O apetite voraz da China por carne importada está começando a diminuir, apontam empresas financeiras chinesas e analistas de mercado, à medida que os preços caem no mercado interno. Há também uma preocupação crescente dos consumidores chineses com a possibilidade de contaminação de produtos importados pelo novo coronavírus.
Por mais de dois anos os agricultores chineses lutaram contra surtos de peste suína africana, que reduziu os rebanhos domésticos do país em até 41% no ano passado. Apesar de ainda voláteis, os preços da carne suína mostram tendência de queda. De acordo com a Wind, uma fornecedora chinesa de dados financeiros, no atacado, os preços caíram 18% desde o início de setembro. A carne suína agora custa um pouco menos do que há um ano.
As importações de carne da China – incluindo carne bovina e ovina – estavam em alta no início do ano para cobrir o déficit interno, e chegaram a atingir US$ 25,4 bilhões, um aumento de 75% em relação ao ano anterior, segundo dados da Administração Geral das Alfândegas da China. Mas o crescimento desacelerou recentemente, e os volumes de importação de outubro estão nos níveis registrados pela última vez em fevereiro, aponta a instituição.
Um dos motivos é a covid-19. Desde junho, quando um surto da doença surgiu, e o vírus foi encontrado entre carnes e legumes em Pequim, as autoridades chinesas identificaram e restringiram a entrada de produtos importados, de refrigerados e congelados, como potenciais portadores do novo coronavírus. Isso levou à inspeções e testes em grande escala, e requisitos para que produtores e importadores estrangeiros garantam produtos livres do vírus.
Em setembro, a agência alfandegária nacional da China disse que testou ao menos meio milhão de amostras retiradas de embalagens dos chamados “alimentos da cadeia fria”. Consumidores chineses passaram também a comprar mais carne e vegetais cultivados dentro do país, de acordo com reportagens na mídia nacional.
Para a analista sênior do Rabobank, Chenjun Pan, as empresas correm o risco de perder carregamentos inteiros se o novo coronavírus for encontrado em qualquer um de seus alimentos, o que desestimula os exportadores. “Seria uma perda muito grande para eles”, disse ela.
Agora, as expectativas são de que mais cidadãos chineses voltem para o consumo de carne suína em vez de outras proteínas, como frango e carne bovina, acredita o analista sênior de commodities da StoneX em Xangai, Darin Friedrichs. “Em última análise, a carne de suíno continua sendo a proteína central, e é por isso que a China quer ser 95% autossuficiente em sua produção”, afirmou ele.
Segundo o Escritório Nacional de Estatísticas da China, a peste suína africana ainda ocorre no país mas em níveis controlados. Novas fazendas de suínos e animais trazidos da Europa adicionaram 60 milhões de suínos ao plantel do país desde o início de 2020, informou o órgão.
“Os preços devem continuar caindo no próximo ano”, afirma o analista-chefe do portal da indústria de suínos Soozhu, Feng Yonghui, “à medida que o esforço de reconstrução continua e os produtores enviam mais porcos para o abate”.
O plantel de suínos da China atualmente é de 370 milhões, ante cerca de 430 milhões antes da detecção da peste suína africana no país em agosto de 2018. (AE)