As exportações de carne bovina da América do Sul para os Estados Unidos estão crescendo paulatinamente, desafiando fornecedores tradicionais da proteína ao mercado norte-americano importada, como Austrália e Nova Zelândia. O assunto é tema de reportagem do portal australiano Beef Central.
“Os volumes da América do Sul estão saindo de uma base baixa em termos de tonelagem, razão pela qual a tendência parece um pouco surpreendente”, disse um trader australiano. “Mas é justo dizer que não estamos acostumados com a concorrência (por parte de países da América do Sul) no mercado de carne bovina importada dos EUA”, acrescentou.
Especulou-se que a Argentina pode de fato – pela primeira vez na história – cumprir a sua cota de 20.000 toneladas de carne bovina para os Estados Unidos ao longo de 2020, segundo a Beef Central. Se isso ocorrer, a vantagem de preço sobre o valor da carne bovina da Austrália pode levar a Argentina a continuar a vender a sua proteína com tarifa cheia para os Estados Unidos. “O Uruguai fez isso em diferentes estágios no passado”, disse a fonte comercial.
Atualmente, o Brasil exporta para os Estados Unidos sob a cota de “outros países” de 60.000 toneladas a cada ano, compartilhada com participantes menores como Nicarágua, Costa Rica. A Nicarágua é um exportador regular, em pequenas quantidades, para o mercado norte-americano. “Em um grande ano, o Brasil poderia facilmente colocar 40.000 a 50.000 toneladas nos EUA sob essa cota, dada a agressividade com que exporta”, diz a fonte, que completa: “Mas o fato é que hoje o Brasil está fortemente focado no mercado da China”.
Volume de exportação
No mês passado, o Brasil despachou mais de 87 mil toneladas de carne bovina para a China, além de outras 18,8 mil toneladas para Hong Kong, totalizando, para esses dois mercados, quase 106 mil toneladas de carne bovina expedida em um único mês.
Ao mesmo tempo em que ocorre esse forte aumento no volume embarcado, lembra a Beef Central, o preço por tonelada da carne bovina brasileira na China continua caindo drasticamente. Os embarques de julho ficaram em média US$ 4.315/tonelada, o menor preço visto desde meados de 2017, segundo o portal australiano. Um dos principais motivos pelos quais o Brasil está remetendo tanta carne bovina à China é a falta de acesso a mercados alternativos de maior volume, como Japão, Coreia do Sul e o próprio mercado dos EUA.
Com o tempo, porém, os principais frigoríficos do mercado norte-americano estão aprovando mais plantas para fornecimento a partir de países produtores da América do Sul. Outras três grandes fábricas da JBS no Brasil e na Argentina foram recentemente aprovadas para atender a rede Burger King nos Estados Unidos, por exemplo. “Isso está aumentando o fornecimento de carne bovina da América do Sul aos EUA”, disse a fonte comercial australiana, acrescentando que os cortes sul-americanos estão mais baratos, o que atrai ainda mais compradores.
No entanto, quanto mais plantas sul-americanas forem aprovadas para fornecimento aos grandes consumidores finais dos EUA, menor será a diferença de preço entre a carne bovina australiana e a sul-americana, pondera a Beef Central. “Certamente não é a primeira vez que há uma ameaça iminente da América do Sul por participação de mercado dos EUA.
No passado, porém, isso foi neutralizado por questões de doenças sanitárias ou questões de inspeção de segurança alimentar, como o escândalo de corrupção de inspeção de carne ‘Carne Fraca’ do Brasil”, lembrou a fonte. “Mas se alguém estivesse planejando lançar um novo negócio de exportação nos Estados Unidos na expectativa de não haver concorrência com a América do Sul, acho que seria um pouco temerário – mesmo que os volumes provavelmente não sejam tão significativos para o tempo”, acrescentou a fonte. (Portal DBO)