Yago Travagini é economista e consultor de mercado pela Agrifatto
Caroline Matos é zootecnista e trainee pela Agrifatto
Resumo da semana:
Estagnou. A estratégia adotada por parte dos frigoríficos fez o preço do boi gordo “frear” a alta que vinha sendo impressa em grande parte das praças pecuárias brasileiras. Com isso, a cotação semanal que ensaiava superar os R$ 220,00/@ na semana retrasada, parou, e registrou uma leve queda de 0,11% nesta última semana, com o preço médio em São Paulo rondando a casa dos R$ 219,50/@. A pressão imposta vem em linha com uma carne bovina no atacado com dificuldades de valorização, pressionando a margem dos frigoríficos, que se assustaram com a alta de R$ 16,00/@ do boi gordo no intervalo de 4 semanas.
Diferentemente do boi gordo, o milho conseguiu solidificar mais uma semana de alta em pleno avanço da colheita no país, imprimindo uma forte valorização no mercado futuro. O vencimento do contrato para setembro/20 na B3 chegou a bater na casa dos R$ 49,00/sc, mas acabou encerrando a semana em torno dos R$ 48,00/sc. Com o dólar rondando a casa dos R$ 5,30 e a oferta restrita as cotações não dão maiores sinais de fraqueza.
As proteínas animais que competem com a carne bovina obtiveram uma forte valorização nesta semana. O ajuste produtivo feito nas granjas durante os últimos meses dá sinais do seu resultado, com a redução na oferta e consequentemente valorização dos preços da carne suína e do frango congelado no atacado. A alta semanal foi de 5% para ambas as proteínas. Como ressaltamos na coluna do RADAR, isso pode afetar diretamente o mercado do boi gordo no médio prazo.
- Na tela da B3
Após uma grande apreensão vista na semana retrasada, com as cotações dos contratos futuros do boi gordo na B3 recuando forte em alguns dias, essa última semana foi marcada por um novo realinhamento com o mercado físico.
O vencimento outubro/20 se recuperou, subindo 1,07% no comparativo entre as sextas-feiras, fechando a semana cotado a R$ 213,40/@. Com os pecuaristas não aceitando desvalorizações no físico, e o preço se mantendo praticamente estável, a instabilidade que os contratos futuros viram na semana retrasada aparentou ter se dissipado levemente.
O volume de contratos futuros e de opções negociadas seguiu a aumentar durante a última semana, com 79,19 mil contratos negociados, 20% a mais do que na semana passada e 76% a mais do que no mês passado. O conjunto de preços mais atrativos do que há um mês atrás e insegurança quanto ao futuro podem ter atraído mais participantes ao mercado.
A movimentação dos players durante esta semana foi interessante, considerando o mercado de opções e futuros, a queda de braço entre PJs não financeiras e Pessoas Físicas seguiu, no entanto, ambas as partes diminuíram suas exposições. Enquanto as PJS não financeiras reduziram sua “aposta na queda” em 45%, através principalmente da venda de PUTs, as Pessoas Físicas diminuíram sua “aposta na alta” em 22%, diminuindo a posição nas compras de contratos futuros. Além disto, destacou-se nesta última semana os Investidores Institucionais aumentando em mais de 300% a posição vendida, resultado principalmente da compra de mais de 1.900 PUTs.
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O que o mercado futuro proporciona?
Apesar da relativa estabilidade observada nas cotações dos contratos futuros, a volatilidade ainda permaneceu elevada na precificação das opções. Ainda assim, visualizamos o aumento vertiginoso no número de opções negociadas no mercado futuro do boi gordo.
O mercado de opções está ganhando projeção, o número de CALLs em aberto já chega a 41 mil. Os indicadores de oferta restrita ainda estimulam a proteção contra alta. Do outro lado da ponta, o cenário é mais positivo, com forte evolução do preço futuro, PUTs com vencimento para out/20 com strike a R$ 200,00/@ já podem ser encontradas com prêmio a serem pagos abaixo dos R$ 2,00/@. A proteção contra desvalorização, que pode acontecer com um embargo chinês, é um caminho interessante a se seguir.
A compra de uma PUT sintética segue no radar sendo a estratégia mais atraente, especialmente se realizada em ajuste com a venda de animais a termo, visto que pode melhorar o preço mínimo se comparada à PUT simples sem incorrer na incidência de ajustes até que o mercado bata o strike da CALL.
Os futuros de boi gordo se apresentam como uma opção plausível, no entanto, vale a ressalva de que é necessário ter o fluxo de caixa preparado para esse tipo de operação. O vencimento outubro/20 demonstrando uma precificação de R$ 216,00/@ destaca um deságio de 2% frente as cotações atuais. Para a ponta compradora de boi gordo, a compra de futuros a esses valores pode ser atrativa, já que o mercado está precificando uma entressafra mais fraca em preços do que a safra, evento raro nos últimos vinte anos.
O mercado a termo ficou mais aquecido na última semana, a pressão sobre as cotações no físico fez os negócios fluírem com mais celeridade. Para o pecuarista, a combinação de venda do animal no mercado a termo aliada a compra de uma CALL pode se mostrar interessante para aproveitar futuras altas de um mercado que segue instável.
2. Enquanto isso, no atacado…
O ambiente continua de estabilidade no mercado atacadista de carne bovina em São Paulo. A queda de braço entre os participantes do mercado continua como fator de equilíbrio e impede que o fluxo de vendas seja maior. Outro ponto importante, no varejo os passos também são arrastados, o que tem influenciado fortemente neste impasse. A carcaça casada bovina se mantém balizada na faixa dos R$ 14,10-14,20/kg.
Para o frango resfriado, o cenário ainda é otimista, já que este encerrou a semana cotado a R$ 4,67/kg – avanço semanal de 1,74% e na comparação mensal de 13,23%. Trata-se do maio valor registrado desde janeiro/20, quando era negociado na faixa dos R$ 4,90/kg. O ajuste produtivo focado na redução dos abates continua dando firmeza aos preços, apesar do desempenho negativo das exportações no mês de junho.
A carcaça especial suína continua em ascensão, fechou a segunda semana de julho em R$ 7,81/kg, acumulando avanço semanal de 8,55% e mensal de 11,57%. Diferentemente do frango, a indústria da proteína suína vê seu preço avançar consolidado em dois pilares, o reajuste produtivo iniciado pós-pandemia e nas exportações que tem registrado consecutivos recordes de volume embarcado, com a China liderando essa demanda.
No mercado de ovos, a semana foi de recuperação dos preços. A demanda mais ativa, deu espaço para altas, com os preços encerrando a semana a R$ 97,00/cx c/30 ovos, aumento semanal de 10,22%. Com a recuperação nas cotações do frango e do suíno, a atratividade dos ovos perante ao consumidor aumentou fazendo com que as cotações deste valorizassem.
3. No mercado externo
A segunda semana de julho/20 trouxe consigo aumento nos volumes embarcados de carne bovina para fora do país, a média diária saiu de 5,90 mil toneladas na 1ª semana do mês para 7,02 mil toneladas na 2ª semana do mês, com isto a média do mês está em 6,60 mil toneladas/dia. Já são 52,80 mil toneladas de proteína bovina embarcadas no mês de julho/20, enquanto que no mesmo período do ano passado foram 46,33 mil toneladas.
A receita obtida com a venda da proteína bovina já chega à US$ 215,80 milhões, com a média diária avançando 13% frente a semana passada, estabelecendo-se em US$ 26,97 milhões/dia. Apesar destes avanços, os números de julho/20 ainda estão abaixo aos de junho/20, o que poderia indicar uma redução mensal da exportação de carne bovina, no entanto, com 15 dias úteis restantes, estimamos que julho/20 reserve uma exportação entre 130 a 150 mil toneladas de proteína bovina, dentro da linha dos últimos meses.
Apesar da aceleração e da melhora de 6% na média diária de milho exportada para fora do país, os embarques de cereal ainda seguem lentos frente ao mesmo período de 2019. Nos oito dias úteis de julho/20 foram exportadas 809,41 mil toneladas de milho, com uma média de 101,17 mil por dia. No comparativo com julho/19 a redução nos embarques chega a 60,73%.
A receita gerada pelas exportações de milho chegou a US$ 130,51 milhões nestes oito dias úteis de julho/20, mais do que o dobro de todo o mês de junho/20, no entanto, assim como o volume enviado, a receita obtida ainda está em níveis bem abaixo quando comparado a 2019. A tendência é que os embarques se intensifiquem apenas em agosto/20, com números compatíveis com os de 2019.
Justificada pela redução na oferta de oleaginosa disponível, a média diária dos embarques de soja para fora do país reduziu praticamente ¼ dentro de uma semana, saindo de 648,09 mil toneladas na primeira semana para 489,45 mil toneladas na segunda semana. Ainda assim, os números de julho/20 são mais de 50% maiores dos os que foram registrando em julho/19.
A receita obtida com a venda da soja já ultrapassou US$ 1,00 bilhão, e mesmo com a redução na oferta, deve chegar a mais de US$ 2,5 bilhões até o fim do mês. A janela de envio de soja para fora do país vai se fechando no Brasil, dando lugar aos embarques de milho, que devem começar a ocupar o lugar da oleaginosa nos navios graneleiros.
4. A compra do pecuarista
As compras do pecuarista seguiram sem muitas novidades durante essa última semana, as cotações dos animais de reposição (bezerro) imprimiram um ritmo forte de valorização. O ágio do bezerro sobre o boi gordo voltou a subir, estabelecendo-se já em 52%, 14 p.p. a mais do fora registrado a um ano atrás.
A conta para a compra do milho continua a não dar “fôlego” para aqueles que desenhavam um cenário de queda nas cotações conforme a 2ª safra chegasse com força ao mercado. A colheita está caminhando melhor, no entanto, o ritmo está bem mais lento do que fora registrado em 2019, tal fato monta um cenário de possível queda de preço a partir do final de julho/20, repetindo padrão que foi visto em 2018.
E mesmo que seja visualizado uma desvalorização nas cotações, ainda assim, os preços do cereal devem continuar elevados, já que o dólar próximo aos R$ 5,40 dá uma boa competitividade ao milho brasileiro frente aos outros exportadores mundiais (EUA, Ucrânia e Argentina). O cenário para o pecuarista/confinador não é tão negativo pois o fortalecimento do milho foi acompanhado pela valorização da arroba do boi gordo, e com isso, vimos a relação de troca evoluir bem nos últimos meses, ficando acima da média histórica em junho, com um panorama positivo para o 2ª semestre.
5. O destaque da semana:
O destaque desta semana fica para o aumento nos abates em Mato Grosso. O volume de animais mato-grossenses abatidos atingiu 471,07 mil no último mês, crescendo 8% na comparação com maio/20. Este é o maior montante de bovinos abatidos neste ano, superando a máxima registrada em janeiro/20, quando 466,10 mil bovinos foram abatidos. Também foi registrado um avanço no comparativo anual, já que no ano passado foram abatidas 416,20 mil cabeças em junho, ou seja, um avanço de 13% no YoY.
Dentre os principais fatores que explicam este aumento está o prolongamento das boas condições dos pastos no Estado, que com as chuvas registradas durante o mês de maio/20, o pecuarista conseguiu estender o tempo de estadia do animal sobre as pastagens. Além disso, o fim das férias coletivas em algumas unidades frigoríficas do Estado, e por fim, a extensão da vacinação contra aftosa para o mês de junho/20, fazendo com que produtores mudassem a estratégia de entregas pré-vacinação.
Ainda assim, ressaltamos que o volume de animais abatidos em Mato Grosso durante o primeiro semestre de 2020 ficou 7% abaixo do mesmo período de 2019. E essa diminuição advém principalmente das fêmeas, que reduziram seu abate em 13% no mesmo período de comparação. Fruto de uma reposição que continua fortalecida, dando pouco sinais de retração no curto prazo.
Como Mato Grosso representa cerca de 20% da produção brasileira de carne bovina é possível traçar um cenário nacional de retração na oferta de animais aptos para abate, fato que tem pressionado as cotações do boi gordo nas últimas semanas. No entanto, com a demanda nacional por proteínas bovina fragilizada devido à crise mundial, a queda de braço entre produtores e frigoríficos deve ganhar fôlego ainda no 2ª semestre deste ano.
6. E o que está no radar?