Caroline Matos é zootecnista e trainee pela Agrifatto

Yago Travagini é economista e consultor de mercado pela Agrifatto

 

 

Resumo da semana:

A última semana foi marcada pela continuação da queda dos preços do milho. O cereal terminou a sexta-feira (174) cotado em R$ 51,55/sc, uma queda de 7,78% no comparativo semanal e o menor valor desde o dia 11/02/2020. O recuo no físico, puxou também as cotações no mercado futuro e o contrato para julho/20 bateu R$ 43,40/sc. A retomada das chuvas em algumas regiões produtoras do país e a indefinição sobre a demanda nacional e global do cereal pairam sobre o mercado do milho e abriram oportunidades para aqueles que necessitavam comprar.

A incerteza sobre a demanda de milho também é reflexo dos fortes recuos sobre as cotações da carne suína e de aves no atacado, que acumulam quedas mensais de 30% e 11%, respectivamente. O mercado está se reajustando e uma redução no consumo de milho nessas cadeias agropecuárias resultará em maior ofertas e estoques finais. Além disso cabe ressaltar que essas duas proteínas competem diretamente com a carne bovina, e com a contração projetada para o PIB brasileiro, a proteína bovina deve começar a ser testada em valores mais baixos no curto prazo.  

Ainda que sem grandes novidades durante a última semana, o mercado do boi gordo vê em um horizonte de curto prazo com perda de suporte das pastagens, que começam a sofrer por estresse hídrico. Além disso, as proteínas concorrentes mais baratas registrarem fortes quedas e, assim, tendem a ganhar espaço à mesa nos próximos meses, conforme aumenta o desemprego e o arrocho econômico.

 

1. Na tela da B3

O boi gordo na B3 encerrou com recuperação para os valores de seus principais contratos. O fechamento maio/20 encerrou a última semana em R$ 186,90/@, alta de 2,58% frente ao valor da semana anterior. Já o contrato para outubro/20 em R$ 190,00/@ também mostrou pequena correção de 1,82%, conforme as negociações no mercado físico se estabilizaram.

Ainda assim, todos os contratos são precificados abaixo dos atuais preços de balcão, inclusive o out/20, que representa o pico da entressafra. O movimento é reflexo da enorme incerteza do mercado acerca do consumo nos próximos meses. Isso significa que o ágio da entressafra está sendo totalmente desconsiderado das cotações, uma queda projetada de 5,7% em relação ao último indicador Cepea/B3 registrado.

A liquidez tem se mostrado maior, conforme cresceu a volatilidade dos preços na comparação anual. Até o fim de março, os contratos futuros contabilizavam mais de 110 mil negócios, um crescimento de 247% em relação ao mesmo período de 2019. Apesar de o risco de ajuste ter crescido para o hedge com contratos futuros, a liquidez aumenta a qualidade das negociações neste momento.

 

1.1 Status das ferramentas de hedge

A alta volatilidade continua a onerar todas as alternativas de hedge.

As opções têm registrado prêmios em valores nominais bem acima da média histórica, resultado de volatilidades negociadas em até 32%, a depender do vencimento e ocasião de negócio.

Já os futuros de boi gordo se apresentam como uma opção mais plausível, no entanto, vale a ressalva de que é necessário ter o fluxo de caixa preparado para esse tipo de operação, visto que com a alta volatidade e os patamares baixos de precificação, as chances de desembolso para a manutenção das operações são grandes. Os frigoríficos continuam fora do termo.

Uma operação interessante que continua no radar é a compra de PUT sintética, que melhora o preço mínimo em relação à PUT simples.

Para os insumos, a queda recente nos futuros do milho abriu espaço para o hedge, e ainda que haja fortes fatores baixistas ressoando no mercado, o risco climático sobre a 2ª safra ainda existe. Sendo assim, as CALLs se mostram como uma operação conservadora no momento e mitigam o risco climático para aqueles que ainda não fizeram suas compras do milho safrinha.

 

2. Enquanto isso, no atacado…

A drástica redução da operação de restaurantes, bares e fast foods, devido ao isolamento social, juntamente com o aumento da diferença entre a carne bovina com o frango e o suíno têm enfraquecido a demanda. No atacado, as vendas de carne bovina andam travadas. E apesar da baixa saída, a ponta vendedora mantém os estoques curtos, evitando o acúmulo de produtos. A última quinta-feira, costumeiramente dia de maior movimentação na semana, registrou pouquíssimas vendas.

Na esteira da chegada da segunda quinzena do mês, período sazonal de menor consumo, o fluxo de saída deve continuar estável com tendência de queda. Ainda assim, os preços continuam balizados em R$ 12,90/kg, regulados pela produção menor.

Segundo as cotações levantadas pelo CEPEA, o spread no atacado de carne bovina (diferença de preços entre a carcaça e a arroba do boi gordo) continuou em campo positivo, encerrando a terceira semana de abril em 1,71%.

O frango resfriado passou por ajustes negativos, com as indicações orbitando a faixa dos R$ 3,90/kg – desaceleração semanal de 6% e queda de 11% na comparação mensal, menor valor desde o final de setembro/19 quando os preços estavam em R$ 3,88/kg.

Para a carcaça especial suína, a baixa é ainda mais acentuada, as cotações caíram 9% na última semana, colocando os valores em aproximadamente R$ 6,12/kg – menor valor desde fevereiro/19. No acumulado mensal a queda é de 30%.

 

 3. No mercado externo

A Secretaria de Comércio Exterior (Secex) divulgou as exportações de carne bovina in natura referentes aos 12 (doze) primeiros dias úteis de abril/20 que contabilizaram um volume total de 67,42 mil toneladas e uma receita de US$ 296 milhões.

A média diária registrada ficou em 5,61 mil toneladas – queda de 6,50% ante a segunda semana do mês e avanço de 4,26% em comparação ao mesmo período do ano passado. O valor médio por tonelada registrou-se em US$ 4.592,55, aumento de 21,52% quando comparado com o valor médio de abril/19.

Projeções preliminares deste mês apontam para 110 e 115 mil toneladas enviadas até o final de abril, um cálculo considerando o histórico dos últimos três meses e uma possível queda dos embarques no último período do mês.

Os bons resultados para a exportação em março animaram o mercado, no entanto, a análise fria dos indica que 6 dos 10 principais importadores de carne brasileira em 2020 projetam contração econômica acima de 3%, algo preocupante para o desempenho dos envios de carne bovina nos próximos meses.

Além disso, abril e maio deverão refletir embarques de pedidos realizados pela China entre janeiro e fevereiro, pico do problema com o COVID-19 por lá. Isso significa que o volume embarcado para o país asiático não deverá renovar suas máximas nos próximos 45 dias.

Os envios externos da soja brasileira reduziram o ritmo na última semana, no entanto, o volume enviado nos 12 dias úteis de abril/20 já chega a 8,87 milhões de toneladas. Na comparação com abril/19, o incremento em volume enviado já chega 65,19%, no mesmo período do ano passado o total enviado chegava a 5,37 milhões de toneladas.

O preço da tonelada da oleaginosa enviada para fora do país está em US$ 337,31/t, ainda assim, com o grande aumento do volume exportado, a receita gerada já chega a US$ 2,99 bilhões. O dólar elevado tem dado competitividade ao produto brasileiro e com os chineses ainda forte nas compras, a tendência é de mais um ótimo mês para as exportações brasileiras de soja.

No caso do milho, sem muito cereal disponível no mercado interno, os envios continuam devagar, com uma média diária de 367,8 toneladas, volume 97,79% menor que o registrado no mesmo período do ano passado.

A receita gerada com as exportações do cereal totaliza pouco mais de US$ 1,88 milhão, no mesmo período do ano passado, os embarques já haviam acumulado uma receita de US$ 39,81 milhões, caindo assim 95,28% no comparativo anual.

 

4. Grãos e o seu poder de compra

Na última semana, começou o plantio do milho nos EUA. Foram 3% da área total estimada já semeada enquanto o mercado interno viu o preço do cereal voltar próximo dos R$ 50,00/sc em Campinas/SP e a cotação na B3 para julho/20 recuar abaixo dos R$ 43,00/sc.

A atenção durante esta semana fica para o acompanhamento da semeadura da safra norte-americana, as precipitações no centro-sul brasileiro que já preocupam o mercado e também o comportamento dos compradores do cereal, que se retraíram em virtude da indefinição na demanda brasileira, principalmente sobre etanol e as proteínas animais.

A relação de troca boi/milho atingiu 3,77 sc/@ na média da última semana, melhorando o poder de compra do produtor. Esse foi o maior registro desde a última semana do mês de fevereiro/20. O declínio do cereal abriu oportunidades para o pecuarista que necessitava adquirir milho. Nas próximas semanas, conforme as pastagens forem se exaurindo e o fluxo de entrega de bois aos frigoríficos aumentar, recuos poderão ser sentidos.

A semana foi pouco movimentada no mercado de soja brasileiro. No físico, a variação foi de 0,40% no comparativo semanal, com esta se mantendo cotada acima dos R$ 100,00/sc. A pressão externa continua forte sobre a oleaginosa, visto que o recuo do contrato para setembro/20 na CBOT foi de 3,1% nesta semana. Ainda assim, o dólar tem sustentado os negócios no Brasil.

A questão é até quando o dólar permanecerá na casa dos R$ 5,20, que continua volátil dado o grau de incerteza relativo à crise aguda observada em ambiente global.

Fonte: Broadcast AE / B3 / Agrifatto

 

5. O destaque:

O destaque da última semana foi para o anúncio da continuidade do fechamento do comércio em São Paulo até o dia 10 de maio.

Além disso, o Produto Interno Bruto (PIB) do 1° trimestre da China caiu 6,8% na comparação com o mesmo período do ano passado e 9,8% ante o 4° tri/2019. O forte recuo da segunda maior economia global aconteceu pela primeira vez desde pelo menos 1992 (momento em que os dados começaram a ser divulgados).

Apesar de contrariarem as expectativas dos economistas, que previam uma que da 6,5%, os dados da produção industrial vieram maiores do que as estimativas, demonstrando que os incentivos fiscais e de crédito deram um alívio para a economia chinesa, ajudando na recuperação de empresas fechadas desde fevereiro.

Segundo o porta-voz da agência de estatísticas, Mao Shengyong, o desempenho econômico da China deve ser muito melhor no segundo semestre. Para 2020, o Fundo Monetário Internacional (FMI) prevê crescimento de 1,2% do PIB chinês.

 

6. E o que está no radar?

A extensão do período de fechamento do comércio paulista, a chegada da segunda quinzena do mês, período de menor saída de carne bovina no mercado interno, e o aumento do desemprego com perda de poder de compra devem manter as vendas no atacado lentas.

Além disso, algumas regiões do Brasil Central já se encontram há mais de 30 dias sem chuvas. O período seco já mostra sua influência, o que impossibilita a retenção dos animais no pasto e pode causar um aumento na oferta de animais prontos para abate nas próximas semanas.

A dificuldade de escoar a produção devido ao ajuste produtivo promovido pelos frigoríficos arrisca alongar o período de pressão negativa sobre as cotações, aumentando também consigo o risco de preços.

Sendo assim, a demanda interna enfraquecida aliada a seca, geram tendências baixistas nas indicações da arroba no curto prazo.