Os preços da soja no Brasil devem se manter em nível elevado, segundo análise do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea). “A demanda internacional aquecida, que favorece as exportações americanas e brasileiras (os embarques de março foram os maiores da história) e as incertezas sobre a produção argentina devem manter os preços em patamar elevado no Brasil”, diz o Ipea em nota de conjuntura sobre Mercados e Preços Agropecuários, que passará a ser publicada trimestralmente.
A pesquisadora associada do Ipea, Ana Cecília Kreter, afirmou que os estoques de passagem globais da oleaginosa estão relativamente baixos e que há um aumento na comercialização. “Existe demanda maior e os estoques estão baixos e devem permanecer baixos”, disse ela ontem (29), durante o webinar.
Milho – O Ipea fez também uma avaliação sobre o mercado de milho. Conforme o Instituto, se a segunda safra de milho, responsável por mais de dois terços da oferta brasileira do cereal, tiver problemas devido à seca, a tendência é de que os preços do grão se mantenham em patamares altos no País. “Apesar de a Conab prever recorde na produção, a seca pode impactar negativamente a produtividade da segunda safra, tendo em vista a restrição hídrica no Cerrado brasileiro a partir de maio e as baixas temperaturas no Sudeste, no Paraná e em Mato Grosso do Sul”, diz o documento. “Se confirmado, esse ambiente contribui para a manutenção da tendência de alta dos preços.”
Ana Cecília acrescentou que os estoques de passagem globais estão baixos – pela terceira safra consecutiva – e o consumo deve ser maior do que a produção, segundo o Departamento de Agricultura dos Estados Unidos (USDA).
De acordo com o Ipea, os altos preços no Brasil até o momento, mesmo com a colheita da primeira safra, se devem à relutância do produtor em vender por causa do atraso do plantio da safrinha e dos baixos estoques no primeiro semestre.
Trigo – No mercado de trigo, os baixos estoques nesta entressafra devem sustentar os preços do grão no Brasil, mas os moinhos parecem estar suficientemente abastecidos para atender à baixa demanda por derivados, segundo perspectiva do Ipea. “Além disso, agentes estão acompanhando o crescimento nas áreas de produção da safra 2021-2022 na Argentina e nos Estados Unidos”, informa a nota de conjuntura sobre Mercados e Preços Agropecuários da entidade.
Segundo o documento, as negociações de trigo no Brasil foram menos intensas no primeiro trimestre deste ano porque produtores estavam mais focados na colheita e armazenagem das safras de soja e milho. Isso colaborou para que o preço do trigo aumentasse durante o período de entressafra.
A pesquisadora associada do Ipea Ana Cecília Kreter destacou no evento que, no mundo, a China tem sustentado a demanda pelo trigo. “O estoque mundial aumentou em 6% porque a China busca formar estoques de reserva”, disse ela. (AE)