Yago Travagini é economista e consultor de mercado pela Agrifatto
Caroline Matos é zootecnista e trainee pela Agrifatto
Resumo da semana:
Finalmente aconteceu. Após 18 semanas consecutivas de valorização, o preço médio semanal do boi gordo em São Paulo registrou sua primeira queda. Desde a primeira semana de julho/20, a cotação semanal do boi gordo não registrava nenhuma variação negativa, no entanto, a pressão baixista impostas pelos frigoríficos ganhou a queda de braço com os produtores, e uma queda de 1,73% foi imposta sobre o animal. O valor médio de negociação na última semana ficou em R$ 285,08/@, R$ 5,00/@ abaixo do que foi na semana retrasada. A articulação frigorífica através da saída das compras em várias plantas, antecipação de manutenção programadas e anúncio de férias coletivas realizada no dia 11/11/2020 demonstrou sua efetividade somente nesta semana, com os produtores cedendo e negociando a valores menores do que eram ofertados. Ainda assim, a dificuldade dos frigoríficos em compor escalas aparenta não dar espaços para queda ainda maiores neste curto prazo.
Se o boi gordo registrou sua primeira queda semanal, as cotações dos animais de reposição seguem firme. O preço do bezerro no MS atingiu os R$ 2.474/cabeça na última quinta-feira, rompendo mais um recorde histórico no indicador Cepea. Somente nas últimas duas semanas, a valorização obtida pelo bezerro foi de 5,28%, subindo mais de R$ 125/cabeça nesse intervalo. Ainda assim, notamos que com a queda do boi gordo, o mercado de reposição perdeu liquidez, muitos compradores se retiraram das compras durante os últimos dias, com receio de que o valor de venda desse bezerro no futuro (via venda de boi gordo) não compensasse a compra. Desta forma, visualizamos que enquanto esse movimento do boi gordo perdurar, a reposição deve ter semanas mais “frias”.
Com o dólar recuando para baixo dos R$ 5,40 e a redução do apetite externo, o preço da soja e do milho no Brasil não aguentaram e fecharam a semana em queda. A cotação semanal média do cereal em São Paulo fechou a 3ª semana consecutiva com desvalorização, estabelecendo-se próximo dos R$ 80,40/sc, o menor valor desde a 3ª semana de outubro/20, enquanto isso o preço médio semanal da soja em Paranaguá/PR fechou abaixo dos R$ 165,00/sc, caindo mais de 2% nas duas últimas. O interessante deste movimento é que ele exclui o que acontece nos EUA, isso por que o preço do milho e da oleaginosa em Chicago tem avançado fortemente nas últimas semanas, rompendo valores recordes dos últimos quatro anos para a soja.
1. Na tela da B3
Com a pressão baixista efetivada no mercado físico, os negócios na B3 sofreram mais uma semana com desvalorizações. O contrato para dezembro/20 corroeu mais de 3% durante a última semana, saindo dos R$ 286,00/@ na sexta-feira retrasada para R$ 275,50/@ no encerramento desta semana. A referência para maio/21 que já chegou nos R$ 275,00/@ a 14 dias atrás, na sexta-feira foi negociada por R$ 259,00/@.
A volatilidade continua elevada e precificada no mercado do boi gordo e a queda vista durante essa última semana amedrontou alguns participantes. O volume de contratos em aberto reduziu 2% no comparativo semanal, chegando a menos de 78 mil contratos em aberto (futuros + opções). A diminuição desta vez veio principalmente do mercado de futuros, onde o número de contratos em aberto caiu 10%, chegando a 16,14 mil contratos, o menor volume desde 02/07/2020.
Dentre os players, aquele que mais sentiu a desvalorização do boi gordo e reduziu com mais força sua exposição em contratos futuros foram as Pessoas Físicas. Se até semana retrasada eles movimentavam cerca de 279,41 mil cabeças de 20@ na B3 (16,93 mil contratos futuros), na última semana o volume negociado pelas PFs caiu 18%, para 228,26 mil cabeças de 20@. Com tamanha desmonte de posição, as Pessoas Físicas reduziram fortemente sua posição comprada, sendo agora as PJs não financeiras, o player com maior posição comprada do mercado (obtida através de vendas de PUTs e da forte redução na posição vendida nos contratos futuros). Como tal mudança de posição foi marcada sobretudo por uma diminuição no volume de negócios, poucas conclusões podem ser inferidas, no entanto, caso as PJs não financeiras mantenham tal movimentação, um indicativo de alta na B3 poderia estar surgindo.
1.1 O que o mercado futuro proporciona?
A junção da instabilidade com a queda das cotações dos vencimentos futuros fez com que as opções continuassem a apresentar uma alta volatilidade e precificações piores do que na semana retrasada.
As PUTs de R$ 280,00/@ para dezembro/20 já tiveram seu custo praticamente triplicado nas últimas duas semanas. Para se ter uma ideia, a compra de uma PUT para dezembro/20 com strike nos R$ 263,00/@ tem atualmente o custo de R$ 2,83/@ (1,08% do valor protegido). Como já havíamos recomendado em semanas anteriores, a compra dessas PUTs pode ser interessante para aqueles que ainda tem animais a serem entregues e não realizaram nenhum tipo de proteção. Com o atual nível de volatilidade presente no mercado, variações bruscas podem penalizar aqueles que ainda não se posicionaram.
A PUT sintética continua no radar sendo uma estratégia atraente, especialmente se realizada em ajuste com a venda de animais a termo, visto que pode melhorar o preço mínimo se comparada à PUT simples sem incorrer na incidência de ajustes até que o mercado bata o strike da CALL.
Como as opções estão altamente precificadas pela volatilidade, os futuros se mostram como uma opção atrativa para quem buscar travar preços para o ano de 2021. Para aqueles que precisarão comprar a reposição em maio/21, a volatilidade do mercado tem apresentado boas oportunidades de compra de futuros, com os valores de tal contrato batendo os R$ 250,00/@. A compra de tal contrato se mostra interessante como forma de se proteger de uma possível maior valorização da reposição.
Sem bovinos oriundos de confinamento e com baixo interesse do pecuarista, o mercado a termo permaneceu frio por mais uma semana.
2. Enquanto isso, no atacado…
Semana descompassada, o que se destacou com o feriado na última semana. Foi observada pouca movimentação no mercado atacadista de carne bovina, o clima que paira é o de atenção, principalmente nesta última quinzena do mês. A população não tem conseguido absorver os produtos cárneos bovinos, dada o menor poder aquisitivo, fato que tem reduzido o apetite da ponta compradora no atacado. Com isso, os preços da carcaça casada bovina sofreram baixa de R$ 0,30/kg, passando a ser negociada a R$ 18,00, acumulando queda de 1,64%.
O traseiro, que passou invicto diante de muitas baixas, começou a desacelerar. Na última semana o produto caiu, aproximadamente, 2,5% na comparação semanal, com as indicações orbitando a faixa dos R$ 20,15/@. Enquanto isso, o dianteiro avançou, na média, 1,39%, e as indicações chegam a R$ 16,30/kg.
Semana de baixas também para a carcaça casada suína, que passou a ser negociada a R$ 13,56/kg, acumulando baixa semanal de 2,41%. Já na comparação mensal, o cenário ainda é positivo, com o avanço de 4,75% nas indicações. As correções estão relacionadas a arrefecida do consumo doméstico, o que reduziu a procura pelo produto.
Indo ao contrário das outras proteínas, o frango resfriado ganhou manteve o ritmo firme das cotações. O avanço semanal foi de, aproximadamente, 1%, com as cotações chegando a R$ 6,26/kg. Apesar da menor procura no mercado interno, as exportações dão suporte para o produto que avançou 8,77% nos últimos 30 dias.
Para o mercado de ovos a semana também foi positiva, com os preços alcançando os R$ 109,00 cx com 30 dúzias. A proteína acumula semanal de 4,81% e na comparação mensal de 5,83%.
3. No mercado externo
Com mais de 1,22 milhão de toneladas enviadas para fora do país na terceira semana de novembro/20, as exportações de milho chegaram ao total de 3,49 milhões de toneladas nos 14 primeiros dias úteis de novembro/20. A média diária estabeleceu-se em 249,70 mil toneladas, 21,50% a mais do que fora registrado em novembro/19. Desta forma, a tendência é que o mês de novembro/20 seja o melhor da história para um mês de novembro em volume embarcado, com mais de 4,8 milhões de toneladas exportadas.
A evolução dos preços internacionais tem proporcionado uma melhora nos negócios para as empresas exportadoras. Isso por que o preço médio do milho exportado já subiu 7,29% no comparativo anual, chegando ao valor de US$ 182,2/t. Diante disso, a receita obtida com a venda de cereal brasileiro chegou aos US$ 636 milhões, com uma média diária de US$ 45,49 milhões, 30% a mais do que foi registrado em novembro/19.
Após duas semanas inicias frenéticas, os embarques de carne bovina brasileira apresentaram uma desaceleração forte na terceira semana de novembro/20. Foram 32,10 mil toneladas enviadas para fora do país na última semana, 29% a menos do que fora registrado na segunda semana de novembro/20. Com tal desempenho, a média diária embarcada do mês de novembro/20 reduziu 12% em relação a semana retrasada, se posicionando em 8,50 mil toneladas/dia. Ainda assim, se mantido esse desempenho até o fim do mês, romperíamos um recorde nos embarques diários de proteína bovina.
Com a manutenção do preço médio de venda na casa dos US$ 4,39 mil/t, a receita diária obtida também reduziu 12%, ficando em US$ 37,32 milhões/dia. Apesar do recuo, tal resultado ainda é 8% superior ao de outubro/20, quando a receita diária obtida rondava a casa dos US$ 34,52 milhões/dia.
Com um volume ínfimo de soja disponível, as exportações da oleaginosa continuam a recuar semana após semana. Desta vez, foram apenas 307,36 mil toneladas enviadas para o exterior durante toda a última semana, com isso, a média diária exportada de soja recuou para 88,75 mil toneladas, 14% menor que a média da semana anterior. A manutenção deste desempenho deve levar as exportações de soja a menos de 2,00 milhões de toneladas embarcadas em novembro/20, pior desempenho para um mês de novembro desde 2016.
A receita obtida com as vendas da oleaginosa atingiu os US$ 456,27 milhões no acumulado até a terceira semana de 2020, com os preços de exportações estabilizado próximo dos US$ 365/t, a receita média diária também recuou 14% no comparativo semanal, chegando a um valor de US$ 32,59 milhões/dia, 64% menor do que foi em novembro/19.
4. A compra do pecuarista
Em uma semana de depreciação do boi gordo, o pecuarista encaminha-se para mais um mês em que a reposição e os insumos necessários para a realização da atividade pecuária imprimem uma relação de troca perto das piores da história.
Dentre eles, o que ainda apresenta uma curva de piora graças a latente falta de oferta disponível é o farelo de soja. A relação de troca farelo de soja/boi gordo atingiu em novembro/20 o valor de 2,38 t/cabeça, sendo essa a pior relação de troca da história para um mês novembro, demonstrando que com a venda de um boi gordo de 20@ no mês de novembro/20, o pecuarista conseguiria comprar apenas 2,38 toneladas de farelo de soja.
A situação do mercado de farelo de soja é crítica para quem necessita realizar novas compras, já que grande parte da produção brasileira foi exportada (mais de 82 milhões de toneladas), e com isso, as indústrias de esmagamento não tiveram opção a não ser repassar o custo do aumento do grão para o farelo. Diante disso, o farelo de soja saiu dos R$ 1.199/t em janeiro/20 e atingiu os R$ 2.404/t em novembro/20, valorizando mais de 100% dentro deste intervalo de tempo.
A situação deve continuar preocupante para 2021, já que grande parte da soja, que ainda está finalizando o plantio, foi comercializada e os preços atuais oferecidos pelas tradings no Brasil para entrega da soja em mar/21 já ultrapassam os R$ 125,00/sc. Considerando que as cotações atuais no mercado físico da oleaginosa flutuam na casa dos R$ 165,00/sc, é de se esperar uma desvalorização do farelo de soja em níveis parecidos. No entanto, mesmo que varia no mesmo nível do grão, o preço do farelo de soja no Brasil em mar/21 ainda estaria acima dos R$ 1.800/t, o que é 30% do que foi registrado em mar/20. Isso, se o farelo realmente desvalorizar na mesma proporção do grão.
Ainda que haja muita “água para passar debaixo dessa ponte”, o cenário desenhado para 2021 nos garante uma coisa, o farelo de soja deve permanecer com cotações elevadas, e a busca por alternativas de fontes proteicas é mais do que necessária para aqueles que fazem a suplementação.
5. O destaque da semana
O destaque desta semana fica para divulgação parcial dos dados de abate do IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística), que apontam para redução no número de bovinos abatidos no 3°tri deste ano. Durante o período foram abatidos 7,58 milhões de cabeças de bovinos, dado que aponta aumento de 3,8% ante o trimestre anterior, porém queda de 10,8% ante o mesmo período do ano passado.
Como esperado, a quantidade de carcaças bovinas também sofreu queda. Foram produzidas 2,02 milhões de toneladas de carcaças, revelando baixa de 7,6% quando comparado ao 2°tri de 2020 e queda de 8% em comparação ao mesmo período do ano passado.
Além disso, a produção de couro também passou por reduções na comparação anual. A aquisição de couro cru desacelerou 6,6% se comparado ao 3°tri de 2019, porém avanço de 9,5% quando comparado ao trimestre anterior. A produção total foi de 8,02 milhões de peças inteiras.
Enquanto a produção de bovinos desacelerou, a de frangos aumentou 6,2% ante o trimestre anterior, contando com o abate de 1,50 bilhões de cabeças. Na comparação anual, o avanço foi mais tímido, de 1,8%.
Apesar dos ajustes produtivos no primeiro trimestre deste ano, a quantidade de suínos abatidos também ganhou força no último trimestre. Durante o período foram abatidos 12,57 milhões de cabeças, alta de 3,08% ao ser comparado com o trimestre anterior e avanço de 7% ante o mesmo período do ano passado.
6. E o que está no radar?