O dólar tende a ficar volátil na sessão, mas pode abrir em alta leve, ajustando-se à valorização da moeda americana na sexta-feira no exterior em meio ao feriado, reagindo ao payroll forte dos Estados Unidos. A criação de 916 mil empregos em março no país, acima da mediana de 700 mil vagas esperadas, além de revisões positivas dos números de meses anteriores, gera expectativas otimistas sobre a economia e a inflação americanas e apoiam também uma alta dos juros dos Treasuries longos nesta manhã, enquanto o dólar está mais fraco hoje frente divisas principais e grande parte das moedas emergentes e ligadas a commodities.
Aqui, o impasse sobre o Orçamento de 2021 fica no radar, diante da indefinição sobre o que será feito com as pedaladas incluídas na proposta e que ameaçam o teto de gastos. Para driblar a pressão do Congresso sobre o ministro da Economia Paulo Guedes, não se descarta a possibilidade de o governo decretar calamidade pública, de novo, diante da pandemia fora de controle a fim de evitar a possibilidade de abertura de processo de impeachment do presidente Jair Bolsonaro, caso sancione o orçamento sem vetos. A inflação alta tende a continuar pesando também nos ajustes dos ativos locais.
O presidente do Banco Central, Roberto Campos Neto, reúne-se hoje com banqueiros das principais instituições financeiras do País. Embora o evento seja fechado, investidores vão monitorar as informações sobre a reunião. Na sexta-feira, em entrevista ao Broadcast/Estadão, Campos Neto, alertou sobre o risco de descontrole das contas públicas. Além disso, ele ressaltou que a vacinação no Brasil é que vai ditar o ritmo de abertura da economia. Os dois fatores estão no radar do BC para a definição dos próximos passos da taxa Selic, os juros básicos do Brasil, que depois de cair para o nível histórico de 2% ao ano, subiram para 2,75% para conter o avanço da inflação.
O alerta de Campos Neto pode acentuar a inclinação da curva de juros, com maior prêmio na parte longa da curva a termo. A curva tem mostrado maior chance de alta de 100 pontos-base da Selic em maio, mas a possibilidade de um aumento de 125 p.b têm aparecido na precificação em dias mais tensos no mercado. “Se o Orçamento passar a percepção de que ele é inexequível ou precise fazer algum tipo de suplementação de crédito para que atinja os números, é um fator que vai preocupar o BC. É um fator que vai alterar o prêmio de risco fiscal que está embutido nas variáveis macroeconômicas e isso atrapalha a condução da política monetária”, disse Campos Neto.
O Supremo Tribunal Federal (STF) fica no radar também, após a prefeitura de Belo Horizonte e o partido Cidadania acionarem neste domingo a Corte para derrubar a decisão do ministro Kassio Nunes Marques, que liberou a realização de cultos e missas em todo o País. A expectativa de integrantes da Corte é a de que a medida seja revista. Nesta segunda-feira, o ministro Gilmar Mendes deve decidir sobre uma outra ação, apresentada pelo PSD, contra decreto do governo de São Paulo que barrou atividades religiosas coletivas na pandemia.
Até hoje, a pandemia já provocou 331.530 óbitos no Brasil, mas uma projeção feita pela Universidade de Washington, dos Estados Unidos, aponta que, até 1º de julho, o País pode atingir a marca de 562,8 mil mortes por covid-19. O Ministério da Saúde assegura apenas 30 milhões de doses das vacinas produzidas pelo Instituto Butantan e a Fiocruz neste mês e deve usar o exército no apoio à vacinação. Em meio a recordes de mortes e lotação de hospitais e UTIs, o prefeito do Rio de Janeiro, Eduardo Paes, prorrogou as medidas restritivas em vigor no município até sexta-feira, 9 de abril, enquanto a Prefeitura de São Paulo adiou também a volta às aulas presenciais nas escolas públicas e privadas de 5 para 12 de abril.
Em relação ao fluxo cambial, há expectativas sobre os leilões de concessão de aeroportos, marcado para quarta-feira. A expectativa é se haverá ou não uma boa participação de investidores estrangeiros nesses leilão, diante do quadro grave da pandemia no País e dos riscos fiscais e políticos do governo Bolsonaro.
Na última quinta-feira, antes do feriado, o dólar encerrou em alta de 1,54%, cotado a R$ 5,7153. O dólar futuro para maio encerrou em alta de 1,35%, cotado a R$ 5,7190. (AE)