Os IPOs (ofertas iniciais de ações, na sigla em inglês) devem acelerar em 2021. Até o momento, são 17 pedidos de abertura de capital em análise e 13 em andamento, segundo dados da CVM (Comissão de Valores Mobiliários). Em 2020, foram 27 ao todo.
Entre as empresas que estão com o IPO em aberto está a unidade de mineração da CSN (Companhia Siderúrgica Nacional), uma oferta esperada há muitos anos pelo mercado.
Com base no prospecto inicial, a ação da CSN Mineração deve estrear entre R$ 8,50 e R$ 11,35. Considerando a média de R$ 9,93, o IPO levantaria R$ 5,3 bilhões.
Com o preço do minério de ferro em alta, a operação, que foi adiada em 2020 pela instabilidade do mercado, gera grande expectativa no setor financeiro. O grupo já trabalha na próxima abertura de capital, com a criação de uma subsidiária de cimento.
A recuperação do mercado de ações após o tombo no primeiro trimestre de 2020 levou empresas a retomarem a abertura de capital. Com a Selic na mínima histórica de 2% ao ano, Ibovespa perto dos 120 mil pontos e preços de matérias-primas em alta, companhias veem o momento como propício para captarem dinheiro no mercado de ações —mesmo que a Selic termine o ano ao redor de 4%, analistas consideram o juro baixo, especialmente quando levada em conta a inflação.
A redução no juro, porém, não foi inteiramente repassada por muitos bancos na concessão de crédito, o que pode tornar o IPO uma maneira mais barata das empresas levantarem capital em um momento de crise, especialmente com o mercado em alta.
“Quando o mercado está otimista, a empresa se vende mais caro. Com a euforia, pessoas compram ação como se fosse ticket de loteria”, afirma Alberto Amparo, analista da Suno Research.
Dois IPOs já foram concluídos em 2021, o da empresa de administração imobiliária HBR Realty e a de locação de caminhões Vamos.
Ambas as empresas haviam desistido de ofertas tradicionais em 2020 e agora fizeram uma oferta restrita, limitada a 50 investidores institucionais. Por ser menos ampla, sua aprovação na CVM é, geralmente, mais rápida.
Por outro lado, seis empresas desistiram do IPO este ano, entre elas Cagece (Companhia de Água e Esgoto do Ceará) e Açu Petróleo. Em comunicado, a Cagece afirmou que “a realização do IPO segue nos seus planos”.
A Caixa Seguridade, que havia desistido da oferta de ações, retomou as discussões para registrar o pedido de IPO na última quarta (27). Esta é a terceira tentativa do braço de seguros da Caixa Econômica de listagem na Bolsa.
Na última vez, em setembro, o banco suspendeu a operação diante das condições adversas do mercado. Naquele mês, o Ibovespa recuou 4,8%. A desvalorização foi fruto do aumento do risco fiscal, da discussão sobre o Orçamento de 2021 e das ameaças a o teto de gastos, com discussões sobre o Renda Cidadã.
“É bem interessante o conjunto de empresas que vem por aí. O que preocupa é o cenário político e o atraso nas reformas, com atrito entre Congresso e Presidência”, diz Marina Braga, diretora de Alocação na Blue Trade.
Apesar das preocupações continuarem, o mercado brasileiro acompanhou a valorização de Wall Street, impulsionado pela entrada de investidores pessoa física e estrangeiros, em um cenário de grande liquidez global. Com o real desvalorizado em relação ao dólar, a Bolsa brasileira ainda estaria barata a investidores estrangeiros.
Outro ponto que impulsiona o apetite por ativos de risco é a expectativa pelo novo pacote econômico do governo Joe Biden nos EUA, de US$ 1,9 trilhão, que deve acelerar a retomada da maior economia do mundo.
“Com teto de gastos, Executivo e Legislativo conversando bem e avanço das reformas e vacinação em massa, o cenário é positivo. Se isso mudar, IPOs podem ser cancelados. O risco é o fiscal e a falta de governabilidade”, diz Leonardo Milane, sócio e economista da VLG e professor da FIA.
As aberturas de capitais também podem ser um bom investimento, caso o preço inicial esteja descontado do valor que a empresa pode gerar. O risco, porém, é alto.
Para entrar na Bolsa, a empresa precisa tornar pública a contabilidade dos últimos três anos, o que pode ser insuficiente para uma análise mais aprofundada.
“No IPO, não se tem um conhecimento muito aprofundado do negócio ou da gestão da empresa. É interessante entender mais para tomar decisão mais embasada”, diz Marina.
Além da companhia, o investidor deve estudar o setor em que ela atua. No caso da CSN, é importante entender como está o mercado de minérios e seus riscos. No caso da Caixa, o mesmo vale para seguros.
“Vamos ter IPOs bons e ruins. Analisar o preço é essencial. Sem isso, não é possível julgar a atratividade da oferta”, afirma Amparo, da Suno.
As informações das empresas em processo de IPO podem ser encontradas em seus sites de relações com investidores ou no site da CVM. ​ (Folha de São Paulo)