Gustavo Rezende Machado é consultor de mercado pela Agrifatto
Na última quarta-feira, dia 24 de janeiro de 2018, o dólar registrou forte queda de 2,82%, passando de R$ 3,24 do dia anterior para o fechamento seguinte em R$ 3,15, o menor patamar desde 15 de outubro.
O recente recuo da moeda norte-americana foi a consequência de dois principais desdobramentos: o primeiro por um enfraquecimento do dólar frente a uma cesta de moedas após a fala do secretário do Tesouro dos Estados Unidos, de que um dólar mais fraco traria oportunidades de comércio. O comentário promoveu a valorização do Euro ao seu nível mais alto em três anos.
Já no dia seguinte, o presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, esclareceu que apoia um dólar valorizado, o que causou naquele momento um fortalecimento da moeda norte-americana.
O segundo e importante fator que implicou a forte variação cambial foi o julgamento do ex-presidente Luís Inácio Lula da Silva. Sua condenação mantida sinaliza ao mercado o possível cenário de candidatos para as eleições presidenciais deste ano, e seu impedimento fortaleceu o reformismo, valorizando o Real neste momento.
O fato é que desde o ano passado se observa período de forte volatilidade do câmbio em decorrência de declarações, relações entre países, ações dos bancos centrais e ainda desdobramentos de movimentações políticas internas.
Neste sentido, nota-se que houve três períodos de maior variação da relação entre a moeda brasileira e o dólar. O primeiro foi em maio, em consequência as operações da Polícia Federal. O segundo momento aconteceu em outubro, com o Banco Central Norte-americano aumentando a taxa de juros daquele país.
Finalmente, os acontecimentos recentes causaram a segunda maior taxa de variação cambial do período.
Para 2018 a volatilidade cambial deve seguir em alta, especialmente conforme o período eleitoral se aproxima.
O último boletim FOCUS elaborado pelo Banco Central do dia 26 de janeiro, reduziu pela segunda semana consecutiva a previsão da taxa de câmbio para o final de 2018, passando de R$ 3,34 para R$ 3,30, um recuo expressivo considerando que a relação foi mantida em R$ 3,35 durante os últimos meses do ano passado.
Observe pelo gráfico 2 as médias mensais do câmbio desde o início de 2017 até dados parciais de 2018.
A questão é que o dólar não deve se manter nos baixos patamares alcançados na semana passada, e pode superar a marca de R$ 3,20 ainda no curto prazo.
Atualmente já se observa um movimento técnico com as cotações registrando ágio nos últimos 5 dias.
A expectativa ainda é de dólar mais valorizado no médio prazo, com ações do Banco Central norte-americano aumentando os juros daquele país e fortalecendo o dólar. Além disso, como já dito, as eleições presidenciais brasileiras deverão causar períodos de forte variação cambial.
Mas a recuperação do dólar nos próximos meses deverá ser positiva às operações de exportação. Os envios de soja em grão passam a se intensificar nos próximos meses com a maior concentração dos embarques em maio, período em que o dólar deverá registrar patamares mais altos que os atuais.
Para as exportações de carne bovina, a estimativa é de ampliação do volume durante os próximos meses, com o mercado internacional aquecendo-se gradualmente até o meio do ano e, de acordo com o levantamento histórico, maio e julho deverão concentrar os maiores níveis de exportação de carne bovina neste primeiro semestre de 2018 (gráfico 3).
Portanto, devemos aguardar uma recuperação cambial no curto prazo, fortalecimento da moeda norte-americana no médio prazo, mas o mais importante, 2018 deverá ser marcado ainda por grande variação cambial, o que impute maior risco as operações neste ano.