O Banco Central tem posição de absoluta tranquilidade em relação à inflação, afirmou o presidente da autarquia, Roberto Campos Neto, reconhecendo que há pressão no curto prazo, mas sem perspectiva que transborde para os anos à frente.
“Mensagem geral é que nós estamos tranquilos, entendemos que existe uma pressão no ano de 2020, descrevemos a pressão e entendemos a razão desses reajustes recentes nas expectativa de inflação, mas não entendemos que isso vá contaminar as inflações futuras”, afirmou ele.
Em seu Relatório Trimestral de Inflação desta quinta-feira, o BC indicou ver nos próximos meses alta relevante dos preços livres, com pressão sobre o preço de alimentos e reversão da queda em serviços.
“O aumento dos índices de mobilidade deve resultar em elevação de preços que ainda estão deprimidos, como os de passagem aérea, hospedagem, alimentação fora do domicílio e vestuário”, disse a autarquia no documento.
No curto prazo, o BC calculou alta do IPCA de 0,40% em setembro, 0,30% em outubro e 0,27% em novembro. A inflação acumulada em 12 meses deve então cair de 2,85% em novembro para fechar o ano em 2,1%, influenciada pelo descarte do choque nos preços das carnes observado em dezembro do ano passado.
Com isso, a inflação de 2020 ainda ficaria abaixo do limite inferior da meta deste ano, que é de 4%, com margem de tolerância de 1,5 ponto para mais ou para menos.
Também presente na coletiva de imprensa, o diretor de Política Econômica do BC, Fabio Kanczuk, disse que, pelos cálculos do BC, o repasse da inflação de 2020 para 2021 é muito baixo dada a ociosidade da economia.
“Lembro que a gente está em forward guidance e o relevante é se esse repasse para 2021, se ocorrer, vai ser relevante para fazer a inflação esperada no cenário básico chegar perto da meta. É muito improvável isso”, disse o diretor.
Para o próximo ano, a meta de inflação é de 3,75%, também com banda de tolerância de 1,5 ponto percentual. No relatório desta quinta-feira, o BC estimou um IPCA entre 2,6% e 3,0% no ano que vem nos quatro cenários considerados, com premissas diferentes para Selic e câmbio.
Após ter mantido a Selic em sua mínima histórica de 2% ao ano na semana passada, o BC vem reforçando em suas comunicações que o espaço para reduzir ainda mais os juros, se existente, deve ser pequeno –o que repetiu no relatório.
O BC também reiterou sua mensagem de forward guidance (orientação futura): apesar de uma assimetria em seu balanço de riscos para a inflação para o lado altista, não pretende subir a Selic a menos que o cenário para o avanço de preços na economia ou o regime fiscal sejam modificados.
Questionado exatamente sobre o que seria essa manutenção do regime fiscal, Campos Neto afirmou que o Comitê de Política Monetária (Copom) buscou deixar claro que não está disposto a correr riscos nesse campo.
“O que nós queremos dizer é que nós não estamos dispostos a correr riscos inflacionários oriundos de questões fiscais, essa é a mensagem principal”, disse.
IPA X IPCA
O fato de a inflação ao produtor ter disparado nas últimas leituras acendeu o alerta no mercado quanto a repasses subsequentes para os consumidores, o que tenderia a pressionar o IPCA para cima.
Sobre o tema, o BC destacou nesta quinta-feira um descolamento grande entre a inflação ao produtor (IPA), mais alta, e ao consumidor (IPCA), mais baixa, com a diferença observada em agosto tendo sido a maior desde 2003 considerando variações em trimestres móveis.
Segundo Kanczuk, deverá haver algum repasse ao IPCA à frente.
“Tem a questão de ociosidade que determina um pouco o quanto será o repasse, mas repasse deve acontecer sim”, disse o diretor. (Reuters)