Yago Travagini é economista e consultor de mercado pela Agrifatto
Caroline Matos é zootecnista e trainee pela Agrifatto
Bruna Giacon é graduanda em agronomia e estagiária pela Agrifatto
Resumo da semana:
As cotações do boi gordo encerraram a semana com leve desvalorização. O animal encerrou os últimos dias cotado em média a R$ 301,69/@, obtendo uma desvalorização de 0,32% no comparativo semanal. A escassez de oferta continua a ditar a firmeza do mercado de boi gordo, enquanto não há oferta, a escala dos frigoríficos segue curta e o preço se mantém firme. Ainda assim, mesmo com poucos negócios, o fim da semana se aproximou e trouxe algumas novidades que voltaram a esquentar as negociações de boi gordo. O dólar encostando nos US$ 5,60 novamente unido a volta dos chineses as compras no Brasil melhorou o ambiente de negócios para as plantas exportadoras do país, e negócios acima dos R$ 305,00/@ começaram a pipocar em algumas regiões do país, minando qualquer pressão baixista que tentou ser efetuada nas últimas semanas.
Depois de algumas semanas estagnado, navegando entre os R$ 5,20-5,30, o dólar voltou a engatar a 5ª marcha e fechou a semana encostando nos R$ 5,60, fato que não acontecia desde 04/11/2020. A escalada da moeda norte-americana começou na sexta-feira da semana passada, com o governo anunciando a troca do presidente da Petrobras, deixando o investidor apreensivo com a intervenção governamental nas empresas estatais brasileiras. Além disso, durante a semana, outros fatores como perspectiva de aumento de inflação nos EUA (que causaria um aumento da taxa de juros norte-americana) e o risco fiscal crescente atuaram para levar o dólar de volta ao patamar dos R$ 5,60.
Com os contínuos repasses da Petrobras sobre o preço da gasolina, devido à valorização do petróleo e do dólar, os preços do etanol continuam decolando no Brasil. O combustível encerrou a semana cotado a R$ 2,71/l, obtendo uma valorização de 7,25% no comparativo com a semana retrasada. Em relação ao mesmo período do mês passado, a alta observada no etanol hidratado já ultrapassa os 27%. Além da valorização do petróleo e do câmbio, o Brasil ainda enfrenta a entressafra da cana-de-açúcar, e com isso, a cotação do etanol se valoriza alinhada à gasolina.
Mesmo com o avanço na colheita da soja brasileira, a cotação da oleaginosa seguiu firme no mercado interno. A oleaginosa obteve valorização de 27,6% no comparativo semanal, ultrapassando os R$ 167,00/sc novamente em Paranaguá/PR. Com o dólar atingindo outro patamar, a cotação da soja no Brasil se sustentou no câmbio, mesmo com a colheita já ultrapassando os 50% em alguns estados produtores (como Mato Grosso). Além disso, a movimentação da oleaginosa na CBOT, valorizando quase 2% na semana, ofereceu suporte para que a soja brasileira voltasse a flertar com os R$ 170,00/sc.
1. Na tela da B3
Mais uma máxima renovada em um encerramento de negociação de um vencimento de boi gordo na B3. O contrato para fevereiro/21 encerrou o mês cotado à R$ 301,69/@, o maior valor da história para um vencimento de boi gordo.
Mesmo com a rolagem de contratos ocorrendo, o vencimento de boi gordo mais negociado na B3 agora é o para maio/21, são pouco mais de 4,22 mil contratos em aberto, o maior volume desde que este vencimento começou a ser negociado. Além disso, o contrato para maio/21 atingiu sua máxima na última sexta-feira, encerrando o dia à R$ 291,10/@, a variação semanal obtida foi de 1,85%.
A volta chinesa e a alta do dólar atraíram mais participantes ao mercado de boi gordo na B3. O número de contratos (futuros + opções) em aberto cresceu 20,02% em comparação a semana passada, atingindo o maior volume desde o final do mês de janeiro/21, com mais de 21,86 mil contratos em aberto. As opções puxaram esse aumento, com um crescimento de 34,36%, o volume opções em aberto atingiu 10,99 mil contratos.
O interessante é que este crescimento foi puxado pelas CALLs (opções de compra), que viram seu volume aumentar em 1,88 mil contratos, atingindo o total de 6,21 mil CALLs em aberto, o maior volume do ano. Com isso, o saldo das opções (CALLs – PUTs) atingiu agora 1,42 mil contratos comprados, sendo essa a maior “aposta” na alta no mercado de opções desde o final de outubro/20.

 

O posicionamento dos players no mercado de boi gordo seguiu sem grandes alterações de vieses. As Pessoas Físicas aumentaram sua posição comprada em 33% (via compra de futuros), atingindo o total de 3,42 mil contratos, enquanto as PJs não financeiras aumentaram sua posição vendida em 25% (através da venda de futuros), com um volume de 2,95 mil contratos em aberto.

 

1.1 O que o mercado futuro proporciona?
Se na semana retrasada nos mostrávamos reticentes com uma possível alta do boi gordo, na atual semana já visualizamos mais drivers que destravaram o mercado e podem resultar em um processo de valorização da arroba no curto prazo.
Como já reiterado nos outros textos deste fatto pecuário, a alta do dólar e a volta chinesa as compras abrem espaço para uma valorização do boi gordo a patamares que ainda não foram atingidos (acima dos R$ 305,00/@). Com isso a compra de PUTs no atual momento não se mostram como uma opção interessante. A possibilidade de o mercado vir acima dos R$ 305,00/@ coloca tal preço como uma porta de “entrada” na compra de PUTs de proteção, ou seja, a partir do rompimento deste patamar, a compra de PUTs de curto prazo poderão se mostrar mais interessante, com um custo de R$ 1,68/@ para proteger um valor de R$ 290,00/@ ao fim de março/21.
Outro movimento interessante e que pode atuar como proteção na compra da reposição, é a compra de CALLs, com o mercado sinalizando que pode galgar novas altas, a operação estruturada de compra de CALLs, via a operação de COLLAR e/ou a CALL SPREAD, pode ser interessante para surfar em uma possível valorização do boi gordo.
A compra de futuros também se apresenta como uma alternativa para surfar na valorização que o boi gordo pode ter nos próximos dias. Ainda que a atenção tenha que ser redobrada sobre os ajustes e a margem necessária para operar, a operação se demonstra interessante para o vencimento março/21, com a compra no patamar de R$ 302,00-303,00/@ e a venda acima dos R$ 305,00/@. Diante dos fatores que abordamos em todo o relatório, a perspectiva é de que o mercado futuro ultrapasse tal patamar seguindo as movimentações no físico.

 

2. Enquanto isso, no atacado…
No mercado atacadista de carne bovina a semana se encerrou com negócios “arrastados”. A escassez de oferta continua a ditar o preço do boi gordo e o varejo não consegue fazer o repasse ao consumidor final, com isso, o aperto sobre as margens dos frigoríficos que atuam somente no mercado interno é crescente. Com a baixa liquidez no atacado, poucas negociações foram feitas ao longo da última semana. Desta forma, a carcaça casada bovina sofreu leve desvalorização de 0,02%, comparado a semana passada, ficando cotada a R$ 18,51/kg.
Com a carne bovina em alta, a migração para proteínas animais com preços mais acessíveis continua a ocorrer. Diferentemente do mercado bovino, o setor avícola encerrou a semana em alta. O frango resfriado obteve valorização de 2,20% no comparativo semanal, ficando cotado em média a R$ 5,68/kg, o maior valor observado desde a segunda semana de dezembro/20. Seguindo um ritmo mais lento, a proteína suína encerrou a semana próximo da estabilidade.
Após passar por uma valorização de mais de 15% na semana passada, a carcaça suína especial obteve um leve avanço de 0,19%, ficando cotada a R$ 11,37/kg, maior valor registrado desde o início de 2021. Cabe a ressalva que a partir dos R$ 12,00/kg a proteína suína começa a enfrentar dificuldade de escoamento no mercado interno, destacando assim que o movimento de valorização na carcaça suína pode estar perto de um limite.
Após impressionante recuperação nas últimas semanas, o mercado do ovo terminou o mês em estabilidade. Segundo o Cepea, a cotação do ovo na semana passada foi a maior já vista da série histórica desde 2013, porém as vendas permaneceram lentas nos últimos dias, refletindo na estabilidade dos preços. Com medo de acúmulo de ovos, alguns produtores estão aceitando negociar o produto à valores menores que o da referência de mercado. No entanto, com a chegada da Quaresma a tendência é de que o mercado continue firme. O ovo seguiu sem alterações no preço, a caixa com 30 ovos ficou cotada nos R$ 138,00.

 

3. No mercado externo
Com o maior embarque realizado para fora do país em uma semana desde o início do ano, a quarta semana de fevereiro/21 se encerrou com um total de 30,81 mil toneladas embarcadas. Com este volume, o volume embarcado em todo o mês atingiu 102,12 mil toneladas, 4,85% a menos que em janeiro/21 e 7,64% a menos que fevereiro/20. Apesar do desempenho fraco no acumulado mensal, a recuperação das últimas duas semanas do mês renovou as esperanças de uma aceleração nos embarques em março/21.
Com o preço médio estabelecido nos US$ 4,54 mil/t, avançando 0,65% em comparação ao mês passado, a receita registrou uma queda mais leve no comparativo mensal. Foram US$ 463,58 milhões obtidos com a venda de proteína bovina, 4,23% a menos do que em janeiro/21. Como fevereiro/21 registrou dois dias úteis a menos que janeiro/21, na média diária houve avanço no comparativo mensal, saindo de US$ 24,20 milhões/dia em janeiro/21 para US$ 25,75 milhões/dia no último mês.
Com a priorização da soja nas filas de embarques dos portos brasileiros, a exportação de milho vai a cada dia que passa perdendo força. Na última semana de fevereiro/21 foram apenas 69,78 mil toneladas de cereal enviadas para fora do país, 71,88% a menos do que na terceira semana do mês. Apesar da desaceleração, o total exportado no último mês ficou em 822,89 mil toneladas, 141,85% a mais do que em fevereiro/20. Vale ressaltar que esse milho exportado se concentra nos portos da região Sul, especialmente em Rio Grande/RS, que apesar da oferta mais restrita do produto, o avanço da colheita do cereal no RS e o dólar fazem competição ao produto no mercado regional.
O valor da tonelada de milho exportada registrou aumento de 6,32% no comparativo semanal, atingindo US$ 217,00/t. Olhando para fevereiro de 2020, esse preço também é 5,66% superior. Desta forma, a receita avançou de maneira mais intensa, atingindo o total de US$ 178,59 milhões em fevereiro/21, 155,55% a mais do que no mesmo período do ano passado. A média diária ficou em US$ 9,92 milhões.
Os embarques de soja continuaram a acelerar na última semana de fevereiro/21, a maior disponibilidade de produto para embarque tem colaborado que os carregamentos aumentem nos portos, atingindo 1,64 milhão de toneladas, volume 136% superior ao da terceira semana do mês. A média diária embarcada saiu de 96,07 mil toneladas para 160,95 mil toneladas no comparativo semanal. Com isso, o mês de fevereiro/21 fechou com 2,90 milhões de toneladas exportadas, ainda 40,07% menor que fevereiro/20, por conta do atraso da colheita.
Destaque para o preço da tonelada exportada que está 11,59% superior ao mesmo período de 2020, são US$ 390,80/t em fevereiro/21 contra US$ 350,20/t em fevereiro/20. Com a melhora dos preços, a receita caiu em uma proporção menor que o volume em relação ao mesmo período do ano passado. A média diária no último mês ficou em US$ 62,90 milhões, 33,12% a menos que em fevereiro/20. Este desempenho levou as exportações de soja a atingirem US$ 1,13 bilhão no último mês, US$ 560,65 milhões a menos que há um ano atrás.

 

4. A compra do pecuarista
Apesar das adversidades enfrentadas nas últimas semanas, a safra 20/21 de soja pode surpreender de forma positiva, novas estimativas apontam que cerca de 135-136 milhões de toneladas da oleaginosa devem colhidas.
A redução das chuvas na última semana de fevereiro/21 em boa parte das regiões produtoras deve proporcionar avanços significativos na colheita da soja e no plantio do milho 2ª safra, mas com atraso considerável sobre a safra 19/20. Embora regiões dos estados de MT, GO e MG estejam com dificuldades pelas chuvas mais intensas, os problemas estão menores que na semana retrasada. Em algumas regiões do MATOPIBA também há relatos de chuvas dificultando o trabalho no campo.
As previsões indicam que bons volumes de chuvas devem cair durante a semana, dificultando avanços maiores nas atividades no campo e causando problemas logísticos principalmente para as esmagadoras de soja que estão em processo de recomposição dos estoques. Esse processo mais lento deve se arrastar durante o mês de março/21, até a formação de estoque de soja para esmagamento e consequente produção de óleo e farelo.
Embora esse ritmo esteja tímido, já é possível observar uma ligeira redução nas cotações de farelo, mas relação de troca permanece estável diante das pequenas variações na cotação da arroba.

 

 

A atenção do mercado está na oferta do milho 2ª safra devido ao maior atraso de plantio da história. De acordo com o boletim do IMEA, divulgado na sexta-feira, o plantio do cereal em MT atingiu 54,66% da área estimada, na safra 19/20 esse percentual era de 91,96% e de 80,06% considerando a média das última 5 safras. Nos estados do PR, MS e GO a situação é semelhante à de MT e a expectativa é que cerca de 40% da área total destinada ao milho 2ª safra seja plantada fora da janela considerada ideal.
Os reflexos desse atraso para o milho já são sentidos no mercado, no decorrer da semana o preço da saca em Campinas/SP valorizou 1,5% chegando ao valor de R$85,59/sc. Para o pecuarista o momento é de cautela na compra dos insumos, visto que a arroba do boi continua praticamente estável.
A expectativa é que os preços do farelo entrem em movimento de baixa mais intenso a partir da 2ª quinzena de março/21 e atingindo valores ainda menores no mês de abril/21, por isso, é indicado que o pecuarista inicie desde já o monitoramento dos preços deste insumo.
No caso do milho o sinal de alerta está ligado. Com a indefinição de oferta e estoques curtos os preços do cereal estão em tendência de alta nos mercados spot e futuro, enquanto o boi gordo segue opera com estabilidade e poucas oscilações. O retrato desse cenário é a redução do poder compra pelo pecuarista, sendo necessário aguardar posições quanto à compra do insumo. Em relação à semana passada, a relação de troca com o cereal caiu para 3,54 sc/@, o menor nível desde a terceira semana de janeiro/21.
O cenário visualizado no milho pode registrar uma pequena melhora para o pecuarista, caso o boi gordo se valorize, mas é o comportamento do clima que vai ditar o comportamento do cereal nos próximos meses.

 

 

5. O destaque da semana
Após três meses flutuando entre os R$ 5,00 e os R$ 5,40, o câmbio voltou a demonstrar sua volatilidade e encostou novamente no patamar de R$ 5,60, fato que não ocorria desde o inicio do mês de novembro/20.
Vários fatores impulsionaram a alta do dólar no decorrer da semana que culminaram nos R$ 5,60. A troca de comando na Petrobras foi o estopim para que as operações de câmbio no Brasil voltassem a demonstrar grande volatilidade, pois o mercado acionário demonstrou receio com o nível de intervenção estatal que o atual governo está demonstrando. Além disso, o ambiente interno fiscal se deteriora visto que a volta do auxilio emergencial se mostra cada vez mais provável, e com o congresso querendo desobrigar o governo da contraparte de realizar cortes de gastos, o rombo fiscal só aumenta.
Como se não bastasse os riscos internos vivenciados pela economia brasileira, o resultado ruim de um leilão de títulos do Tesouro norte-americano impulsionou o dólar em relação a outras moedas globais. O Índice DXY que mede a força da moeda norte-americana frente outras moedas fortes no contexto global registraram alta de 0,96% de quarta-feira para sexta-feira, demonstrando que o mercado global segue apreensivo com a possível volta da inflação nos EUA e consequentemente o aumento da taxa de juros no país norte-americano.
O Banco Central até buscou realizar leilões a partir do momento em que o câmbio rompeu os R$ 5,50, vendendo mais de US$ 1,5 bilhão no mercado à vista, mas esses se demonstraram sem grande efetividade.
Ainda que tenha seus nuances negativos, a alta do dólar renova as esperanças de que o boi gordo possa superar a barreira dos R$ 305,00/@ no Brasil. O preço do animal em São Paulo em dólares recuou 3,09% na semana, atingindo o menor patamar dos últimos 30 dias, ficando cotado à US$ 54,32/@. Diante disto, e com a China voltando as compras e aceitando pagar mais caro na proteína bovina brasileira, a margem dos frigoríficos exportadores voltou a crescer, atingindo a equação necessária para que um novo recorde de preços de boi gordo seja atingindo nas próximas semanas.

 

6. E o que está no radar?
O início de mês acumula notícias e pode reservar melhoras para o boi gordo. Como abordado no texto do “destaque da semana”, a valorização do dólar frente ao real trouxe de volta competitividade ao animal brasileiro.
Este fator unido a volta chinesa nos embarques externos e ao recebimento de salários pode impulsionar o valor da arroba do boi gordo para novas máximas. Ainda que os varejistas encontrem dificuldade para repassar as altas do animal para o consumidor final, o início de mês pode reservar uma melhora sazonal de consumo, melhorando a aceitação dos varejistas em pagar mais pela carcaça casada bovina.
Além disso, o desempenho da carne suína, de frango e dos ovos nas últimas semanas no mercado atacadista tem surpreendido e se valorizado fortemente, fato que por si só abre “espaço” para que a proteína bovina evolua e volte a ser cotada acima dos R$ 19,00/kg.
Desta forma, o termômetro do mercado de boi gordo volta a se aquecer, com a perspectiva de que novas máximas sejam encontradas nos próximos dias. Com a atenção redobrada para o desempenho do câmbio neste período.