As exportações tendem a continuar sendo o foco do setor de proteína animal no Brasil em 2021, em função dos desafios do cenário interno, avalia o CEO da Marfrig Global Foods, Miguel Gularte. Em entrevista, ele comentou que no ano passado a empresa optou por deslocar volumes que seriam vendidos no mercado doméstico para o mercado externo, além de apostar nos produtos com maior valor agregado, como forma de atenuar os efeitos da alta da arroba do boi no Brasil e na Argentina. “Aumentamos a exportação porque já tínhamos a percepção de um mercado interno mais restritivo. Com o real mais fraco ante o dólar, essa opção se mostrou ainda mais consistente.”
A venda de carne bovina para os consumidores brasileiros esbarra na queda do poder aquisitivo e nas altas taxas de desemprego, decorrentes da crise instaurada pela pandemia do coronavírus. Além disso, o produto chega às prateleiras cada vez mais caro, com as indústrias precisando repassar o aumento dos custos com aquisição de matéria-prima para manter as margens de lucro. “Temos uma arroba de R$ 300 e um mercado interno que não paga essa arroba. A indústria de carne bovina in natura está com margens bem estreitas no Brasil e o mesmo acontece na Argentina”, disse Gularte.
“Nós até chegamos a ver uma melhora no atacado com o pagamento do auxílio emergencial de R$ 600 no fim do ano passado e esperamos que o retorno dessa ajuda melhore o mercado”, acrescentou.
Em 2020, a companhia viu uma redução no volume de gado abatido por causa da restrição na oferta de animais, principal motivo para a disparada na arroba. Segundo o executivo, a operação nas plantas não influenciou nessa queda, já que as atividades não chegaram a ser paralisadas e na América do Sul a taxa de utilização da capacidade chegou a 78%. No Uruguai, que também faz parte da Operação América do Sul, a Marfrig aumentou o share de abate de 23,8% para 26,9%. Já o share de exportação subiu de 26% para 30%, acrescentou Gularte.
Em relação ao mercado externo, as fábricas da empresa no Brasil exportaram 75% a mais para a China, faturando 50% mais. Em toda a companhia, os embarques para o destino cresceram 152% em volume e 104% em receita. “Quando consideramos China e Hong Kong, o resultado é ainda mais expressivo”, disse o CEO da Marfrig. Nesse cenário, o segmento Brasil faturou 41% a mais com os embarques e a Marfrig teve aumento de 285% em receita com as exportações para a região.
Embora a China continue tendo participação fundamental nas vendas da empresa, a ordem é diversificar. Gularte destaca, nesse sentido, o aumento nas exportações para os Estados Unidos, apoiados pela operação da controlada National Beef, e as vendas do Uruguai para o Japão.
Outra grande aposta é o mercado de valor agregado, com a Marfrig sendo a maior produtora mundial de hambúrgueres. De acordo com Gularte, o capex de cerca de R$ 1,4 bilhão de 2020 permitiu que a empresa ampliasse as operações focadas em produtos industrializados. No ano passado, a área cresceu 60% em relação a 2019 e a expectativa é de que em 2021 aumente mais 62%. Atualmente, o segmento representa cerca de 20% dos negócios da companhia e gera receita de mais de dois dígitos. A empresa fechou 2020 com o segmento correspondendo a 13,4% da receita e a expectativa é crescer até 19,8% ao longo de 2021. (AE)