A oferta global de soja está prestes a ficar ainda mais restrita, com a possibilidade de ocorrência do fenômeno climático La Niña, que pode prejudicar a produção da commodity. O fenômeno climático contribuiria para dar maior impulso para a oleaginosa, que já teve um crescimento significativo nas cotações com o aumento da demanda da China, indicam analistas. Os preços da soja estão subindo para seus níveis mais altos em mais de dois anos.
Um dólar mais fraco este ano – combinado com condições de clima seco no Meio-Oeste dos Estados Unidos, forte demanda chinesa, reabertura de fábricas de processamento de carnes, além da sinalização de diminuição da peste suína africana na China – contribui para elevar os preços da soja, diz o gerente de portfólio da GraniteShares, Jeff Klearman.
Antes da alta deste ano, a soja apresentou “destruição da demanda causada pelo novo coronavírus e pela peste suína na China, previsões de excesso de oferta global e um dólar americano mais forte”, destacou Klearman. Fábricas de processamento de carne em todo o mundo foram forçadas a fechar para conter a disseminação da covid-19, reduzindo a demanda por bovinos e suínos, o que levou a uma redução da demanda de soja para ração animal.
Agora, a China tem sido um grande comprador de soja, em parte, como uma “medida de precaução contra o aumento dos atritos comerciais com os EUA”, avalia Klearman. As importações de soja da China atingiram recorde de 98 milhões de toneladas no ano-safra 2019/20, encerrado em agosto, e devem atingir novo recorde em 2020/21, com algumas estimativas acima de 100 milhões de toneladas, afirma o presidente da Comércio de Teucrium, Sal Gilbertie.
A demanda da China por produtos agrícolas no verão do Hemisfério Norte já era “incomumente grande” por causa dos problemas climáticos que afetaram a produção agrícola chinesa e também em virtude dos esforços “agressivos” do país para reconstruir seu plantel de suínos, acrescentou Gilbertie. “Se os problemas de produção da China forem piores do que o esperado, isso pode apertar ainda mais o balanço global da soja”, diz o especialista. Ao mesmo tempo, os chineses também são “adeptos de comprar para seus estoques estratégicos quando os preços estão baixos”, alerta.
Os estoques finais globais de soja para 2020/21, ou o volume de grãos que sobrará depois que a demanda for atendida, devem ficar em 93,59 milhões de toneladas, representando uma queda de mais de 17% em relação aos dois anos anteriores, afirma Gilbertie. Isso é “um declínio enorme para uma commodity tão vital”.
Em relação ao clima, além de contribuir para as preocupações com o abastecimento mais restrito, o La Niña se desenvolve e deve persistir durante o inverno do Hemisfério Norte, segundo a Administração Oceânica e Atmosférica dos EUA, em relatório do dia 10 de setembro, o que aumenta a probabilidade de interferência na produção de soja.
“O La Niña geralmente afeta todas as principais safras agrícolas de alguma forma, do café ao trigo”, diz Gilbertie. “A seca associada ao La Niña nos Estados Unidos, sul do Brasil e Argentina tende a afetar negativamente a produção de soja, milho e trigo.” O estreitamento da oferta de soja já elevou os preços para a “faixa comercial plurianual anterior à guerra comercial, de US$ 9 a US$ 12 por bushel”, disse ele.
Os Estados Unidos e o Brasil são os dois maiores exportadores de soja, então, num cenário com fenômeno climático extremo, são previsíveis “brotos imaturos”, afirma o corretor sênior de commodities, Craig Turner, da Daniels Trading. Isso sugere que os preços da soja podem subir para US$ 13 ou mais, avalia.
“Se a América do Sul tiver problemas substanciais de produção em virtude do La Niña, o mercado global de soja terá uma dramática pressão de preços”, informa o analista. (AE)