetória de desvalorização frente ao real na última semana. A moeda norte-americana fechou a sexta-feira cotada a R$ 5,21, recuando 2,34% no comparativo semanal e sendo o menor valor desde o dia 30/12/2020. Nesta semana, quem auxiliou para essa redução da moeda norte-americana foram a divulgação de dados positivos da economia norte-americana e também da economia brasileira, com o PIB do 1º trimestre de 2021 vindo acima das expectativas iniciais.

O café arábica bateu valor histórico e está sendo cotado na casa dos R$ 860/sc, com uma alta de 4,75% na semana. Além disso, em Nova York, o indicador para o café também registrou valorização chegando ao patamar de US$ 1,61/lp, o maior valor para o primeiro vencimento futuro do ativo desde maio/18. O déficit hídrico do solo e baixa probabilidade de melhora sobre a safra brasileira, deixa um espaço para a queda na produtividade o que tem contribuído para o aumento dos preços.

 

  1. Na tela da B3

Após duas semanas consecutivas de valorização, o contrato mais negociado de boi gordo na B3 (outubro/21) voltou a apresentar desvalorização e fechou a semana com recuo de 1,04%, cotado a R$ 339,05/@.

A semana começou com otimismo e com os operadores da B3 ainda refletindo a notícia da saída argentina do mercado internacional de proteína bovina. Com isso, o preço do contrato para outubro/21 chegou a encostar nos R$ 347,50/@ na última terça-feira (25/05/2021), rompendo assim todas as máximas anteriores para tal vencimento.

No entanto, com os dados de exportação se mostrando ainda “fracos” (também puxados pela queda do dólar) e a demanda interna derrapante, as correções acabaram acontecendo, e a desvalorização “deu as caras”.

Vale o destaque para o posicionamento dos players nos contratos de boi gordo que vão tomando lados cada vez mais definidos. As Pessoas Físicas aumentaram sua posição comprada em 17% na última semana, chegando a um saldo positivo de 7,23 mil contratos, o maior desde 05/11/2020. Do outro lado, os investidores institucionais aumentaram sua posição vendida em 8%, chegando a um saldo negativo de 6,02 mil contratos, o maior desde 26/11/2020. O encerramento do contrato de maio/21, na segunda-feira (31/05/2021) deve levar a uma redução dessa exposição, no entanto, o mercado não ficava em uma dicotomia tão exacerbada desde novembro/20. As PFs têm se mostrado firmes e ficado do lado “certo” da corda há um bom tempo, será que isso continuará? Ou os IIs estão vendo que o boi gordo não aguenta mais altas? Ficamos aguardando as cenas dos próximos capítulos…

Fonte: Agrifatto.

 

1.1 O que o mercado futuro proporciona?

Com o boi gordo demonstrando mais firmeza, a volatilidade vai se reduzindo e a precificação das opções vai ficando mais interessante para aqueles que enxergam tais alternativas como interessantes.

A alta do físico durante esta semana pode revelar melhores preços nos vencimentos futuros. Desta forma, para aqueles que ainda não realizaram nenhuma venda de animais, a chegada do contrato futuro de boi gordo para outubro/21 nos R$ 345,00/@ já demonstra um bom ágio em relação ao mês de maio/21.

Diante disto, acreditamos que para aqueles que enxergam em futuros uma opção de comercialização interessante, e detêm caixa para segurar os ajustes diários e o depósito de margem, a venda de futuros de boi gordo acima dos R$ 345,00/@ nos parece interessante, principalmente pelo ágio proposto de 13% frente as cotações atuais. Para aqueles que não negociaram nada de seus animais, estabelecer a venda de até 30% dos animais a serem abatidos neste mês pode ser interessante e na nossa visão; representa uma realidade factível para os preços em outubro/21.

Do outro lado, as opções continuam a ser uma estratégia interessante para vencimentos de curto prazo, e mesmo assim, na nossa opinião, as operações estruturadas se encaixariam melhor dentro da atual conjuntura de mercado. Isso porque, uma PUT simples de boi gordo para outubro/21 que proteja o valor de R$ 330,00/@ custaria algo em torno de R$ 11,30/@, um custo inviável para travamento. Já a PUT Spread para agosto/21 protegendo o valor de R$ 320,00/@ até os R$ 305,00/@, tem um custo estimado de R$ 4,44/@. Diante da visualização de um mercado que não tem um espaço grande para a queda, a execução da PUT spread se mostra mais interessante neste momento.

Por fim, o mercado a termo voltou a ser ativado com mais força pelas duas pontas do mercado: o frigorífico interessado em preencher suas escalas e vendo que a escalada de preços está aceitando pagar até R$ 350,00/@ pelo boi gordo em outubro/21, enquanto isso, o pecuarista enxergando tal preço como atraente para este período, aceita negociar. Para os pecuaristas que leem por aqui, fiquem atento apenas ao desconto oferecido pelo frigorífico no seu animal (dependendo do seu estado). O diferencial de base está na suas mínimas históricas, ponto que pode ser explorado na hora de negociar valores maiores pelo seu animal.

 

  1. Enquanto isso, no atacado…

Mesmo em negociação para o abastecimento do mercado atacadista da 1ª semana do mês de junho/21, as vendas da carcaça bovina se mostraram em ritmo calmo no fim da última semana, assim, seguindo sem alterações, com preços estáveis e com espaço para especulações. Na semana, a carcaça casada bovina ficou com um preço médio de R$ 19,01/kg, recuando 1,25% em comparação a semana retrasada. Os recuos foram menos intensos em comparação as semanas anteriores, visto que a quantidade ofertada de proteína bovina está seguiu diminuindo.

Outra proteína que não consegue sair do processo de desvalorização é a suína, com o consumo de final de mês deprimente e o recuo dos embarques para fora do país, a cotação da carcaça suína especial em São Paulo atingiu o valor médio de R$ 8,53/kg, desvalorizando 9,39% no comparativo semanal e chegando ao menor valor desde a última semana de março/21.

E, por fim, mas que também não escapou da depressão de fim de mês está o frango resfriado, que viu sua competitividade com as outras proteínas animais diminuir e com isso teve que “segurar” o ímpeto de valorização em que vinha nas últimas semanas. O frango resfriado fechou a semana com o valor médio de R$ 6,43/kg, recuando 4,13% no comparativo semanal.

O cenário é condizente com o período de fechamento do mês, marcado pela queda no consumo das proteínas de origem animal de modo geral, já que a grande parcela da população está no aguardo do recebimento de salário. A expectativa é de melhoras após o recebimento da massa salarial.

 

  1. No mercado externo

O destaque da semana vem de solos internacionais. O número de vendas líquidas de carne bovina dos EUA, aumentaram significativamente nesses últimos dias.  Durante a segunda e terceira semana de maio/21 o país norte-americano registrou um incremento de 29% nas vendas líquidas semanais de carne bovina para outros países. Essa evolução acontece ao mesmo tempo em que os fatos ficaram mais quentes aqui pela américa do sul.

Com a Argentina impondo uma barreira de venda externa para a sua carne bovina, cerca de 7,5% do comércio global de proteína bovina fica “interrompido” durante um mês e com isso a busca por alternativas já começou a acontecer, e os EUA já surfa nesta onda. As vendas líquidas da proteína bovina norte-americana para a China, que detinha na Argentina seu segundo principal fornecedor, aumentaram 197% em comparação com o que vinha sendo registrado durante o ano de 2021.

Fonte: Agrifatto.

 

Somente nas duas últimas semanas, os EUA venderam 18,20 mil toneladas de proteína bovina para a China. Antes dessas duas semanas, os EUA demoravam em média de quatro a sete semanas para conseguir vender 18 mil toneladas de proteína bovina à China. Agora, sem a Argentina, os EUA é um dos principais fornecedores em potencial que o gigante asiático ainda não explorava.

Historicamente, a China importa mais durante o segundo semestre do ano, o que deixa indício de que as compras poderão aumentar ainda mais nos próximos meses. O Brasil precisará ficar atento, caso queira “surfar” neste vácuo deixado pela Argentina.

 

  1. A compra do pecuarista

O mês de maio/21 encerra com a pior média mensal da relação de troca boi/milho desde maio/16. Com a saca do cereal em Campinas/SP registrando média mensal de R$100,82/sc, recorde histórico, e arroba do boi gordo pelo CEPEA indicando o valor médio mensal de R$309,82/@, no mês de maio/21, o pecuarista conseguiu comprar 3,07 sacos de milho por arroba de boi vendida.

O clima foi o principal fator desse comportamento. A redução da qualidade das pastagens típica no mês de maio resultou em maior oferta de animais para o abate, levando o preço médio da arroba recuar 2% no comparativo com o mês de abril/21. Já para o milho, a quebra de safra obrigou o mercado ir às compras para fazer estoque, fato que elevou o preço do cereal em 3,8% no comparativo mensal.

Para o mercado futuro o clima nos EUA colaborando com a sua safra e está segurando altas expressivas do cereal na B3, ao mesmo tempo que a arroba do boi atingiu patamares melhores diante da sinalização de menor oferta e aumento da demanda. O cenário atual de preços futuros de milho e boi gordo abre oportunidades para o planejamento da engorda para o 2º semestre.

Fonte: Agrifatto; 

Para o produtor que precisa adquirir farelo de soja o momento também é interessante. Com a tonelada do derivado em Rio Verde/GO registrando o preço médio mensal de R$2.220,55, o mês de maio/21 registrou o menor valor médio mensal desde outubro/20 e uma ligeira redução de 1,4% sobre abril/20. A relação de troca de 2,79 está acima da média histórica, mas ligeiramente abaixo dos 2,81 registrados no mês anterior, o recuo de 2% no comparativo mensal do valor da arroba do boi gordo influenciou nessa manutenção da relação de troca.

 

*Considerou-se um boi gordo de 20 arrobas;

Fonte: Agrifatto;

 

 

  1. O destaque da semana

Com o ciclo pecuário em seu auge de retenção de fêmeas em todo o país, os frigoríficos têm forçado cada vez mais a compra de outras unidades da federação, reduzindo assim o diferencial de base entre São Paulo e os demais estados.

Dois estados merecem destaque na comparação do mês de maio. São eles: Mato Grosso e Tocantins, que observaram uma menor desvalorização do boi gordo em maio/21 (frente ao que aconteceu em São Paulo, e com isso, detêm o menor diferencial de base para um mês de maio na história. No caso mato-grossense, esta diferença ficou em -2,63%. Já no Tocantins a diferença está em -3,87%.

Enquanto a oferta estiver minguando no país, a tendência é que o diferencial de base permaneça encurtado.

 

  1. E o que está no radar?

Após semanas de queda leve e falta de fundamentos que justificassem uma alta, o termômetro volta a se aquecer no mercado físico de boi gordo e as pedidas dos produtores começam a encostar nos R$ 320,00/@ novamente.

A chegada da primeira semana do mês de junho/21, que virá com o recebimento de salários anima o mercado atacadista, que acaba de atravessar uma segunda quinzena de mês totalmente deprimida. A redução da oferta de proteína bovina pelos frigoríficos e distribuidores no mercado atacadista em conjunto com essa expectativa de melhora na demanda interna, formam o cenário para que o preço do boi gordo volte a flertar com o patamar dos R$ 315,00-320,00/@.

Ainda assim, a animosidade continua controlada pelo fraco desempenho do consumo interno de proteína animal e também pelo dólar. Visto que a moeda norte-americana voltou ao patamar de R$ 5,20, no menor valor desde o início do ano, e isso pode prejudicar a competitividade da carne bovina brasileira no mercado externo.

A primeira semana do mês será de avaliação, principalmente por parte dos atacadistas em relação as vendas de proteína bovina. No entanto, o cenário que se desenha é de valorização da arroba do boi gordo, sustentado principalmente pela redução da oferta de gado pronto para o abate em todo o país.