A Companhia Nacional de Abastecimento (Conab) revisou nesta terça-feira os números brasileiros de sete safras de soja anteriores, um movimento bastante aguardado pelo mercado, que apontava inconsistências nas projeções de produção quando comparadas com dados de exportação e consumo.
A revisão nos números do maior produtor e exportador global da oleaginosa resultou em um aumento da oferta do Brasil de 14,4 milhões de toneladas no período revisado, de acordo com a estatal.
As últimas três safras concentraram as maiores revisões, que somaram 12,4 milhões de toneladas, incluindo 3,57 milhões de toneladas na última temporada, agora projetada em 124,46 milhões de toneladas.
A mudança foi anunciada em evento online para a divulgação dos números das perspectivas de safra 2020/21, com participação da ministra da Agricultura, Tereza Cristina, e do presidente da Conab, Guilherme Bastos.
Segundo ele, a revisão no balanço de oferta e demanda de soja do Brasil foi realizada devido à incompatibilidades entre os volumes de exportação, consumo interno e oferta —enquanto o trabalho era realizado, a divulgação dos dados ficou suspensa nos últimos meses.
Para Bastos, o governo não tem problemas em revisar os números desde que eles façam sentido.
“O compromisso é com a qualidade da informação”, ressaltou ele, um profissional que já teve atuação no setor privado e também em empresa de consultoria.
“Esse é realmente o grande ‘turning point’ (ponto de inflexão) da nossa equipe em termos olhar esse mercado… Por isso que o balanço de soja foi suspenso em janeiro, porque não havia espaço para estoques e produção para atender exportações e demanda por esmagamento”, disse ele, à Reuters.
Bastos assumiu como presidente da Conab em fevereiro deste ano. Quando ele ocupava o cargo de diretor de Política Agrícola e Informações da estatal, antecipou à Reuters, em agosto de 2019, que a estatal estava “revisitando” os números.
Funcionários da Conab ressaltaram ainda que a revisão de dados contou com o apoio da ministra, que tem buscado melhorar as informações de inteligência de mercado no governo.
Embora tenha revisado os dados de safra, a Conab ainda não divulgou as informações de oferta e demanda de soja, o que deverá acontecer possivelmente em setembro, segundo a assessoria de imprensa da estatal.
Essa informações vão ser fundamentais para o mercado saber, por exemplo, qual será a oferta ao final de 2020, um ano em que os estoques estão mais enxutos devido à forte demanda externa e interna.
Os preços da soja em grão seguem renovando as máximas no Brasil. Na parcial de agosto (até o dia 21), o indicador Esalq/BM&FBovespa Paranaguá subiu significativos 11,5%, indo para 132,80 reais/saca de 60 kg, patamar recorde nominal da série histórica do Cepea, iniciada em março de 2006.
A Conab informou ainda, por meio da assessoria de imprensa, que vai revisar números de safras de milho, arroz, trigo, algodão e feijão, após concluir os trabalhos relacionados à soja.
EXPORTAÇÕES RECORDES
A exportação de soja do Brasil em 2021 foi estimada nesta terça-feira em recorde de 86,79 milhões de toneladas, ante 82 milhões de toneladas projetadas para 2020, apontou a Conab em relatório sobre perspectivas para a temporada 2020/21, cujo plantio começa em setembro.
As exportações do ano que vem superariam o volume histórico visto em 2018, quando o país exportou cerca de 83 milhões de toneladas.
Os embarques no próximo ano contam com um câmbio favorável que deixa o produto brasileiro mais competitivo no mercado internacional, além da forte demanda da China, o que tem acelerado as vendas antecipadas para a próxima safra.
Já a produção de soja do Brasil deverá atingir um recorde de 133,5 milhões de toneladas na nova temporada (2020/21).
Isso significaria um aumento de 9 milhões de toneladas ante o ciclo deste ano, quando a produção do Rio Grande do Sul foi bastante prejudicada pela seca.
Com uma grande produção de soja, a safra de grãos e oleaginosas do Brasil 2020/21 foi estimada em recorde de 278,7 milhões de toneladas, alta de 8% ante a temporada anterior, com o impulso também da produção de milho.
A Conab estimou aumento de 7% na área plantada com milho no Brasil em 2020/21, para 19,8 milhões de hectares, apontando uma produção total de 112,9 milhões de toneladas, versus 102 milhões projetados até o momento para 2019/20.
O aumento do plantio de milho seria ainda maior do que o esperado na soja, o principal produto do agronegócio do Brasil, que tem na oleaginosa o carro-chefe da exportação —a área deverá ter alta de aproximadamente 3%.
“A boa rentabilidade do milho e da soja na safra que se encerra estimula os produtores brasileiros a aumentar a área dessas culturas no período de 2020/21”, disse a estatal em nota, acrescentando que os cálculos são baseados em inúmeros dados de campo, previsões climática e imagens de satélites.
A Conab ainda previu redução de 11% na área plantada com algodão no Brasil em 2020/21, com o mercado sendo atingido por efeitos da pandemia. O prognóstico é de redução de 2% da produtividade na safra 2020/21, o que limitaria a colheita a 2,555 milhões de toneladas de pluma, queda de 12%. (Reuters)