Yago Travagini é economista e consultor de mercado pela Agrifatto

Caroline Matos é zootecnista e trainee pela Agrifatto

 

Resumo da semana:

 

O dólar aumentou seu protagonismo e fechou a última sexta-feira cotado em R$ 5,68, uma alta impressionante de 8,44% no comparativo semanal. A instabilidade política marcou as negociações que, com o desligamento de Sérgio Moro do quadro de ministros do Governo Federal, rompeu barreiras históricas.

Com o real se depreciando, as principais commodities brasileiras se tornaram mais competitivas no ambiente externo e, com isso, todas registraram valorizações nas cotações futuras. Ainda assim, no mercado spot o milho já acumula queda de 20,07% no comparativo mensal, tendo alcançado valor de R$ 47,60/sc na última sexta-feira.

As proteínas animais continuam com dificuldade de escoamento contínuo, mas as vendas de carne com osso fluíram melhor durante o fim de semana. O desgaste da ordem de isolamento é visível e houve maior movimentação nas ruas nos últimos dias, mas a reposição de estoques ainda não se fez necessária, mantendo os preços da última semana. Em outras palavras, a situação ainda está longe de se normalizar. A carcaça casada do boi caiu 1,98% nos últimos 7 dias, o frango resfriado recuou 3,98% e a carcaça suína especial, -5,31%.

 

1. Na tela da B3

O movimento de recuperação para os contratos futuros de boi gordo na B3 continuou durante a última semana. O vencimento para maio/20 encerrou a sexta-feira em R$ 193,25/@, alta de 3,40% no comparativo semanal. O contrato para outubro/20 também encerrou a semana em alta, valorizando 1,82%, com cotação de R$ 193,45/@. Isso praticamente elimina o ágio safra/entressafra.

A forte valorização do dólar deu ânimo aos participantes do mercado, dado que um real desvalorizado torna a carne bovina brasileira mais competitiva no cenário externo e remunera bem os exportadores.

Ainda que a diferença entre os preços no balcão e nos contratos futuros tenha reduzido, o deságio ainda é notado para todos os contratos futuros atualmente negociados. O mercado futuro segue sendo negociado extremamente ajustado e de olho no indicador Cepea/B3.

A volatilidade tem atraído mais integrantes e melhorado a liquidez dos negócios. O número de contratos em aberto do boi gordo totalizou 10.786 no fechamento da última semana, alta de 21,72% frente ao mesmo período de 2019, quando o número estava em 8.861. No mercado de opções, o volume de contratos em aberto é 14,18% maior. O motivo de a proporção ser menor àquela observada com contratos futuros é que a forte valorização do prêmio em resposta ao aumento da volatilidade.

1.1 Status das ferramentas de hedge

A instabilidade continua sobre o mercado brasileiro, e com isso a volatilidade e pessimismo continuam a dificultar as alternativas de hedge.

O mercado de opções busca encontrar uma baliza para a realização de negócios, no entanto os prêmios continuam altos, dificultando o fechamento dessas em strikes atrativos.

Com a valorização dos contratos futuros na última semana, a PUT sintética continua sendo a estratégia mais interessante, visto que pode melhorar o preço mínimo se comparada à PUT simples.

Já os futuros de boi gordo continuam como uma opção mais acessível para quem tem as margens apertadas, no entanto, vale a ressalva de que é necessário ter o fluxo de caixa preparado para esse tipo de operação, visto que com a alta volatidade e os patamares baixos de precificação, as chances de desembolso para a manutenção das operações são grandes.

Os frigoríficos continuam fora do termo.

Para os insumos, a janela que se abriu para a realização de CALLs no milho se fechou temporariamente com a valorização dos contratos futuros nos últimos dias. Ainda assim, deve-se acompanhar a movimentação do dólar nos próximos dias, pois a desvalorização deste pode abrir novas janelas de negociações das opções.

 

2. Enquanto isso, no atacado…

No atacado paulista, as principais proteínas de origem animal continuam perdendo força, principalmente frango e suíno. No caso da carne bovina, a produção ajustada dos frigoríficos com abates intercalados e reduzidos – a fim de evitar o acúmulo de estoques -, impediu uma queda mais acentuada.

As vendas de proteína bovina continuam engessadas, o baixo fluxo de saída derrubou as cotações da carcaça casada bovina, que passou de R$ 12,90/kg para R$ 12,50/kg – acumulando baixa semanal de 3,10%.

 

Segundo as cotações levantadas pelo CEPEA, o spread no atacado de carne bovina (diferença de preços entre a carcaça e a arroba do boi gordo) se manteve em campo positivo, encerrando a terceira semana de abril em 1,32%. A ociosidade, entretanto, indica que o resultado operacional da indústria deverá sofrer nas próximas demonstrações.

 

As indicações do frango resfriado continuaram perdendo força e encerraram a semana na faixa dos R$ 3,73/kg – desaceleração semanal de 4,24% e baixa de 13,96% na comparação mensal –  voltando aos mesmos patamares de agosto/2018.

 

Já a carcaça especial suína, fechou a semana em R$ 5,82/kg – queda de 4,82% ante a semana anterior e acumulada baixa mensal de 32,87%.

 

 

3. No mercado externo

A Secretaria de Comércio Exterior (Secex) divulgou as exportações de carne bovina in natura referentes aos 16 (dezesseis) primeiros dias úteis de abril/20 que contabilizaram um volume total de 96,50 mil toneladas e uma receita de US$ 421,75 milhões.

 

A média diária registrada ficou em 6,03 mil toneladas – avanço de 12,08% em comparação ao mesmo período do ano passado. O valor médio por tonelada registrou-se em US$ 4.370,63, aumento de 15,65% quando comparado com o valor médio de março/20.

 

Projeções apontam para exportações totais entre 115 e 125 mil toneladas enviadas até o final de abril, um cálculo considerando o histórico dos últimos três meses. Se confirmado, o total exportado será em média 4,71% menor do que o volume enviado em março/20 (125,93 mil toneladas) e avanço de 9,29% ante o mesmo período do ano passado, quando foram enviadas 109,80 mil toneladas.

 

Vale a pena ressaltar que possivelmente os embarques de carne bovina destinados aos países muçulmanos podem ser menores devido à época do Ramadã, iniciado no último sábado (25/abr).

 

 

4.Grãos e o seu poder de compra

O mercado físico e futuro do milho teve movimentações inversas nesta semana. Enquanto o indicador Cepea/B3 acumulou desvalorização de 7,66% na semana, fechando a sexta-feira cotado em R$ 47,60/sc, o contrato futuro para julho/20 registrou alta de 1,20%, cotado em R$ 43,92/sc.

Enquanto no físico as negociações continuam paradas, com os compradores evitando se posicionar, no mercado futuro a pressão do dólar e de possíveis complicações climáticas com a safrinha brasileira puxaram o preço para cima. As previsões para os próximos 10 dias em parte do centro-sul mostram um cenário seco, principalmente em SP, PR e MS, e isso poderá pressionar ainda mais o mercado.   

Com o derretimento do preço no mercado físico, a relação de troca na última semana ficou em 4,20 sc/@, a melhor desde a última semana de dezembro/19. Ainda assim, cabe a ressalva de que há pouco milho para entrega física no Brasil, e os negócios firmados são pontuais, o maior volume de comercializações ocorrem para a safrinha que será entregue a partir do mês de junho/20.

A soja continua com um mercado ajustadíssimo, com o dólar ditando o ritmo da evolução do preço da oleaginosa. O fechamento da última sexta-feira no mercado físico ficou em R$ 106,16/sc, maior valor da história. E com o preço para mar/21 há patamares elevados, os negócios para a safra 20/21 fluem bem. A atenção agora vai para o comportamento da safra norte-americana que atingiu 2% de área semeada.

 

Fonte: Broadcast AE / B3 / Agrifatto

 

 

 

 

5.O destaque:

O destaque da última semana fica para disparada do Dólar frente ao Real, relacionado, principalmente, ao cenário de extrema tensão política nacional. A moeda norte-americana encerrou a sexta-feira em R$ 5,68, quebrando mais um recorde – alta diária de 2,63% e com 8,25% na comparação semanal – maior alta desde 2008, no ápice da crise global. O valor máximo chegou a bater R$ 5,74 após o pedido de demissão do Ministro da Justiça, Sérgio Moro, mas voltou aos R$ 5,68 no pregão de hoje. Desde o início do ano a moeda acumula avanço de 41,08% ante o real, e só neste mês a alta é de 8,88%.

Vale a pena ressaltar que o valor do dólar influencia diretamente na competitividade das commodities brasileiras ante os produtos ofertados por outros países.

Enquanto o dólar alcançava valores recordes, o Ibovespa encerrou a semana em forte queda com os olhos dos investidores voltados à instabilidade política, acumulando mais de 9,5% de baixa durante o pregão. Na esteira vem o Índice de Confiança da Indústria (ICI), que na prévia de abril já demonstra recuo de 39,5 pontos em relação ao fechamento de março, ficando em 58 pontos. Se confirmado, o índice será o menor do patamar histórico.

Com relação ao mercado externo, a Tyson Foods anunciou o fechamento temporário da maior planta de processamento de suínos do EUA e, no fim da semana, também interrompeu as atividades da unidade de bovinos, localizada Washington, a fim de testar todos os 1,4 mil funcionários para Covid-19. Ainda não há previsão para retomada das atividades.

O Sindicato Internacional de Funcionários Comerciais e da Indústria de Alimentos quantifica que mais de 5 mil funcionários das indústrias de carnes e alimentos dos EUA foram infectados ou expostos ao novo coranavírus.

 

 

6. E o que está no radar?

O governador de São Paulo, João Dória (PSDB), anunciou na última semana que o planejamento de reabertura gradativa dos comércios e atividades no estado deve ser divulgado nas próximas semanas e passar a valer a partir do dia 11/maio.

Enquanto isso, o consumo doméstico se mantém a passos lentos. A migração de consumo para proteínas mais baratas, como ovos, suínos e aves, continua como saída para o consumidor. O isolamento perde força de maneira visível, o que melhorou as compras durante o fim de semana, mas ainda não foi capaz de gerar mudança de preços no atacado.

No mercado de boi gordo, o acompanhamento das condições climáticas deve ganhar mais espaço, visto que a retenção dos animais no pasto vai se tornando estratégia inviável conforme o período de seca começa a bater na porteira.