Yago Travagini é economista e consultor de mercado pela Agrifatto
Caroline Matos é zootecnista e trainee pela Agrifatto
Bruna Giacon é graduanda em agronomia e estagiária pela Agrifatto
Resumo da semana:
Semana mais curta em São Paulo, não só o feriado mudou a dinâmica, mas também a paralisação dos comerciantes contra o aumento do ICMS durante a terça-feira. Nos dias posteriores, o mercado foi marcado pela baixa movimentação e sem concordância, pois a ponta vendedora na tentativa de emplacar novas altas, encontrava a resistência dos compradores. Neste impasse, a carcaça casada bovina encerrou o mês de janeiro/21 cotada a R$ 18,80/kg. Os próximos dias devem reservar novas quedas-braços, pois o consumo tende a melhorar no início do mês.
Enquanto o mercado atacado segue lateralizado, a arroba do boi gordo continua firme nas principais praças pecuárias. O indicador Cepea/Esalq chegou próximo aos R$ 300,00/@, mas fechou o mês de janeiro em R$299,85/@, maior valor nominal da série histórica da instituição e com o marco de aumento mensal de 9,55%. A média mensal também rompeu a máxima, ficando registrada em R$ 287,27/@. O boi gordo bate recorde, a reposição vai além. Na última segunda-feira, 25/01, a cotação do bezerro em São Paulo chegou a R$ 2.811,77/cabeça.
A colheita da primeira safra do milho brasileiro ainda deixa a desejar, com isso, o grão segue estável em R$ 83,50/sc na região paulista. Puxado pela alta em Chicago, os futuros de milho fecharam a sexta-feira em R$ 86,78/sc, valorização de 2,81%. A demanda chinesa continua dando suporte para as indicações do insumo no mercado internacional, o que puxou uma recuperação na B3.
A greve dos caminhoneiros marcada para esta segunda-feira, 01/02, provocou temor ao mercado financeiro, principalmente quando se leva em consideração 2018, período em que prejuízo relacionado à greve chegou a R$ 15 bilhões, o equivalente a 0,2% do PIB brasileiro. A motivação da insatisfação da categoria está no aumento de 5,05% no valor do óleo diesel. A petroleira anunciou que venderia o combustível fóssil pelo preço médio de R$ 2,12/L para os distribuidores.
Além disso, os players seguem acompanhando o desenrolar das eleições no Congresso. Estes fatores aliados ao cenário externo visando a aversão ao risco, deram a moeda norte-americana força para encerrou a sexta-feira com alta de 0,71% ante a véspera, cotado a R$ 5,47, no mês a alta é de 5,51%, colocando o dólar novamente acima dos R$ 5,30 na média mensal, fato que não ocorreu em dezembro/20.

 

1. Na tela da B3
Enquanto os negócios no mercado físico diminuíram sua velocidade de valorização e enfrentam dificuldade para romper os R$ 300,00/@, na B3, a indecisão e volatilidade dão o tom do mercado. O contrato janeiro/21 encerrou suas negociações cotado a R$ 297,25/@, o maior valor observado em todo o período de comercialização, com alta de 0,19%. Mesmo com a firmeza do janeiro/21, os vencimentos mais distantes não obtiveram a mesma direção, o contrato para fevereiro/21 fechou a semana com queda de 0,89%, cotado à R$ 294,00/@ e o maio/21 com desvalorização de 1,48%, em R$ 278,75/@.
Ainda aos poucos, pois os operadores continuam com receio da alta volatilidade do mercado futuro de boi gordo, o volume de negócios vai aumentando. Nesta semana, o incremento observado foi de 5,81% no total de contratos (futuros + opções) em aberto, e quem mais tem atraído “olhares” são os futuros, o aumento observado no volume de contratos futuros em aberto foi de 11,86% em comparação a semana passada, enquanto as opções em aberto cresceram apenas 2,23%. Desta forma, já são 26,18 mil contratos em aberto no mercado futuro de boi gordo, o maior volume de 2021. Vale a ressalva de que esse número é ainda 58% menor que no mesmo período do ano passado.
A volatilidade trabalhada pelos Market Makers dificulta a melhora na atratividade das opções, soma-se isso a dificuldade em “enxergar o horizonte” por parte dos players, temos uma manutenção de posicionamentos destes sem se destacar nenhum movimento interessante. As Pessoas Físicas (PFs) mantem sua posição comprada em mais de 2,7 mil contratos, sem alterações em relação a semana passada. Enquanto isso, os Investidores Institucionais (IIs) aumentaram sua posição vendida através da venda de contratos futuros, chegando a um total de 1,49 mil contratos vendidos, maior posicionamento vendido desde 22/12/2020, ainda assim, destacamos que há pouco interesse do mercado em assumir qualquer posição neste momento.

 

1.1 O que o mercado futuro proporciona?
Com o mercado físico ainda firme e buscando os R$ 300,00/@ no indicador Cepea, as movimentações na B3, que foram poucas, ainda reservam boas opções de “travas” parciais de venda para aqueles que ainda não a fizeram.
As opções continuam sem grande atratividade, a volatilidade pesa sobre as cotações apresentadas pelos operadores do mercado, e tem afastado novos negócios. Na nossa visão, a opção seca “menos” pior nesse momento é a PUT para fevereiro/21, que pode ser feita protegendo o valor de R$ 285,00/@ a um custo de R$ 2,51/@. Como restam pouco menos de 20 dias úteis para finalização do contrato, esta seria uma proteção conservadora e pode ser feita em apenas uma parte do rebanho que será abatido. A sinalização do mercado ainda é de preços elevados até o final do mês.
Para os pecuaristas, a venda de futuros continua como uma opção mais “barata” e que pode atender melhor às necessidades deste. Como destacado na semana anterior, a venda de futuros para maio/21 acima dos R$ 280,00/@ se põe como uma boa opção de comercialização para os animais de “safra”, visto que, comparativamente é um preço 40% maior do que no mesmo período do ano passado.
O mercado ainda se encontra travado pela oferta, não há gado neste momento, as pastagens, apesar de estarem em recuperação, não estão com “cara” de pasto de janeiro, com isso, os animais estão ainda com apresentam dificuldades para engordar no sistema extensivo. A melhora na oferta que era esperada para fevereiro/21 pode atrasar ainda mais.
Com as margens apertadas e os preços da carcaça bovina não evoluindo, quem saiu das compras a termo foram os frigoríficos desta vez, visto que as ofertas não agradam aos produtores e com isso pouquíssimos negócios são fechados.

 

2. Enquanto isso, no atacado…
O primeiro mês do ano se encerrou, e, o mercado atacadista de proteína animal registrou pela primeira vez desde fevereiro/20 uma movimentação oposta entre a carcaça casada bovina e as outras proteínas animais. Enquanto a proteína bovina encerrou o mês com alta de 7,72%, cotada à R$ 18,56/kg, o maior valor mensal da história, o frango resfriado amargou uma desvalorização de 5,56% e a carcaça suína especial uma queda de 2,92%.
A movimentação destoa entre as proteínas animais por que o cenário entre elas é diferente. Enquanto a produção de frango e suíno se normalizou após os problemas enfrentados durante o ano de 2020, colocando-os em um padrão produtivo, a pecuária de corte ainda sofre com os problemas do ciclo pecuário e do grande abate de fêmeas e novilhas dos anos de 2017 a 2019. Com isso, a escassez de oferta de bovinos aptos para o abate tem puxado as cotações do boi gordo e consequentemente da carcaça casada bovina.
Para se ter uma ideia, a diferença entre a carcaça casada bovina e o frango resfriado atingiu a maior diferença desde maio/20, e quando comparado a carcaça suína especial a diferença é a maior desde junho/20. A diferença da movimentação da proteína bovina sobre as demais proteínas é vista dessa forma muito mais como um problema produtivo do que um problema de demanda.
Ainda que o consumidor brasileiro consiga “determinar” o preço que aceitará pagar sobre as proteínas animais, ainda assim, neste momento, a oferta escassa de bovinos aptos para abate está pesando de maneira mais intensa do que a demanda reduzida de início de ano. Levando a proteína bovina a um caminho diferente.
Logicamente, esse cenário é em grande parte sustentado pela oferta, e a partir do momento que ela começar a “surgir” vinda das fazendas a pressão deve-se reduzir. No entanto, ainda não vemos “brechas” para que essa oferta apareça no horizonte de curto prazo.

 

3. No mercado externo 
Com um desempenho muito fraco na segunda semana do mês de janeiro/21, as exportações de carne bovina observaram sua média diária desacelerar 26% no comparativo com a semana inicial deste mês. Foram 19,83 mil toneladas de proteína bovina embarcadas no acumulado da 2ª semana do mês, 51% a menos que na primeira semana. Desta forma, a média diária do mês de janeiro/21 caiu para 6,05 mil toneladas, nível 7% abaixo quando comparado a dezembro/20.
O impacto sobre a receita seguiu o mesmo caminho, visto que o preço médio continuou estabilizado na casa dos US$ 4.500/t. A receita média diária caiu 26% comparado a 1ª semana do mês de janeiro/21, estabelecendo-se em US$ 27,30 milhões/dia. Ainda que seja 7% maior que a média observada durante o mesmo período do ano passado, este fraco desempenho da 2ª semana coloca em “xeque” o possível recorde que seria batido.
A redução vertiginosa da oferta continua a acometer os embarques de milho brasileiro para fora do país. Com cerca de 601,88 mil toneladas exportadas na 2ª semana de janeiro/21 (6% a menos que na 1ª semana), a média diária exportada no mês caiu 3% em relação a semana retrasada, estabelecendo-se em 124,32 mil toneladas/dia. Cabe a ressalva que apesar da piora nos embarques nas últimas semanas, a média diária do mês de janeiro/21 está 30% maior que no mesmo período do ano passado.
Com uma queda de 11% no preço médio comercializado, a receita caiu de maneira ainda mais intensa no comparativo semanal. Foram obtidos US$ 104,42 milhões com a venda de cereal na segunda semana do mês, 27% menos em relação a semana retrasada. Desta forma, a média diária obtida com a venda de milho chegou à US$ 24,69 milhões, 13% a menos do que era visto na 1ª semana do mês.
Praticamente sem oferta no mercado interno, as exportações de soja seguiram lentas na 2ª semana do mês. Foram 17,50 mil toneladas embarcadas na última semana, fazendo finalmente o contador dos embarques de oleaginosa sair do “zero” no Brasil. Ainda assim, a média diária embarcada no mês está em 1,75 mil toneladas, 86% menor que em dezembro/20 e 97% menor que em janeiro/20.
A receita seguiu caminho parecido, foram US$ 6,66 milhões obtidos com a venda de soja no Brasil na segunda semana do mês de janeiro/21, elevando a média diária do mês para US$ 666,7 mil. Cabe a ressalva de que os preços da tonelada da oleaginosa brasileira continuam elevados, cotados em média a US$ 381,00/t.

 

4. A compra do pecuarista
Mesmo valorizando 8,60% no mês de janeiro/21 e rompendo a máxima histórica, o boi gordo ainda está “atrás” na corrida dos seus principais custos/concorrentes. Ao se traçar uma linha comparativa com janeiro/19, o boi gordo viu seu preço subir 90%, enquanto isso, o boi magro elevou-se 92%, o bezerro 93%, o milho 115% e o farelo de soja 146%.
A pecuária de corte nunca esteve tão atrativa, no entanto, ao visualizar os números acima vemos que este é, sobretudo, um olhar “externo” (de quem não “mergulha” nos números). Ao mesmo tempo em que o animal gordo bate recorde, a reposição busca suas máximas. O bezerro caminha para abrir o mês de fevereiro/21 acima dos R$ 2.700/cabeça, e o boi magro já flerta com os R$ 3.800/cabeça.
E a pressão altista não é somente sobre a compra de animais, os insumos alimentícios, que na fase da engorda são os principais componentes do custo de produção do animal estão em franca valorização. O milho, principal energético das rações no país, bateu os R$ 83,65/sc na média de janeiro/21, o maior valor nominal da história, subindo 11,03% em relação ao mês de dezembro/20. Desde janeiro/19, a alta observada no cereal já ultrapassa os 115%. Já o farelo de soja, principal fonte proteica das rações utilizadas no Brasil e referência de preço para as outras fontes proteicas, já subiu 146% nos últimos 24 meses, atingindo no mês de janeiro/21 também a sua máxima histórica, R$ 2.674/t. 
Ou seja, não há escapatória, as margens estão cada vez mais apertadas, apesar da receita obtida com a venda de boi gordo estar nas máximas históricas. O ano de 2021 irá ser, sobretudo, um ano de cálculo. O fato de estar com boas receitas não devem dar a sensação de que as contas da fazenda estão “boas”, por isso, a cautela e a boa gestão com a reposição de animais e a compra de insumos é o que deve ditar a lucratividade da pecuária de corte em 2021.

 

 

5. O destaque da semana
Essa semana ganha como destaque as sucessivas elevações no preço do diesel, que desencadeou no descontentamento dos caminhoneiros, aumentando assim o risco de greve da classe. A paralisação marcada para esta segunda-feira (01/02/2021) nos faz relembrar do que aconteceu em 2018, quando o Brasil inteiro ficou paralisado e inoperante por conta da greve dos caminhoneiros. O óleo diesel vem em alta desde maio/20, já são oito meses de valorizações consecutivas sobre o combustível, atingindo em janeiro/21 a máxima dos últimos onze meses, cotado a R$ 3,61/l.
Ainda que seja de difícil aceitação pela classe dos caminhoneiros, fato é que o combustível está mais barato do que estava há um ano atrás (jan/20), cerca de 2% menor. E se traçado um comparativo com o barril de petróleo WTI em reais, visualizamos que o custo de aquisição da matéria-prima está mais elevado. Em reais, o barril de petróleo atingiu os R$ 279,00 no mês de janeiro/21, 17% a mais do que em janeiro/20 e o maior valor desde setembro/18. E o grande “culpado” disso é o dólar, a moeda norte-americana valorizou quase 30% no último ano, dificultando a melhora nos preços do óleo diesel.

 

 

Traçando um paralelo com a pecuária e analisando a relação de troca do boi gordo com o óleo diesel em comparação com o mesmo período do ano passado (janeiro/20), nota-se uma melhora significativa devido à valorização da arroba no último ano. Com uma arroba de boi gordo é possível adquirir 80 litros de óleo diesel, 53% a mais do que no mesmo período do ano passado. Apesar desta melhora, o movimento de alta do óleo diesel travou melhoras desde setembro/20.

 

 

A possibilidade de uma nova greve de caminhoneiros assusta todo o mercado, no entanto, a expectativa é de que a adesão pelos participantes seja muito menor que a de 2018, e, desta forma o impacto sobre a movimentação de cargas no Brasil deve ser pequeno. Ainda assim, vale o destaque pois ressalta uma preocupação com a aprovação do presidente, que tem nos caminhoneiros uma da sua base de apoio.

 

6. E o que está no radar?
Sem a previsão de grandes alterações na chegada de boiada pronta para abate pelo menos até março/21, o mês de fevereiro deve se desdobrar entre a estabilidade e reajustes positivos nas indicações da arroba. A entrada de animais de pasto pode dar um leve respiro às indústrias, que tem encontrado grande dificuldade no preenchimento dos seus cronogramas de abate.
Além disso, começa a se desenhar um ambiente de cautela, principalmente com relação às exportações de carne bovina. Os meses de janeiro e fevereiro são tipicamente mais fracos, tendo em vista a próxima quinzena, em consequência do Ano Novo chinês, período em que as negociações esfriam na China.
No mercado doméstico, as expectativas se voltam para o fluxo de saída de carne bovina no início deste mês, que tende a melhorar com a entrada dos salários, pois até o momento o que se relata são sobras em todos os elos da cadeia. Com um mercado doméstico fragilizado, as apostas continuam nas exportações. Ainda assim, o que deve ditar o preço do boi gordo na próxima semana é a entrada ou não dos animais nas escalas de abate.