A Associação Brasileira dos Condutores de Veículos Automotores (Abrava) não descarta a possibilidade de organizar uma nova greve nacional da categoria após novo aumento do óleo diesel anunciado hoje pela Petrobras. “É inadmissível. Chegamos numa situação em que precisamos fazer alguma coisa. Não tem mais condições. Já estávamos na UTI. Com esse aumento, agora desligaram os aparelhos. Acabou”, disse o presidente da Abrava, Wallace Landim, ao Broadcast Agro. Landim, que também é conhecido como Chorão, foi um dos principais líderes da categoria na paralisação de 2018. “A greve, de forma ordeira e organizada, é o nosso único poder de força contra essa situação”, acrescentou.
As declarações de Chorão e a mobilização da setor vêm após a Petrobras ter anunciado, nesta segunda-feira, o segundo aumento no preço dos combustíveis em duas semanas – o quinto do ano. A partir de amanhã, o diesel terá reajuste de R$ 0,13 por litro, para R$ 2,71, alta de 5%. Com o novo aumento, a alta acumulada no preço do diesel no ano é de 33,9%.
Chorão argumenta que a questão combatida pelos caminhoneiros não é o aumento do diesel, e sim a defasagem da tabela dos preços mínimos de frete rodoviário. O último reajuste da tabela, de 2,51%, foi publicado pela Agência Nacional de Transportes Terrestres (ANTT) em 19 de janeiro. “Dentro da metodologia do piso, o reajuste é feito a cada seis meses ou é acionado o gatilho de reajuste quando a variação é igual ou superior a 10%. Já somamos quase 20% desde a última revisão da ANTT e nada foi feito”, apontou Chorão. “Outro ponto é que a maioria dos transportadores autônomos é terceirizada, subcontratada das grandes transportadoras. A transportadora repassa o reajuste do diesel para o tomador mas não repassa para o terceirizado e a ANTT não autua.”
Segundo Chorão, a categoria, que permanece em discussão “permanente”, tende a intensificar as reuniões virtuais com todos os segmentos e Estados nos próximos dias a fim de definir o rumo e a ocorrência ou não das mobilizações. “Agora, precisamos unir forças. Não estou falando em parar imediatamente, estou falando em encontrar uma solução. Buscamos uma agenda com o governo e, em paralelo, mobilizamos a categoria”, afirmou. Ele avalia que parte do setor, especialmente transportadores de cargas de grãos, que estão em momento de alta demanda, tende a não aderir a qualquer espécie de movimento neste momento. “Muitos não estão percebendo a alta do diesel, porque o frete de grãos se valorizou expressivamente. Mas quando acabar a safra, os fretes tendem a cair e sentirão o peso no bolso”, alegou.
Sobre a abertura de diálogo com o governo, Chorão relatou que a associação busca uma agenda com o presidente Jair Bolsonaro e outra com o presidente da Câmara dos Deputados, Arthur Lira (PP-AL). “Queremos sentar com o governo, apresentar nossos projetos, nossa visão de medidas possíveis e debater soluções concretas. Precisamos de medidas concretas. Só falar com ministro não resolve”, argumentou o líder.
Chorão também comentou sobre a medida do governo de zerar os impostos federais (PIS/Pasep/Confins) sobre o diesel a partir de hoje (1º), para amenizar o impacto dos reajustes de preços feitos pela estatal. A isenção foi anunciada pelo presidente Bolsonaro, mas até o momento nenhuma medida nesse sentido foi anunciada. “Até o momento, 17h de Brasília, foi só promessa. Estamos cansados de promessas deste governo”, destacou. (AE)