O Banco Central reconheceu nesta terça-feira que a inflação em dezembro deverá ser alta apesar da trégua dada pelo preço dos alimentos, e ponderou que a recuperação da economia no Brasil poderá ser mais gradual em função dos desdobramentos da pandemia de Covid-19.
Em sua ata da última reunião do Comitê de Política Monetária (Copom), contudo, o BC manteve a avaliação de que o movimento ligado à inflação deverá ser passageiro.
“As últimas leituras de inflação foram acima do esperado e, em dezembro, apesar do arrefecimento previsto para os preços de alimentos, a inflação ainda deve se mostrar elevada, com coleta extraordinária de preços de mensalidades escolares e transição para o mais elevado patamar de bandeira tarifária de energia elétrica”, apontou a ata.
“Apesar da pressão inflacionária mais forte no curto prazo, o Comitê mantém o diagnóstico de que os choques atuais são temporários, mas segue monitorando sua evolução com atenção, em particular as medidas de inflação subjacente”, completou.
Na semana passada, o BC manteve a Selic em 2% pela terceira vez consecutiva e destacou que, em função do quadro inflacionário, as condições para seu compromisso de não subir os juros básicos –através do chamado forward guidance– podem em breve não estar mais satisfeitas, ainda que isso não signifique que a taxa básica será mecanicamente elevada.
Isso porque a conjuntura econômica continua a prescrever estímulo extraordinariamente elevado frente às incertezas quanto à evolução da atividade, disse o BC.
Na ata, o BC reiterou a mensagem e ponderou, quanto ao quadro econômico no país, que os riscos associados à evolução da pandemia “podem implicar um cenário doméstico caracterizado por uma retomada ainda mais gradual”.
Na visão do BC, os programas do governo de recomposição de renda –referência à concessão do auxílio emergencial– “têm permitido uma retomada relativamente forte do consumo de bens duráveis e do investimento”.
Mas os membros do Copom ressaltaram que os dados recentes seguem mostrando uma recuperação desigual da atividade.
“Prospectivamente, a pouca previsibilidade associada à evolução da pandemia e ao necessário ajuste dos gastos públicos a partir de 2021 aumenta a incerteza sobre a continuidade da retomada da atividade econômica”, frisou.
A mensagem vem em meio à indefinição quanto ao formato do Orçamento de 2021, ainda não votado pelo Congresso, incertezas relacionadas ao plano de vacinação para o coronavírus e pressões parlamentares que persistem na direção de uma extensão do auxílio emergencial no ano que vem.
POLÍTICA MONETÁRIA
Já na última quarta-feira, o BC havia apontado que desde a adoção do forward guidance (orientação futura), em setembro, houve uma reversão da queda das expectativas de inflação em relação às metas para o horizonte relevante, que hoje inclui os anos de 2021 e 2022.
Por meio do forward guidance, o BC havia se comprometido a não elevar a Selic desde que algumas premissas fossem mantidas: expectativas de inflação e projeções de inflação de seu cenário básico abaixo da meta para o horizonte relevante de política monetária, não alteração do regime fiscal e ancoragem das expectativas de inflação de longo prazo.
Na ata, o BC repetiu que hoje o forward guidance está de pé, mas pode cair “em breve”.
Para a autoridade monetária, a convergência das expectativas e projeções de inflação para a meta pode acontecer pela elevação das estimativas para o próximo ano e pela mudança no horizonte, com aumento do peso relativo de 2022, para o qual as projeções já estão suficientemente próximas da meta.
Quanto à condição de manutenção do regime fiscal para prosseguimento do forward guidance, o BC voltou a dizer que alterações de política fiscal que afetem a trajetória da dívida pública ou comprometam a âncora fiscal motivariam uma reavaliação, mesmo que o teto dos gastos seja nominalmente mantido.
Na mais recente pesquisa Focus, economistas ouvidos pelo BC elevaram suas previsões para o IPCA em 2020 –ano que já não integra o horizonte do BC devido aos efeitos defasados da política monetária sobre a economia– a 4,35%. O percentual ficou com isso um pouco mais acima da meta deste ano, que é de 4%, com margem de 1,5 ponto para mais ou para menos.
Para 2021 e 2022, as estimativas no Focus apontam para um aumento do IPCA de 3,34% e 3,50%, sendo que as metas para os anos são de 3,75% e 3,50%, respectivamente, também com banda de tolerância de 1,5 ponto. (Reuters)