Yago Travagini é economista e consultor de mercado pela Agrifatto
Caroline Matos é zootecnista e trainee pela Agrifatto

 

Resumo da semana:

 

Já são 17 semanas consecutivas em que o boi gordo não sabe o que é desvalorizar em São Paulo. O preço médio do animal na última semana ficou em R$ 278,17/@, com alta de 1,67% no comparativo semanal. A justificativa para a valorização por mais uma semana continua do lado da oferta, isso por que a escassez de gado pronto é ainda sentida intensamente pelos frigoríficos em todo o país, que para garantir o cumprimento das escalas estão aceitando os valores pedidos pelos produtores. E os pecuaristas não vem opção a não ser aumentar os preços já que os custos com reposição e insumos continuam em alta.
E a pressão que a oferta tem causado tem transpassado os outros elos da cadeia pecuária. A carcaça casada do boi no atacado fechou a semana com uma alta de 2,25%, rompendo finalmente os R$ 18,00/kg. A percepção do mercado atacadista é que a escassez de produto (proteína bovina) tem movimentado os varejistas, e esses tem aceitado as altas consecutivas do produto. No entanto, a “linha” que tem segurado o varejo é tênue, e, um aumento nos estoques pode ocasionar um represamento das altas, vale acompanhar esses movimentos diariamente.
O protagonismo dos grãos trocou de lado nesta semana, com o milho saindo dos holofotes das altas e abrindo espaço para a soja. O preço da oleaginosa no Brasil fechou a semana com uma alta de 3%, encostando nos R$ 170,00/sc no mercado físico. E tal desempenho só foi possível graças as movimentações nos EUA, isso porque o contrato de soja para novembro/20 na CBOT valorizou 4%, fechando a semana no maior valor desde junho/18. Essa valorização da oleaginosa foi justificada por três fatores: a demanda externa aquecida, as condições climáticas no Brasil e a eminente eleição de Joe Biden (que favoreceria o comércio com a China).
Por fim, chegamos ao dólar, que depois de duas semanas permanecendo acima dos R$ 5,60, resolveu recuar, fechando a sexta-feira no menor patamar dos últimos 45 dias, R$ 5,49. A queda semanal da divisa norte-americana frente ao real foi de 4%. O comando dessa desvalorização do dólar veio do cenário externo, contando principalmente com a eleição de Joe Biden, que é vista como positiva as moedas dos países emergentes. A fraqueza do dólar não foi só contra o real, a cesta de moedas representada pelo DXY apontou uma queda de 2% do dólar frente essas moedas fortes.

 

1. Na tela da B3

 

Semana de alta para os contratos futuros de boi gordo na B3. O vencimento com maior volume de contratos em aberto (novembro/20), fechou a sexta-feira cotado à R$ 294,20/@, em uma expressiva alta de 3,4% na semana. A posição para maio/21 obteve também um desempenho positivo, subindo 2,6%, ficando cotado à R$ 275,45/@.
Com as atualizações pós encerramento do vencimento outubro/20, o volume de contratos em aberto reduziu fortemente puxado pela execução das opções. Ao fim da semana retrasada, eram 84,34 mil opções em aberto e até o fim desta última semana ficaram apenas 51,82 mil contratos de opções em aberto. Com isso, o total de contratos em aberto caiu para 70 mil, o menor volume desde 02/07/2020. Como destacamos na semana passada, o receio dos participantes do mercado em assumir posições para 2021 segue elevado.
Com o grande volume de negócios realizados na semana retrasada para a saída da posição de outubro/20, o quadro de posicionamento dos participantes no mercado do boi gordo na B3 sofreu algumas leves alterações. As Pessoas Físicas aumentaram sua exposição comprada, no vencimento para outubro/20 do que por um aumento de força compradora desses players. Do lado das PJs não financeiras observamos mais uma vez a mudança de posição comprada para vendida, mas assim como nas PFs, essa alteração foi causada sobretudo pela execução de PUTs que foram vendidas por esses players e que se encerraram ao fim do último mês.
Desta forma, notamos que a movimentação da última semana foi mais uma resposta ao fim do contrato outubro/20 e a falta de movimentação para 2021, do que de fato uma tendência de posicionamento dos players do mercado.

 

 

1.1 O que o mercado futuro proporciona?

 

A alta das cotações na B3 abriu espaço para aqueles que buscam travar opções a custos mais baixos, no entanto, com a volatilidade ainda acima da média histórica, o desembolso a strikes interessantes continua elevado.
Com o contrato para dezembro/20 flertando com os R$ 300,00/@, as opções para o fim de ano vão se mostrando interessante, principalmente para aqueles que tem animais a serem entregues após o dia 15/12/2020 (período em que o mercado esfria). Para os pecuaristas, a compra de PUTs visando a entrega pós essa data, nos parece atrativa, visto que o custo de proteger um preço de R$ 280,00/@ sai por menos de 1,30% deste valor. Para 2021, ainda não visualizamos uma boa atratividade na compra de PUTs devido ao alto custo empregado em strikes não tão atrativos. Para se ter uma ideia, para proteger um preço de R$ 240,00/@ em maio/21, o valor gasto chega a ser de R$ 2,93/@.
Os futuros ainda nos aparenta ser a opção mais atrativa para quem buscar travar preços para o primeiro semestre de 2021. Visualizamos a janela entre a segunda semana de novembro e a segunda semana de dezembro como as ideais para aqueles que necessitam fazer vendas na B3, obviamente que se deve ficar atento se os valores que forem atingidos nesse intervalo de tempo atendem a margem de lucro esperada do negócio. Além disso, ressaltamos o cuidado com os ajustes diários que podem ocorrer devido ao grande intervalo de tempo até o fim do contrato.
O mercado a termo continua frio, com poucos negócios sendo realizados em todo o país.

 

2. Enquanto isso, no atacado…

 

A semana encerrou com ganhos no mercado atacadista de carne bovina. A carcaça casada bovina rompeu a marca dos R$ 18,00/kg, fechando cotada a R$ 18,20/kg, acumulando alta semanal de 2,25%. Na comparação mensal, a alta chega a 11,11%. Além isso, o dianteiro, destinado a população com menor poder aquisitivo, têm ganhos mais discretos. Se comparado ao mesmo período do mês anterior, a alta do produto foi de 8,44%, negociado a R$ 15,50/kg. Enquanto o traseiro ultrapassa os R$ 21,00/kg, acumulando alta mensal de 11,26%.
A atenção se volta ao comportamento do varejo, que não tem absorvido os cortes mais populares, e as altas ainda não são repassadas totalmente ao consumidor final. Por outro lado, cortes mais nobres tem forte procura no mercado.
O frango resfriado também obteve desempenho positivo com a chegada de novembro, acumulou alta de 3,15% ante a semana anterior, com os preços se aproximando da casa dos R$ 6,00/kg. Já na comparação mensal, o avanço foi de 4,42%. Os valores da proteína têm alcançado níveis recordes e a conjuntura aponta para firmeza dos preços.
Já a carcaça especial suína caminhou a passos lentos nos últimos 7 dias, encerrando a sexta-feira em R$ 13,81/kg, alta pontual de 0,51%. Porém, se olharmos para o mesmo período de outubro, o avanço foi de 18,80%. A pouca disponibilidade de carne suína, aliada às exportações, dão firmeza aos preços, apesar do desempenho mais tímido nesta semana, a tendência é de preços fortalecidos.
As indicações dos ovos se sustentam na menor oferta, em decorrência da maior mortalidade das galinhas poedeiras com o aumento das temperaturas. Com isso, as indicações da caixa com 30 dúzias avançaram 1,96%, chegando aos R$ 104,00.

 

3. No mercado externo

 

Com uma média de 10,50 mil toneladas/dia, a primeira semana de novembro/20 pode ser considerado uma das melhores da história para a exportação de carne bovina do Brasil. Esse volume é 29% maior que a média diária de outubro/20 (8,13 mil toneladas), que foi o recorde para uma média diária em um mês. Mantido esse volume diário exportado, a possibilidade de que o recorde mensal (170,55 mil toneladas) seja batido é grande.
Como o preço também sofreu com uma valorização de 4%, atingindo a média de US$ 4,39 mil/t, a receita cresceu de maneira mais intensa que o volume. Foram US$ 46,14 milhões por dia nessa primeira semana de novembro/20, 34% acima do que foi registrado na média diária de outubro/20.
A primeira semana foi de aceleração para as exportações de milho brasileira. Com pouco mais de 1,15 milhão de toneladas embarcadas para fora do país nos quatro primeiros dias úteis de novembro/20, a média diária de cereal exportado ficou 12% maior que em outubro/20 e 41% acima de novembro/19. Com o estabelecimento do atual patamar (289 mil toneladas/dia), as chances de que os embarques de novembro/20 sejam os maiores da história para um mês de novembro são grandes.
A receita cresceu de maneira ainda mais intensa, isso por que o preço médio do milho exportado pelo Brasil nesta primeira semana aumentou 5% em relação ao mês passado, voltando a se estabelecer acima dos US$ 174/t. Com isso, a média diária da receita obtida com a venda de milho ficou em US$ 50 milhões, 18% acima do número de outubro/20.
Apesar da escassez latente no mercado de soja, os contratos firmados anteriormente continuam a ser cumpridos. A primeira semana de novembro/20 reservou um crescimento na média diária exportada de soja pelo Brasil, saindo de 124,64 mil toneladas/dia em outubro/20 para 201,47 mil toneladas/dia nos quatro primeiros dias úteis de novembro/20. Ainda assim, essa média diária está 18% atrás do que foi registrado no mesmo período do ano passado, demonstrando que há falta de produto no Brasil.
A receita evoluiu no mesmo nível que o volume, com um total de US$ 74,20 milhões/dia na primeira semana de novembro/20, 62% acima do que foi registrado em outubro/20. Esse resultado aumenta a possibilidade de que os embarques de soja voltem a romper os US$ 1 bilhão.

 

4. A compra do pecuarista

 

E depois de sete semanas consecutivas em alta, o preço médio semanal do milho em São Paulo registrou desvalorização. Apesar da desvalorização ter sido leve, o cereal parece ter encontrado nos R$ 83,00/sc o seu teto de preço no mercado físico. A referência da última semana para o milho ficou na casa dos R$ 81,15/sc, recuando 0,61% no comparativo semanal. Essa também é a primeira semana depois das últimas sete em que a relação de troca boi gordo/milho semanal registra melhora, saindo de 3,35 sc/@ para 3,43 sc/@, número ainda bem abaixo da média dos últimos cinco anos (4,17 sc/@).
Na parte de insumos, quem iniciou um novo rally de alta provocado pelos preços na CBOT foi a soja. O contrato futuro da oleaginosa para novembro/20 em Chicago subiu 4% na última semana, chegando a romper os US$ 11,00/bu, chegando ao maior valor corrente desde junho/18. No mercado físico, o grão chegou aos R$ 168,97/sc, com o farelo acompanhando a alta e ficando cotado a R$ 2.400/t em Rio Verde/GO. Com isso, apesar do boi gordo estar em franca valorização, a relação de troca com o farelo de soja caminha para ser a pior dos últimos 28 meses.
Nos dois casos, observamos que a compra do pecuarista está severamente prejudicada pela alta dos insumos, seja do milho ou da soja. No entanto, em alguns casos, a relação de troca está em máximas positivas para o pecuarista, como é o caso do óleo diesel.
Amplamente utilizado nos maquinários das propriedades rurais, seja para reforma de pastagens, transporte de insumos ou de cargas, o óleo diesel é um dos itens básicos na compra do pecuarista, e 2020 tem reservado a melhor relação de troca da história entre o boi gordo e o óleo diesel. Isso por que, enquanto o boi gordo subiu 62% no comparativo anual (out/20 – out/19) o óleo diesel registrou desvalorização de 7%. Desta forma, a relação de troca boi gordo/óleo diesel fechou o último mês em 79 l/@, o maior valor de toda a série histórica.
Diante disso, apesar de não ter uma grande participação nos custos totais, visualizamos que há itens em que o pecuarista está tendo um melhor poder de compra, no entanto, os que detêm maior participação (alimentação e reposição) estão de fato reduzindo a margem.

 

 

5. O destaque da semana

 

O destaque da última semana fica para o indicador do boi gordo Cepea/Esalq, que bateu R$ 287,85/@, aumentando as expectativas para os possíveis R$ 300,00/@ até o final do ano. Ainda que não totalmente concretizado, a arroba já acumula alta de 49,18% desde o início de 2020. Vale a pena recordar que as cotações iniciaram o ano perdendo força, com a atenção se voltando cada vez mais para o comportamento de preços.
Nos últimos 30 dias, a arroba avançou 13,53%, saindo da casa dos R$ 260,00/@ e se aproximando dos R$ 290,00, quiçá R$ 300,00/@, como vimos na última semana. Se olharmos mais trás, em 2019 os preços orbitavam a faixa dos R$ 170,00/@, sem considerar a disparada entre a segunda quinzena de novembro e dezembro, de lá para cada o indicador acumula alta de 62,21%.
A sustentação dos preços aos níveis atuais está principalmente relacionada à oferta limitada de animais prontos para abate, dada a redução dos abates de fêmeas, mas não apenas isso, os custos pecuários aumentaram consideravelmente dada as oscilações do dólar e menor disponibilidade de insumos, principalmente milho e soja.
As exportações também possuem importante papel na conjuntura e fortalecem as indicações, além disso, também melhoram a margem de lucro das indústrias, visto que as altas não têm sido repassadas em sua totalidade para o mercado interno.

 

 

6. E o que está no radar?

 

Novembro manteve a tendência observada nos últimos meses: preços firmes, sustentados pela menor disponibilidade de boiada pronta para abate. E, a tendência aponta, que isso não deve se alterar no curtíssimo prazo. Isso se dá, pois, os animais provindos do segundo giro de confinamento não são suficientes para atender a demanda existente. Além disso, os custos pecuários não devem ceder.
A entrada do novo mês pode aumentar o consumo de proteína bovina, relacionado à chegada dos salários e auxílio emergencial. Neste cenário, por se tratar do período mais favorável para venda de carne, os preços dos produtos bovídeos devem se manter aquecidos.
Fica no radar também o desempenho das exportações de carne bovina brasileira, visto que em outubro, apesar de não ter quebrado o recorde, foi marcado por bom desempenho, principalmente com a média diária alcançando mais de 8,0 mil ton/dia.
Além disso, com relação ao exterior, a atenção se volta totalmente as eleições presidenciais norte-americanas, visto que o candidato Joe Biden venceu a corrida eleitoral. Neste interim, o dólar já desacelerou.