Gustavo Rezende Machado é trainee pela Agrifatto

O Brasil, juntamente com Austrália, Índia e Estados Unidos, responde por mais de 70% da carne comercializada no mundo.

Apesar de a Austrália ter exibido em 2016 o 7º maior rebanho bovino no ranking mundial, o país se destaca como o terceiro maior exportador, já que 50% da carne produzida é destinada ao comércio exterior. Seus principais clientes são Estados Unidos, China, Coreia do Sul e Japão (sendo os dois últimos também importantes consumidores da carne norte-americana e conhecidos como bons pagadores).

Porém, desde 2014 o rebanho australiano tem recuado, e na esteira se registra queda do consumo e do volume exportado. Em 2016, 1,5 milhão de toneladas foram embarcadas, queda de 33% em relação ao ano anterior.

Além disso, houve retração de 30% do volume destinado pela Austrália para a China entre 2015 e 2016 (segundo o Centro de Estudos Avançados em Economia Aplicada – CEPEA).

Portanto, o Brasil que já avança nas relações comerciais com o país asiático, pode ser beneficiado com o recuo do plantel australiano e de suas exportações.

A Índia por sua vez fornece carne bubalina ao mercado internacional, de qualidade inferior, porém de menor custo.

O fato é que o preço mais baixo fez com que a Índia ganhasse terreno rapidamente. Entre 2010 e 2013 o avanço foi de 30% ao ano, especialmente para a Ásia e para o Oriente Médio. Entre os destinos, o Vietnã se destaca com a obtenção de 40% da carne indiana, onde deste país a carne segue também para a China.

Além da Ásia, o Egito e a Arábia Saudita configuram importantes consumidores da matéria-prima indiana, o que gera boa concorrência com a carne brasileira.

Já a Argentina pode voltar ao ranking dos 10 maiores exportadores de carne bovina em 2017. O país que já ocupou o terceiro lugar, registrava queda desde 2005 após proibições de exportação e aumento de impostos.

Estima-se que a Argentina encerre 2017 enviando 300 mil toneladas ao mercado mundial, especialmente para a China (46%), Chile (14%) e Alemanha (11%).

E apesar da produção inferior em relação ao Brasil, a vantagem cambial da Argentina pode acirrar a competição pelo mercado asiático e norte-americano.

O gráfico 1 ilustra os maiores exportadores de carne bovina, considerando 2017 e projeção para 2018.

Espera-se que os abates dos Estados Unidos aumentem 3% em 2018, com um rebanho que deve crescer pelo quarto ano consecutivo.

Porém, com o consumo praticamente estável, o mercado norte-americano depende cada vez mais das exportações para escoar sua produção, o que deve torna-lo mais competitivo nos próximos anos, conforme investimentos são feitos para aumentar a produção (rebanho).

O Japão é o principal comprador da carne norte-americana, e exibiu neste ano avanço do Produto Interno Bruto (PIB) acima das expectativas, o que deverá ser positivo aos embarques de carne bovina saindo dos EUA em 2018.

O México é o segundo principal comprador de carne bovina norte-americana, seguido pelo Canadá e Coréia do Sul, e devem continuar como os principais parceiros consumidores da carne americana na próxima temporada.

O gráfico 2 demonstra a variação porcentual das importações de carne bovina in natura norte-americana entre janeiro e outubro de 2016/17.

Mas o destaque fica para as exportações com destino à China após 14 anos de bloqueio pela ocorrência de Encefalopatia Espongiforme (mal da vaca louca) nos Estados Unidos em 2003. Portanto, os EUA devem passar a aumentar gradualmente os volumes de carne para a Ásia e competir por esse mercado com o Brasil no médio prazo.

Ademais, o último relatório de outubro do Departamento de Agricultura Norte-americano (USDA) estima que a China deve ampliar em 11% as exportações de carne bovina em 2018, sendo o Brasil, Uruguai e Argentina os principais fornecedores da matéria-prima, devido aos preços mais competitivos e a vantagem cambial.

Os Estados Unidos devem disputar mercados especialmente com o Canadá e Austrália, principalmente pelas importações do Japão e da Ásia.

Portanto, apesar da expectativa positiva das exportações americanas para a China, o principal desafio será se adaptar em grande escala acerca dos requisitos de uso de hormônios sintéticos, além dos preços mais altos da carne norte-americana resultar em vantagem para o produto brasileiro no mercado asiático.

Deste modo, o Brasil deve aumentar seu protagonismo no mercado internacional em 2018, mas competir com a Índia pelo mercado asiático, já que ambos possuem preços competitivos.

Ainda, há a chance de disputa com a Argentina pelas exportações com destino aos Estados Unidos e China, devido à vantagem cambial que os dois países apresentam.

Por fim, a produção de carne crescente do Brasil deve ampliar a participação em mercados que antes pertenciam à Austrália, já que este país tem registrado o recuo de seu rebanho, consumo e exportações.

O gráfico 3 exibe os maiores importadores de carne no mercado internacional, compreendendo 2017 e projeção para 2018.

A última análise conjuntural sobre o mercado pecuário mundial da próxima semana terá como ponto central a variação cambial dos players internacionais, e como o câmbio deve influênciar as exportações brasileiras de carne.