Gustavo Rezende Machado é trainee pela Agrifatto
A expectativa para a demanda no próximo ano é positiva. Para o mercado interno, espera-se que o fortalecimento da economia e a recuperação do mercado de trabalho promovam aumento do consumo brasileiro de carne bovina.
Para o mercado internacional, destaca-se a consistente demanda mundial que desde agosto registra movimento positivo em patamares próximos a 200 mil toneladas. Além disso, a alta cambial estimada para 2018 torna o Brasil ainda mais competitivo como agente exportador.
Esses são fatores que podem favorecer a demanda, dando assim importante sustentação às cotações da arroba ao longo de 2018. Entretanto, a perspectiva é de aumento da oferta de animais terminados e bezerros para reposição, o que equilibra o efeito de demanda mais firme sobre os preços.
A perspectiva de maior disponibilidade de animais se dá por meio da análise do ciclo pecuário, em especial à participação de fêmeas nos abates, que registra queda desde 2012, chegando a responder no ano passado por 30% dos abates totais, mesma proporção registrada em 2010.
Nesse sentindo, o preço da arroba segue direção oposta ao volume de animais abatidos, ou seja, os anos com maior oferta de animais para abates são aqueles que registram também as mínimas dos preços. Logo, a retenção de fêmeas, que favorece uma expansão temporária do rebanho bovino brasileiro, é também um indicador de pressão baixista à vista, em continuação ao movimento observado em 2017, que já marcou o início do movimento que aqui se descreve.
Vale ressaltar que a aplicação do pacote tecnológico nas propriedades pecuárias é fator substancial para estabelecer ciclos pecuários mais curtos, já que entre outros pontos, a tecnologia auxilia no aumento das taxas de natalidade, desmama, controle de mortalidade, bem como no aprimoramento do processo de engorda, por meio do melhoramento de pastagens ou terminação intensiva (semi-confinamento e confinamento), fazendo que a resposta produtiva nas propriedades rurais seja mais rápida no longo-prazo.
O gráfico 1 demonstra a movimentação do número de abates bovinos (machos e fêmeas), onde se nota o expressivo aumento da participação de fêmeas entre 2001 e 2006, indicando que a crise de preços forçou à liquidação dos plantéis refletida pelo desinteresse pela manutenção de fêmeas destinadas à cria nas propriedades.
Os preços em queda entre 2000 e 2006 intensificaram a participação de fêmeas (vacas e novilhas) nos abates, chegando à taxa máxima de 37% em 2005 e 2006.
Mas como é natural do ciclo pecuário, após o maior descarte de matrizes, há a redução da produção de bezerros e, consequentemente, a oferta de animais terminados se ajusta, fazendo com que os preços voltem a se equilibrar em níveis mais altos.
Deste modo, o volume de abates em 2017 está projetado pela Agrifatto para aumentar 9%, puxado principalmente pelo bom desempenho das exportações de carne bovina e do aumento do consumo interno. Em resposta, o que se viu foi a movimentação da indústria para reduzir fortemente sua ociosidade operacional.
A demanda que deve pressionar positivamente as cotações em 2018. O mercado futuro já enxerga o cenário desta forma, sinalizando preços em patamares mais elevados. Para exemplificar, o contrato de maio/18 esteve cotado em R$ 145,60/@ até o fim da semana passada, uma diferença positiva de 2,35% em relação aos valores do contrato de nov/17, que estiveram cotados no mesmo dia em R$ 142,25/@.
Portanto, em 2018 espera-se demanda mais aquecida, tanto interna como externamente, equilibrada por uma maior oferta de animais terminados em consequência da maior retenção de fêmeas dos últimos anos e seus reflexos, o que deve balizar os preços futuros nos próximos meses.
Uma observação importante é relativa ao período eleitoral, que historicamente aquece o consumo no segundo semestre, quando ocorrem as eleições presidenciais.