Gustavo Rezende Machado é consultor de mercado pela Agrifatto
A recuperação dos preços pagos pela arroba de boi gordo no segundo semestre de 2017 resultou em melhor relação de troca, especialmente entre outubro e dezembro do ano passado, mas o que se observa neste início de 2018 é uma pressão negativa em consequência do baixo consumo interno, natural para o período do ano.
Por outro lado, o preço do bezerro tende a ganhar fôlego nesta época do ano, já que o período de chuvas promove manutenção da capacidade de suporte das pastagens, estimulando o mercado de reposição em alguns estados e o potencial de negociação.
Ou seja, em algumas regiões produtoras, o que se observa é um ágio sobre o preço do bezerro entre dezembro e janeiro que reduziu o poder de compra do pecuarista neste mês.
Neste sentido, os dados do CEPEA (Centro de Estudos Avançados em Economia Aplicada) indicam que em São Paulo o preço do bezerro, que subiu 1,32% entre dezembro e janeiro/18, causou leve queda de 1,70% da relação de troca no mesmo período, com a proporção atual em 2,34 bezerros pela venda de boi terminado.
O gráfico 1 ilustra a relação de troca em São Paulo desde o início de 2017 até os dados parciais deste mês.
Mas o destaque fica para o estado de Goiás, onde preço do bovino terminado recuou 3,70% (aumentando o diferencial de base com São Paulo) entre este mês e o mês de dezembro, enquanto que no mesmo período o bezerro subiu 1,32%.
Deste modo, é possível comprar em Goiás 2,11 bezerros pela venda de boi gordo, uma queda de 7,80% ante a proporção de 2,30 em dezembro.
Por outro lado, houve estados onde a relação de troca praticamente se manteve entre os dois meses, ou ainda exibiram variação positiva.
O movimento neste caso foi consequência da desvalorização do preço do animal terminado que desmotivou a reposição, e assim o valor do bezerro registrou queda em maior proporção.
Além disso, as condições de pastagens em cada estado também exercem forte influência no ritmo de negociação de animais para engorda, com a menor liquidez equilibrando o preço do bezerro em patamares menores.
Neste sentido, Mato Grosso do Sul manteve o poder de compra do pecuarista entre dezembro e janeiro, registrando proporção de 2,10 bezerros pela venda de boi gordo. O destaque para este estado fica na queda de 3,22% do preço do bezerro desde outubro/17 (gráfico 2).
Já os estados de Minas Gerais e Mato Grosso registraram recuo em maior proporção da cotação do bezerro do que a queda das cotações do animal terminado, promovendo variação positiva para a relação de troca.
Para Minas Gerais a proporção fica 2,18 bezerros por boi gordo (alta de 3,8% em janeiro). Enquanto que no MT a variação positiva menor, de 0,9% entre os dois meses resultou em relação de troca de 2,20 bezerro/ boi gordo.
Por fim, para analisar as perspectivas futuras, é preciso considerar o ciclo pecuário. De modo que se observa queda da relação de troca entre 2013 e 2015, devido à valorização do bezerro que resultou na menor participação de fêmeas em estímulo a reprodução.
Atualmente, o aumento do rebanho brasileiro deve manter os preços de animais para engorda pressionados neste ano, e considerando a perspectiva positiva para os preços pecuários no longo prazo, o poder de compra do pecuarista deve ser favorecido nos próximos anos.
Para os próximos meses a projeção é de maior influência da safra que deprime os valores pagos pelo bovino terminado, e assim causar queda da relação de troca, possivelmente até abril, observe pelo gráfico 4 que a curva negativa nos primeiros meses do ano ocorre entre 2013 e 2016 (em destaque pelos círculos em vermelho).