Há sinais de que a inflação dos alimentos que atingiu o mundo no ano passado, aumentando os preços de tudo – desde o queijo ralado até a manteiga de amendoim – está prestes a piorar, conclui reportagem da agência norte-americana de notícias Bloomberg, divulgada na terça-feira (16/2).
A pandemia de Covid-19 derrubou as cadeias de abastecimento de alimentos, paralisando o transporte marítimo, adoecendo os trabalhadores que mantêm o mundo alimentado e, por fim, aumentando os custos dos alimentos para o consumidor em todo o mundo. Agora os produtores – especialmente os que criam bovinos, porcos e aves – estão sendo pressionados pelos preços mais altos do milho e da soja em sete anos. Isso aumentou os custos de alimentação de seus rebanhos em 30% ou mais. Para se manterem lucrativos, as indústrias de carnes, incluindo a norte-americana Tyson Foods Inc., estão aumentando os preços, o que vai repercutir nas cadeias de suprimentos e resultar em reajustes nos valores da carne bovina, suína e de frango em todo o planeta.
A atual disparada nos preços dos grãos é equivalente aos aumentos registrados depois da seca de 2012 nas lavouras dos Estados Unidos, que resultaram em fortes reajustes nos valores dos alimentos de origem animal. Agora, a carne está novamente posicionada para se tornar um impulsionador da inflação global de alimentos.
As vacinas que prometem um retorno à vida normal e programas de estímulo fiscal no valor de trilhões de dólares já devem desencadear a demanda reprimida e impulsionar um aumento nos preços ao consumidor. Os mercados de títulos dos EUA e da Europa estão enviando sinais de que a inflação está de volta. As expectativas de inflação de um ano dos norte-americanos na semana passada subiram para o maior desde 2014.
Os preços da ração sobem principalmente devido a fatores climáticos que reduziram o tamanho das safras mundiais de grãos. A demanda também está aumentando. A China, o maior comprador de commodities, está recolhendo quantidades recordes de suprimentos disponíveis para alimentar os seus rebanhos de suínos em expansão.
Os produtores de carne dos principais países exportadores estão sentindo o impacto dos custos mais altos dos grãos. No Brasil, maior exportador de aves, o custo da criação de frangos subiu 39% no ano passado devido ao valor alto da ração, segundo a Embrapa, agência estatal de pesquisa agropecuária. Os custos voltaram a subir no mês passado em 6%, disse o banco Itaú BBA.
Na Europa, a lucratividade das operações de gado despencou devido à combinação de altos gastos com ração e demanda reprimida pela Covid-19. Alguns criadores de suínos menores podem ser forçados a sair do mercado, de acordo com o analista sênior do Rabobank, Chenjun Pan.
A Organização das Nações Unidas para Agricultura e Alimentação (ONU) disse que os preços globais da carne em janeiro subiram pelo quarto mês consecutivo. Desde 1º de dezembro, os futuros do milho em Chicago aumentaram 28% e da soja, 18%. Surtos de doenças animais também podem elevar os preços da carne, com parte dos países da Europa e da Ásia registrando surtos de gripe aviária. Um vírus mortal do porco, chamado peste suína africana, ainda está se espalhando em alguns países após dizimar rebanhos chineses, e recentemente fez com que uma empresa de suínos das Filipinas saísse do mercado.
Os preços da carne nos supermercados de aumentam mais depois que os fazendeiros reduzem os seus rebanhos devido à queda nos lucros. Esse é um processo que leva tempo, o que significa que há uma defasagem entre a inflação do custo da ração e o aumento dos preços ao consumidor, disse Will Sawyer, economista de proteína animal do banco de crédito agrícola CoBank ACB. Nos EUA, as operações de gado e aves já começaram a contrair devido aos poucos lucros em meio à pandemia. O rebanho suíno norte-americano caiu 0,9% em dezembro, na comparação com igual período do ano anterior, segundo dados do governo.
Nos EUA, um período prolongado de estiagem está secando as pastagens e os preços dos alimentos para animais dispararam 30%. Os desafios do mercado provavelmente levarão os pecuaristas a reduzir o ritmo, de acordo com Clayton Huseman, diretor executivo da Associação de Pecuária do Kansas. “Nos próximos anos, esperamos que o fornecimento fique mais apertado”, disse Huseman. (Adaptação do texto da Bloomberg, postado no Portal DBO)