O dólar pode abrir em queda, após acumular em março avanço de 0,41% e de 8,48% no ano, acompanhando a tendência de baixa no exterior ante divisas principais e emergentes pares do real, como peso mexicano, lira turca e rand sul africano. Os investidores precificam a queda dos juros dos Treasuries longos em meio a um leve apetite por ativos de risco, após o anúncio do governo americano do pacote de cerca de US$ 2 trilhões em investimentos na infraestrutura do país e aumento de impostos. Além disso, com as expectativas de inflação já perto do teto da meta (5,25%) e uma outra rodada de encarecimento da carne no País, o IPCA poderá ser impactado e um possível retorno do surto de peste suína africana na China poderá estimular a exportação de porco. Esse cenário tende a favorecer ainda uma valorização do real pela perspectiva de nova alta mais forte da Selic em maio, com melhora na arbitragem de juro interno e externo e também do fluxo comercial.
Contudo, por ser hoje véspera de divulgação do payroll dos EUA de março e do feriado de Páscoa, nesta Sexta-feira, que mantém os mercados fechados no Brasil, EUA e alguns países da Europa, o rumo do dólar no dia poderá depender dos resultados de indicadores locais, como PMI, produção industrial de fevereiro e da balança comercial de março, além dos desdobramentos das negociações em torno do corte de emendas no orçamento de 2021 já aprovado. Eventual alta não é descartada.
O mercado pode reagir mal à proposta do relator do Orçamento de cortar R$ 10 bilhões do total de R$ 26,5 bilhões em emendas incluídas no texto relativas a despesas obrigatórias, após a sanção do texto pelo presidente Jair Bolsonaro, que tem até 22 de abril para decidir pela sanção e fazer vetos. A consultoria da Câmara aponta insuficiência de R$ 32,7 bilhões após as alterações e omissões de despesas obrigatórias no projeto aprovado pelo Congresso.
A proposta de Bittar atende a interesses do Centrão e de Lira, mas contraria a orientação da equipe econômica, que vê risco de irresponsabilidade fiscal. Se for sancionada por Bolsonaro, deve enfraquecer ainda mais o ministro da Economia, Paulo Guedes, no governo. E se for sancionado com vetos, Lira poderá trancar a pauta da Câmara, elevando a temperatura política e dificultando o avanço de propostas de interesse do governo, a fim de obter alguma garantia financeira compensatória para emendas parlamentares sob risco de ameaçar desengavetar pedidos de impeachment que estão em sua mesa – há mais de 60 pedidos desde a gestão anterior de Rodrigo Maia.
Também fica no radar a decisão da Opep+, que pode manter cortes atuais de sua produção de petróleo para garantir equilíbrio na oferta e demanda. Essa perspectiva ajuda a dar impulso leve aos preços da commodities nesta manhã e pesa ainda nos ajustes de divisas emergentes. Além disso, investidores podem buscar alguma proteção para o caso de eventual ruído político local durante o feriadão.
No exterior, o euro e a libra se fortalecem levemente, após os PMIs industriais da zona do euro e Alemanha apontarem recorde, enquanto o do Reino Unido veio no maior nível desde 2011, mostrando que o setor manufatureiro se recupera bem dos efeitos da pandemia de covid-19 na região. O investidor também fica na expectativa pelo relatório de emprego dos EUA de março, o payroll, que sai amanhã.
Ontem, o dólar à vista fechou o mês de março, a R$ 5,6286, com queda de 2,31%. (AE)