Yago Travagini é economista e consultor de mercado pela Agrifatto
Caroline Matos é zootecnista e trainee pela Agrifatto
Resumo da semana:
Semana pouco movimentada no mercado de boi gordo. As programações de abate seguiram alongadas e em algumas regiões chegam a atender o início de junho. O clima dá sinais de mudanças, com a chegada de frentes frias em todo o país, entretanto, as chuvas continuam a acontecer na maior parte do território. A sexta-feira refletiu pressão ao mercado spot e a cotação do indicador Cepea/B3 para o boi gordo bateu R$ 194,90/@, menor valor registrado desde o dia 19/03/20. A safra de boi gordo estará dando as caras? A resposta se aproxima conforme nos aproximamos de junho.
No atacado da carne bovina, o cenário desenha frouxidão, uma vez que o fim do mês se aproxima e a esperada ressaca pós Dia das Mães chegou. As vendas durante o fim de semana não foram animadoras e há oferta de carne disponível no mercado. Enquanto isso, o atacado do suíno e do frango parece ter solidificado um fundo de preços e agora buscam recuperação, no entanto, o frango resfriado ainda derrapa na hora de buscar valorizações.
No Brasil, a soja continua sendo a queridinha das notícias, já que as cotações continuam quebrando recorde atrás de recorde, e chegando a R$ 115,00/sc com espaço para avançar ainda mais, dependendo do movimento que teremos do dólar nas próximas semanas. No mundo, o petróleo WTI continua seu movimento de recuperação, com os estoques mundiais reduzindo pela primeira vez desde janeiro/20, voltando a ser cotado próximo dos US$ 30,00/barril.
1.1 Na tela da B3
Rompendo o preço físico (R$ 194,90/@) a dez dias úteis do encerramento do contrato, o vencimento maio/20 fechou a sexta-feira cotado à R$ 200,80/@, quinta valorização consecutiva e o maior valor desde o dia 10/03/2020, quando a pandemia da COVID-19 ganhava forma no país.
O vencimento outubro/20 seguiu o mesmo caminho, mas ainda com uma cotação menor que o contrato maio/20, encerrando a semana em R$ 199,80/@. O spread entre os contratos citados segue negativo para a entressafra, mas com uma diferença muito pequena. Com o mercado físico chegando à casa dos R$ 195,00/@ novamente, essa distorção poderá ser corrigida nos próximos dias.
Nessa última semana houve pouca alteração no número de contratos abertos na B3, no entanto, a participação dos frigoríficos na posição comprada vem crescendo, ou seja, os compradores de bovino podem estar se protegendo de uma possível alta no futuro. Movimento já alertado neste espaço na semana retrasada e que continuou na última semana.
1.1 O que o mercado futuro proporciona?
A volatilidade reduziu recentemente, proporcionando uma maior janela de negociações, ainda assim, devido às incertezas, a taxa continua acima da média histórica.
O mercado de opções apresentou melhores indicadores de prêmios na última semana. Ainda assim, os valores trabalhados continuam caros e dificultam a compra de opções. A PUT sintética continua no radar sendo a estratégia mais interessante, especialmente se realizada em combinação com a venda de animais a termo, visto que pode melhorar o preço mínimo se comparada à PUT simples sem incorrer na incidência de ajustes até que o mercado bata o strike da CALL.
A valorização dos futuros do boi gordo durante última semana sinalizou a melhora do mercado acompanhando o físico, no entanto a queda do indicador Cepea na sexta-feira preocupa e levanta o alerta da safra, principalmente no curto prazo (próximos 2 meses), já que mais bovinos devem entrar no mercado neste período. O horizonte para os vencimentos mais longos é mais animador devido as atuais condições (frigoríficos se posicionando comprados e confinamentos cautelosos), no entanto, isso ainda não está sendo refletido claramente nas cotações.
Os frigoríficos continuam ativos no mercado a termo, principalmente para o último quadrimestre de 2020, a solidificação deste movimento demonstra certa preocupação da indústria em garantir abate para o próximo semestre. Vale a pena ficar de olho.
2. Enquanto isso, no atacado…
Com um fluxo de vendas retraído no mercado interno, o preço da carcaça bovina caiu para R$ 12,90/kg nesta segunda-feira. O traseiro segue sua trajetória de caminhar com leve desvalorização, enquanto que o dianteiro se mostra mais resiliente nas vendas e apesar da pressão forçada pelos compradores, fechou a semana estável.
Vale a ressalva de que o dianteiro bovino se destaca dentre as proteínas bovinas, já que a diferença entre ele e o traseiro está no menor valor histórico e quando comparado à carcaça suína e ao frango resfriado. Isso significa que o traseiro bovino nunca esteve tão caro. A principal sustentação para o dianteiro vem das exportações, que caminham para volumes recordes, e como a preferência do mercado externo é o dianteiro, esse corte acaba se sustentando.
Sem conseguir equilibrar-se sobre a demanda, o frango resfriado, que dava sinais de recuperação, voltou a registrar desvalorização na última semana, ficando cotado em média a R$ 3,70/kg. Dentre todas as proteínas animais, o frango é a que registrou o menor aumento no comparativo anual das exportações e também a única a ver o preço da tonelada em dólar registrar desvalorização 20,06%. Ou seja, sem a forte sustentação do mercado externo, o frango vê seu preço interno patinar.
Por outro lado, o suíno engatou a quinta marcha e já volta a subir o penhasco que havia descido nos últimos meses, a alta na última semana foi de 9,29% e a cotação da carcaça especial suína fechou a semana com média de R$ 6,85/kg, o maior valor dos últimos 30 dias. As notícias boas vêm também do exterior, já que os embarques de carne suína fresca no mês de maio/20 podem dobrar no comparativo com abr/19, ainda vale a ressalva que o preço atual ainda é 32% menor que o do começo do ano de 2020. Nesse ponto, vale atenção, uma vez que as importações chinesas também bateram recorde e o preço interno chinês do produto recuou na última semana em resposta a estoques mais bem abastecidos.
Com uma demanda consolidada, o preço de venda dos ovos em São Paulo se recuperou na última semana, fechando cotado à R$ 105,00/cx. Sendo assim a única proteína animal a registrar valorização em 2020, com preços 17% maiores que os registrados no inicio do ano. A migração na demanda interna deve continuar a sustentar a cotação dos ovos no curto prazo.
3. No mercado externo
Com 10 dias úteis completos, as exportações de carne bovina in natura até a segunda semana de maio de 2020 atingiram um volume de 78,67 mil toneladas, gerando uma receita de US$ 346,35 milhões. A 2ª semana de maio teve um desempenho bem mais tímido que a 1ª semana, a queda no volume diário embarcado foi de 53%, saindo de 10,70 mil toneladas por dia na semana retrasada para 5,03 mil toneladas por dia na última semana.
Entretanto, a média diária do mês de maio continua elevada, com 7,86 mil toneladas exportadas, porém, com o desempenho mais fraco na última semana, o otimismo que a 1ª semana havia trago, se perdeu um pouco na realidade de uma China com estoque possivelmente mais elevados. A receita média diária obtida com a exportação de carne bovina está em US$ 34,63 milhões, 58% acima do registrado em maio/19.
Os envios de soja também tiveram uma 2ª semana mais fraca do que a 1ª semana de maio, no entanto, os embarques da oleaginosa continuam aquecidos, com uma média diária de 879,39 mil toneladas embarcadas e uma receita de US$ 288,90 milhões por dia de venda externa de soja.
Continuado o atual ritmo de vendas observado, as exportações brasileiras de soja podem fechar o mês de maio com mais de 15 milhões de toneladas embarcadas, a concretização deste valor poderia representar recorde para um mês de maio/20. No entanto, a diminuição no volume de vendas na 2ª semana de maio, deixa o sinal de alerta ligado.
As exportações de milho seguem calmas, com a disponibilidade de cereal no mercado físico baixa, os envios seguem na faixa das 2,1 mil por dia, gerando uma receita de US$ 478,5 mil dólares diários.
Com o milho norte-americano sendo negociado na casa dos US$ 3,21/bu, esse consegue determinar um melhor nível de competividade frente ao cereal brasileiro. E com a maior disponibilidade de milho nos EUA, as compras se concentram no país.
4. A compra do pecuarista
Sem muitas novidades no mercado físico, os preços da soja e do milho seguiram o caminho tomado pelo dólar e registraram altas semanais. A precificação para os pecuaristas, principalmente na compra do milho, continua no mercado futuro que tem oferecido uma relação de troca melhor para setembro/20 na comparação com o mês de maio/20, de 4,36 sacas por arroba de boi gordo.
Amarrando a ponta de venda do boi gordo e da compra do milho, essa seria a melhor relação de troca para um mês de setembro desde 2017. No entanto, a 2ª safra de milho brasileira chega em julho/20 e em setembro/20 teremos a safra norte-americana, que está estimada em 406 milhões de toneladas, ou seja, ainda tem muito cereal para ser despejado no mercado interno, que ainda sofre com um consumo reduzido. A exposição total não é recomendada, mas há sinais de que o milho pode se depreciar nos próximos meses, o que pode abrir maior margem para negociar a compra do cereal.
Apesar da queda na última semana, o bezerro tem encontrado sustentação na casa dos R$ 1.800,00/cab, e como o ciclo pecuário demonstra que a produção deste animais está ainda no inicio da curva de aceleração, a tendência é que o criador ainda visualize seu animal se sustentando enquanto o boi gordo continuar sustentado.
Além destes, vale ressaltar a recuperação do petróleo, que deve resultar em aumento nas cotações do diesel no Brasil, ainda mais com o dólar chegando a valores recordes. Ainda que esteja 50% mais barato que no inicio do ano, os maiores de produtores de petróleo têm se ordenado buscando reduzir a oferta deste no mundo e com isso a pressão sobre os combustíveis deve continuar.
Fonte: Broadcast AE / B3 / Agrifatto