A Austrália foi, ano passado, um grande fornecedor de carne bovina ao mercado da China, que, por sua vez, é o principal canal de escoamento da carne bovina brasileira hoje – grande responsável não só pela entrada de dólares ao País, mas também pelas recentes e fortes valorizações nos preços do boi gordo. A arroba sobe acentuadamente principalmente porque os frigoríficos brasileiros precisam atender os compromissos urgentes fechados com os importadores chineses, e daí eles não têm outra saída a não ser pagar mais ao pecuarista. A questão é que Austrália vem perdendo mercado internacional, sobretudo na China, como mostra matéria publicada hoje pelo portal australiano Beef Central. Vale lembrar que a Austrália sempre foi um forte concorrente da carne brasileira no mercado global.
As exportações de carne bovina da Austrália totalizaram 78.021 toneladas em agosto, o menor volume mensal de exportação em meados do ano visto em pelo menos dez anos, informa a Beef Central. “O ponto mais baixo anterior que pudemos encontrar em nossos registros para as exportações de agosto foi 2016, quando a recomposição do rebanho estava em pleno andamento. O volume naquele mês caiu para 80.600 toneladas”, observa o portal.
As exportações de agosto deste ano caíram 27% em relação ao mesmo período do ano passado, totalizando um déficit de mais de 28 mil toneladas. O número do mês passado foi 12% menor em volume do que as exportações do mês anterior – em julho já foi um mês de fraco desempenho nos embarques, na comparação com o ano anterior.
No acumulado do ano, a Austrália exportou 720.486 toneladas de carne bovina resfriada e congelada, um déficit de 70 mil toneladas ou 9% abaixo do volume registrado no mesmo período de oito meses do ano passado. “Essa lacuna inevitavelmente aumentará ainda mais nos próximos quatro meses, pois agora é claramente evidente que o acesso ao gado para abate permanecerá muito restrito até pelo menos o próximo ano, ou mesmo o ano seguinte”, relata a reportagem da Beef Central.
Tem havido um declínio gradual nas taxas de abate em todo o leste da Austrália desde abril, quando as mortes semanais nos estados do leste eram em média em torno de 140.000 cabeças. Atualmente, os abates não superam a casa das 100.000 cabeças semanais, um declínio de 40%. Isso se deve principalmente ao impacto da redução do rebanho nacional após uma seca severa durante os anos 2018-19.
Tal condição adversa terminou em março, com chuvas generalizadas nos estados do leste, e um estreitamento gradual na oferta de gado para abate tem sido a principal característica do setor desde então. Mais recentemente uma sequência de fechamentos de matadouros, seja por medidas de controle da Covid-19, seja pela falta generalizada de gado, também contribuiu para a redução da produtividade. A moeda também é um fator, com o dólar australiano valorizado frente ao dólar norte-americano. Um valor monetário mais alto torna mais difícil para as exportações australianas competirem nos mercados internacionais.
Todos os principais mercados foram afetados pelo declínio de 27% no mês passado no volume de exportação, observa a Beef Central. O Japão reapareceu como o maior cliente de exportação de carne bovina da Austrália no último mês, deixando de lado os Estados Unidos. O Japão consumiu 19.661 toneladas de carne bovina australiana em agosto, queda de 6% em relação ao mês anterior e baixa de 19% sobre agosto do ano passado. No entanto, houve forte queda no volume de comércio de carne australiana para os EUA. As exportações para lá caíram em parte devido à moeda e à falta de competitividade de preços da carne bovina magra australiana. O volume total no mês passado foi de 18.213 toneladas, queda dramática de 5.500 toneladas ou 23,4% frente ao mês anterior, e 12% menor do que no mesmo mês do ano passado.
China fortemente impactada
Depois de figurar consistentemente como o maior cliente de carne bovina da Austrália por alguns meses, a China continuou a cair em importância nos volumes de exportação vistos em agosto. A China respondeu por apenas 11.722 mil toneladas de carne bovina australiana no mês passado, uma forte baixa de 14.300 mil toneladas, ou 55% a menos que igual mês do ano passado, quando o país asiático era o maior cliente de carne bovina da Austrália. A queda já havia começado no mês anterior, quando os embarques de julho atingiram apenas 12.500 toneladas, queda de 26% em relação ao volume de junho.
No acumulado do ano, a China consumiu cerca de 146.000 toneladas de carne bovina australiana – quase 85% das quais foram congeladas. Esse número está 16% abaixo do mesmo período do ano passado. A China agora caiu de maior mercado de carne bovina da Austrália em volume, para o quarto lugar em agosto, atrás do Japão, Estados Unidos e Coreia do Sul.
Vários fatores parecem estar em jogo
A China elevou sua tarifa sobre as exportações de carne bovina australiana como parte de seu mecanismo de proteção tarifária de salvaguarda no início de julho, elevando as tarifas de 4,8% para 12% no restante deste ano. Isso tornou a carne bovina australiana menos competitiva no mercado chinês.
A China também impôs regulamentações sobre o teste Covid-19 em produtos de carne importados, apesar de não haver evidências científicas de que alimentos que chegam de navio podem abrigar a doença. Alguns exportadores australianos buscaram mercados em outros lugares, como resultado dos onerosos regulamentos de segurança alimentar da Covid-19.
A América do Sul continua a representar um forte desafio competitivo no mercado da China, especialmente no segmento de commodities sensível ao preço do mercado. O carne sul-americana, por exemplo, é considerada pelo menos 10% mais barata do que o equivalente australiano atualmente.
Cinco fábricas de carne bovina australianas foram suspensas do fornecimento para a China este ano. A mais recente foi John Dee em Warwick, sobre uma reclamação de detecção de resíduos. Nesta época, no ano passado, o mercado da China estava em chamas, com o impacto total da peste suína africana na população de suínos do país. O volume em agosto do ano passado chegou a mais de 26.000 toneladas, mais do que o dobro do total do mês passado.
A Coreia do Sul continuou sendo um mercado significativo de carne bovina para a Austrália em agosto, apesar da crescente pressão competitiva dos EUA. A Coreia consumiu quase 13.000 toneladas no mês passado, um pouco mais que em julho e 4,5% a mais que em agosto do ano passado. Em outros mercados, os resultados no mês passado foram mistos, mas geralmente refletiram o impacto da menor produção de carne bovina na Austrália. (Portal DBO)