O mercado de câmbio tende a se ajustar à alta do dólar no exterior nesta manhã, diante do avanço dos juros dos Treasuries nos Estados Unidos, o impasse sobre o Orçamento de 2021 e aumento do risco político em meio à perspectiva de abertura da CPI da Covid-19 pelo Senado na próxima semana.
O investidor vai monitorar a reação do presidente Jair Bolsonaro à determinação do ministro do STF Luís Roberto Barroso para que o Senado instale uma CPI para apurar a denúncia de senadores de omissão do governo federal no enfrentamento da pandemia no País. O presidente do Senado, Rodrigo Pacheco, criticou a determinação nesse momento, mas afirmou que “decisão judicial se cumpre” e que a comissão deve ser instalada na semana que vem.
A sinalização dada por Bolsonaro a empresários em jantar na quarta-feira, de que faria vetos no Orçamento, elevou a temperatura política em Brasília diante da ameaça do comando do Congresso de acabar com o alinhamento com o governo durante a pandemia. Criticado como um dos principais artífices da maquiagem no Orçamento de 2021, o senador Marcarcio BittarB-AC), que relatou o projeto, disse ao Broadcast que não chegou ao valor de R$ 29 bilhões de emendas de relator apenas por sua conta e reafirmou o conhecimento do Ministério da Economia sobre as negociações. Ontem à noite, Bolsonaro afirmou que “está feito o orçamento, o que tiver, porventura, de excesso, vamos buscar uma solução”. O vice-presidente Hamilton Mourão saiu em defesa da preservação do teto de gastos no Orçamento de 2021 ontem ao declarar que o País não pode fugir de sua principal âncora fiscal, senão “quebra”.
Sobre as eleições de 2022, uma nova pesquisa indica tendência de polarização, com o presidente Jair Bolsonaro e o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva liderando a intenção de voto para presidente no Estado de São Paulo, segundo sondagem do Ipespe. Em dos cenários testados, os dois estão empatados com 27% das intenções de votos cada e, em outro, Lula lidera com 29% das intenções de voto, ante 27% para Bolsonaro.
Na abertura do câmbio, os investidores vão monitorar o IPCA de março, que tende a ser o maior para o mês em seis anos e superar o teto da meta em 12 meses, segundo pesquisa do Projeções Broadcast. Podem precificar também a possibilidade de alta de 0,75 ponto da Selic, em vez de 1,00 ponto, na reunião do Copom de maio, após o diretor de Política Monetária do Banco Central, Bruno Serra, afirmar ontem à noite que o ajuste “mais célere” da Selic foi importante para “não perder a meta de inflação este ano”. Serra alertou que o risco de “deslocamento” da projeção do IPCA de 2022 é “algo que nos preocupa”. De qualquer modo, Serra avaliou ainda que, “olhando para frente, o juro está adequado, está no grau de estímulo adequado”.
O fluxo cambial volta ao radar em meio à realização do leilão de terminais portuários hoje. Serão oferecidos quatro terminais no porto de Itaqui (MA), com contrato de 20 anos, e outro em Pelotas (RS), por 10 anos. O governo estima R$ 600 milhões de investimentos contratados. Nesta semana, o governo federal arrecadou R$ 9,4 bilhões com leilões de 22 aeroportos e um trecho de ferrovia na região da Bahia, a Fiol.
Nas próximas horas, o presidente do Banco Central, Roberto Campos Neto (11H), o diretor de Política Econômica, Fabio Kanczuk (11h45) e o ministro da Economia, Paulo Guedes (12H) ficam no radar também em eventos abertos à imprensa e podem falar sobre o resultado da inflação, as dificuldades sobre o Orçamento em meio ao aumento dos riscos fiscal e político.
Ontem, o dólar à vista fechou em queda de 1,23%, aos R$ 5,5742, reagindo à desvalorização do dólar e recuo dos juros dos Treasuries em meio aos sinais estimulativos trazidos pelas atas do Federal Reserve e do Banco Central Europeu. (AE)