Yago Travagini é economista e consultor de mercado pela Agrifatto
Caroline Matos é zootecnista e trainee pela Agrifatto
 
Resumo da semana:
Mesmo com o “meio” feriado de Corpus Christi na última quinta-feira (11/06), a semana se mostrou agitada para os negócios de boi gordo no país. O preço médio semanal na referência Cepea ficou em R$ 205,81/@, o maior desde a última semana de dezembro/19. As negociações de animais com tipificação China pipocam a R$ 215,00/@ em várias regiões de São Paulo. Os frigoríficos visualizam ao mesmo tempo uma oferta esvaziada e a demanda interna dando sinais de recuperação, o que ficou claro especialmente para a carne sem osso.
Aproveitando a onda, o mercado de reposição, que registrou leves quedas nas últimas semanas, voltou a se valorizar sustentando-se também na oferta restrita de bezerros. Com a melhora na relação de troca com os insumos alimentares para a fabricação de ração (milho, farelo de soja, etc), confinadores poderão aquecer o mercado de reposição nas próximas semanas.
Depois de um rally de três semanas de quedas consecutivas em sua cotação, o dólar fechou a última sexta-feira (12/06) com alta de 2,2% na semana, em R$ 5,08. O temor com uma possível segunda onda de contágio do coronavírus nos EUA causou apreensão no mercado mundial, fazendo com que bolsas no mundo todo caíssem, com investidores migrando provisoriamente para o dólar como um investimento mais seguro.
Nos EUA, o USDA divulgou seu relatório de oferta e demanda. Os números para os grãos vieram dentro da expectativa, sem grandes alterações na produção ou demanda de milho e soja e, com isso, o mercado andou de lado. O destaque do relatório foi para a melhora na expectativa de produção de carne bovina em 2020 nos EUA, já que na projeção de maio/20 aguardava-se um volume de 11,72 milhões de toneladas, e na estimativa de junho/20 este número aumentou em 4%, ficando em 12,13 milhões de toneladas. A recuperação deverá acontecer de maneira mais intensa que o esperado.

 

1. Na tela da B3
Passado o período de desova de animais – que não se confirmou – e com o mercado físico cada vez mais sustentado, as cotações dos contratos avançam na B3. O vencimento mais curto (junho/20), fechou a sexta-feira a R$ 209,50/@, alta de 1,45% na semana. O contrato para outubro/20 também encerrou a semana com valorização, de 1,12%, cotado R$ 208,10/@ e mostrando que ninguém se interessou em apostar seriamente na abertura do spread V/K.
A evolução nas cotações do vencimento outubro pressionaram um pouco mais o Índice de Força Relativa – IFR -, que se estabeleceu o nível de 68 ao fim da semana, pouco abaixo dos 70. O rompimento da resistência dos R$ 210,00/sc, graficamente, pode significar um arrefecimento nas valorizações do boi gordo, no entanto, os fundamentos de oferta restrita apontam para outro lado. As próximas semanas serão interessantes.
Pouco mais de 800 contratos foram abertos durante a última semana. O posicionamento dos participantes do mercado se fortaleceu. As pessoas jurídicas não-financeiras (frigoríficos) aumentaram em 74% sua posição vendida, carregando no dia 10/06/2020, um saldo de pouco mais de 4 mil contratos vendidos. Enquanto que, as pessoas físicas, aumentaram a exposição comprada em 29%, chegando a ter um saldo de mais de 5 mil contratos. Os próximos meses devem reservar uma “briga” boa entre esses dois participantes.
1.1 O que o mercado futuro proporciona?
Com a forte valorização dos contratos futuros, o mercado voltou a precificar uma maior volatidade, com isso, as alternativas de travas voltaram a encarecer.
No mercado de opções, aos poucos as PUTs com strike acima de R$ 200,00/@ para os vencimentos mais curtos vão se mostrando atrativas, já que a cotação desses contratos já supera a barreira dos R$ 209,00/@. O aumento da volatidade dificulta a menor precificação de tais ativos, ainda assim, há opções atrativas para quem busca a proteção.
A compra de uma PUT sintética segue no radar sendo a estratégia mais atraente, especialmente se realizada em ajuste com a venda de animais a termo, visto que pode melhorar o preço mínimo se comparada à PUT simples sem incorrer na incidência de ajustes até que o mercado bata o strike da CALL.
Os futuros de boi gordo se apresentam como uma opção plausível, no entanto, vale a ressalva de que é necessário ter o fluxo de caixa preparado para esse tipo de operação, e como o mercado continua ainda muito instável, desembolsos podem ser necessários. Com o contrato com vencimento para outubro/20 chegando aos R$ 208,10/@, e o IFR cada vez mais próximo do nível 70, a possibilidade de vender uma parcela dos animais que serão entregues em outubro/20 se mostra mais atraente, buscando assim evitar a exposição total a possíveis desvalorizações.
Os frigoríficos continuaram ativos no mercado a termo nesta semana, destaca-se o fato de estarem disponibilizando tal tipo de contrato em mais plantas frigoríficas.
2. Enquanto isso, no atacado…
O ambiente foi positivo para a venda de proteínas animais durante a segunda semana de junho. O recebimento dos salários e da parcela do auxílio emergencial deu maior margem para a compra desses produtos pela população. Além disso, a reabertura, ainda restrita, do comércio também tem favorecido as vendas.
A última semana foi marcado pelo otimismo no atacado paulista de carne bovina, as indicações avançaram aproximadamente R$ 0,40/kg, colocando os preços da carcaça casada bovina em R$ 13,90/kg. A ponta vendedora continua trabalhando com estoques enxutos e as vendas dessa semana devem se manter nos mesmos patamares ou se ajustarem levemente.
Para o frango resfriado o cenário também foi favorável, as indicações encerraram a semana em R$ 4,12/@ – avanço semanal de 10,60% e mensal de 10,90%. Aos poucos, a oferta de carne de aves vai se ajustando ao atual nível de demanda interna, e, com isso as cotações da proteína voltou a superar a resistência dos R$ 4,00/kg, fato que não era alcançado desde a primeira quinzena de abril/20.
Já a carcaça especial suína ficou praticamente estável, fechou a sexta-feira (12/jun) em R$ 7,00/kg, acumulando alta pontual de 0,93% ante a semana anterior e alcançou os preços vistos durante o mesmo período do mês anterior. O escoamento para atender a demanda chinesa registrou uma “derrapada” na primeira semana deste mês, e desta forma, as cotações seguem estabilizadas.
No mercado dos ovos, as cotações não evoluíram, a sinalização de reabertura econômica do país pode ser um sinal de que aos poucos a população volte a migrar para as proteínas animais com maior valor agregado, no entanto, como a crise econômica ainda está instaurada, a demanda pelos ovos continua grande, desta forma, o preço se sustenta nos R$ 105,00/dz.
 
3. No mercado externo
Os envios de carne bovina _in natura_ surpreenderam, a retomada na segunda semana de junho representa um avanço de 135% ante a semana anterior, com um aumento de 37 mil toneladas na última semana. Foram enviadas ao exterior nos nove primeiros dias úteis 64,49 mil toneladas e uma receita de US$ 280,78 milhões.
A média diária ficou registrada em 7,17 mil/ton/dia, representando um avanço médio diário de 31% ante a semana anterior. Comparativamente ao mês anterior, houve uma desaceleração de 7,62%. Entretanto, se comparado ao mesmo período do ano passado a alta é de 18,89%.
Com relação ao preço médio por tonelada se manteve praticamente estável ante maio deste ano, ficou registrado em US$ 4.353,86 – baixa de pontual de 1,05%. Se comparado a junho/19 a alta foi de 12,77%. Caso o desempenho se mantenha, projeções preliminares apontam para um volume total embarcado entre 120 e 130 mil toneladas durante o mês junho.
Os embarques de milho nesta 2ª semana de junho foram pífios, a escassez de oferta nos portos fez com que a média diária de cereal exportada caísse 42% em comparação a 1ª semana do mês. O volume médio ficou em 4,44 mil toneladas, em comparação a junho/2019 a diminuição no volume embarcado está acima de 92%.
A receita gerada pelos embarques de milho para fora do país seguiu pequenos também, a média diária saiu de US$ 1,26 milhão na 1ª semana de junho para US$ 779 mil nesta semana. A oferta de milho para exportação segue restrita, visto que a colheita de milho neste ano está bem abaixo a do ano passado, e com isso, os embarques que já eram notados no mesmo período do ano anterior, não são notados agora.
Já na soja, os embarques seguiram evoluindo nesta 2ª semana do mês de junho, a média diária em volume exportado cresceu 5% em comparação a 1ª semana, estabelecendo-se em 702,15 mil toneladas. Com mais 2 semanas pela frente até o fechamento do mês, o volume embarcado até o momento já representa 74% do que fora embarcado em junho/19, isso ressalta que poderemos ter mais um recorde mensal de embarques da oleaginosa.
Do lado da receita, até o momento foram obtidos US$ 2,10 bilhões, a média diária se estabeleceu em US$ 233,58 milhões, um avanço de 54% frente aos números de junho/19. A soja segue sendo o ativo a gerar mais caixa para a balança comercial brasileira no mês de junho/20.
4. A compra do pecuarista
O milho seguiu sua trajetória de desvalorização no mercado físico nesta semana, a cotação do cereal em Campinas rompeu o suporte dos R$ 47,00/sc, e já está 6% mais barato do que era registrado há um mês atrás. A B3 precifica ainda um espaço de cerca de no mínimo R$ 3,00/sc, a serem negativados neste preço físico do milho, a colheita que já bate na casa dos 9% em Mato Grosso irá continuar pressionando a cotação deste no curto prazo.
A conta que está custando reduzir é a da reposição, mesmo com a queda de 1% na parcial mensal, o ágio do bezerro sobre o boi gordo está mais de 17 p.p. acima da média dos últimos sete anos. A valorização do boi gordo nas últimas semanas deve auxiliar na melhora desse ágio, no entanto, o cenário para tal indicador ainda deve demorar para se normalizar.
Por fim, finalizamos a primeira quinzena do mês de junho/20, e a safra norte-americana continua bem, o padrão climático tem colaborado para as perspectivas de safra recorde de milho, pressionando assim os estoques finais. No entanto, a virada de mês traz consigo uma complicação climática de possível escassez hídrica que pode trazer complicações para o desenvolvimento da safra dos EUA, a previsão climática ainda não deu uma visão mais limpa do que deve acontecer no início de julho, cabe ficar atento.
Fonte: Broadcast AE / B3 / Agrifatto
5. O destaque da semana:
A flexibilização da quarentena a partir da quarta-feira (10/06) da última semana começa a acender uma luz sobre a retomada da economia, impulsionada principalmente pela reabertura do comércio de rua na capital paulista e outras regiões do interior também retomaram as atividades.
Os estabelecimentos na região paulistana podem funcionar 4 horas por dia, entre às 11h e 15h com rígidas normas de higiene e lotação. Os shoppings, por exemplo, deverão atender até 20% da ocupação total.
Ainda assim, os índices de isolamento continuam praticamente inalterados, giraram torno de 48% durante toda a semana. O dia dos namorados na sexta-feira (12/jun) pode trazer números menores, pelas compras de última hora. Entretanto, apesar da flexibilização, o governador, João Doria, prorrogou até dia 28 de junho a quarentena em todo o estado.
A preocupação com a reabertura se dá devido a um possível segunda “onda” de contaminação, já que existe a possibilidade de tal fato acontecer nos EUA, com os protestos que vem ocorrendo no país desde a semana retrasada. A intensificação no número de casos e mortes pode acarretar em um lockdown mais intenso no país, afetando diretamente o consumo das famílias brasileiras novamente.
 
6. E o que está no radar?
Mesmo passando pelo pico da safra, a oferta de animais prontos para o abate segue reduzida, a pressão sob os frigoríficos está aumentando, que não tem outra alternativa a não ser aumentar suas indicações a fim de preencher as programações de abate. Desta forma, se desenha no horizonte, uma contínua pressão sobre a cotação do boi gordo.
Tal pressão é reafirmada pelo comportamento do atacado de carne de bovina, já que os relatos também apontam para firmeza, visto que a menor disponibilidade de produto e estoques enxutos devem manter o ambiente ajustado, ou seja, os preços firmes com tendências de alta ou estabilidade nos patamares atuais. A demanda interna está começando a dar sinais de que está se recuperando.