Trabalhadores de frigoríficos fazem parte do próximo grupo de pessoas que poderão receber a vacina contra a covid-19 em alguns Estados norte-americanos, e seus chefes querem que eles sejam vacinados. No entanto, muitos desses trabalhadores continuam receosos quanto à segurança e eficácia das vacinas, de acordo com pesquisas de empresas, grupos de trabalhadores e alguns dos próprios funcionários. Alguns temem uma possível exigência de prova de status de imigração para receber a vacina, disseram representantes dos trabalhadores, enquanto outros que não falam ou não leem inglês podem ter dificuldade para descobrir onde tomar a vacina.
Para representantes da indústria de carnes, as vacinas são a melhor garantia de segurança para funcionários que trabalham por várias horas ao dia e lado a lado nas linha de processamento. No ano passado, milhares de trabalhadores do setor ficaram doentes e mais de 130 morreram, de acordo com estimativas de sindicatos.
“Não há dúvida de que, se conseguirmos uma aceitação muito alta da vacina, isso será fundamental para nos ajudar a controlar a pandemia”, disse Tom Brower, vice-presidente sênior de saúde e segurança da Tyson Foods, a maior processadora de carnes dos EUA em receita. Na semana passada, 45 funcionários em uma unidade de processamento de frango da Tyson na Carolina do Norte foram vacinados.
Por enquanto, as empresas de carne disseram que não vão exigir que os trabalhadores sejam vacinados. Em vez disso, companhias como Tyson, Pilgrim’s Pride, Sanderson Farms, Smithfield Foods e Perdue Farms estão produzindo vídeos educacionais, pôsteres e apresentações para promover a vacinação. A Pilgrim’s e a JBS USA Holdings, a maior processadora de carne bovina do país, estão oferecendo bônus em dinheiro aos funcionários que forem vacinados, e cerca de 500 já receberam a vacina até agora, disse uma porta-voz.
A confiança também pode ser um problema. Para alguns trabalhadores, as empresas perderam credibilidade depois do que os críticos chamaram de esforços lentos ou insuficientes para proteger os trabalhadores quando as infecções se espalharam pelas fábricas no ano passado. “Existe essa desconfiança nas empresas”, disse Magaly Licolli, cofundadora do grupo de defesa dos trabalhadores Venceremos, que trabalha com funcionários de unidades de processamento de frango de Arkansas. Licolli disse que está incentivando os trabalhadores a tomar a vacina, mas disse que as companhias não deveriam exigir isso.
As empresas de carne disseram que gastaram centenas de milhões de dólares em medidas de segurança contra a covid-19, fornecendo máscaras aos trabalhadores, medindo sua temperatura antes dos turnos e aumentando a distância entre as cadeiras nos refeitórios. Alguns executivos das companhias disseram, porém, que certas funções não permitem o distanciamento necessário, devido à forma como as linhas de processamento são projetadas. As taxas de infecção entre os trabalhadores do setor de carne diminuíram, dizem as empresas, embora as fábricas continuem enfrentando alguns surtos.
De acordo com pesquisas com funcionários da Sanderson Farms, cerca de 50% disseram que não seriam vacinados contra a covid-19 agora. Quando as vacinas foram oferecidas na semana passada a funcionários com mais de 64 anos nas instalações de Sanderson no Mississippi, cerca de 75% aceitaram, segundo o diretor financeiro da companhia, Mike Cockrell.
Na Tyson, Brower disse que pesquisas com funcionários mostram que a maioria tem interesse nas vacinas. Pesquisas internas da JBS mostraram que entre 60% e 90% de seus trabalhadores estavam dispostos a tomar a vacina, disse a empresa.
A processadora de frango Perdue Farms produziu vídeos com executivos e funcionários, e colocou cartazes em volta das plantas em vários idiomas que procuram derrubar mitos sobre vacinas. A companhia espera vacinar cerca de 40 trabalhadores em uma fábrica da Virgínia na segunda-feira, disse uma porta-voz.
Grupos minoritários constituem grande parte da força de trabalho nas unidades de processamento de carne dos EUA. De acordo com dados de 2020 do Escritório de Estatísticas do Trabalho, cerca de 37% dos trabalhadores de abate e processamento de animais do país eram hispânicos ou latinos, e 20% eram negros ou afro-americanos. Esses grupos mostraram hesitação em relação às vacinas contra a covid-19 desenvolvidas rapidamente. Uma pesquisa da Kaiser Family Foundation conduzida no final do ano passado revelou que quatro entre dez adultos hispânicos entrevistados disseram que iriam “esperar para ver” antes de tomar a vacina.
Em uma pesquisa da Universidade de Michigan realizada em outubro, 51% dos hispânicos disseram que queriam receber a vacina, e 40% dos negros entrevistados disseram o mesmo. Algumas pesquisas mostraram que o ceticismo das pessoas em relação às vacinas contra a covid-19 diminui à medida que veem outras pessoas sendo vacinadas.
A Liga dos Cidadãos Unidos da América Latina, um grupo de defesa de direitos civis, contratou uma empresa de marketing digital para ajudar a promover as vacinas contra a covid-19 entre os trabalhadores da indústria de alimentos. “Estamos lutando contra a desinformação”, disse a CEO do grupo, Sindy Benavides. (AE)