Gustavo Rezende Machado é trainee pela Agrifatto.

Em 2017, o Brasil colheu 114 milhões de toneladas de soja e 97 milhões de toneladas de milho, recordes que causaram forte pressão negativa aos preços e geraram dúvidas sobre a reação das cotações para o próximo ano.

A produção total do cereal brasileiro deve cair na nova safra, já que as condições climáticas em 2016/17 foram muito favoráveis à produção agrícola, e possivelmente não se repetirão. Segundo, pelo desestímulo aos produtores dada a queda de preços de comercialização pela oferta recorde. Dessa forma, espera-se redução entre 2% e 5% da área cultivada para o milho e queda para 95 milhões de toneladas na safra nova.

As exportações devem continuar em proporções positivas também para o próximo ano, confirmando a força da demanda internacional, com expectativa de novo recorde alcançando patamar em volta de 34 milhões de toneladas.

Portanto, a menor oferta mundial para a próxima safra e as exportações em volume recorde projetam queda dos elevados estoques mundiais, passando de 227,5 para 200,8 milhões de toneladas (gráfico 1).

Com relação a formação dos preços na CBOT, o relatório da Companhia Nacional de Abastecimento (CONAB), destaca a queda das cotações do milho para a menor média mensal em 10 anos, no valor de US$ 3,21/bushel. Apesar de grande oscilação durante o período, desde meados de 2014 os preços em sua maioria estão abaixo da média histórica de US$4,79/bushel.

Ou seja, os valores praticados na Bolsa de Mercadorias de Chicago – CBOT, há alguns anos encontram-se pressionados pelo aumento da oferta e dos estoques mundiais, indicando que para o próximo ano, caso não haja quebra de safra, os preços internacionais podem não romper a resistência de US$ 4,66/bushel observada em maio de 2016. O gráfico 1 exemplifica a movimentação negativa das cotações na Bolsa de Mercadorias de Chicago iniciada em agosto de 2012.

A Companhia Brasileira de Abastecimento – CONAB – sinaliza ainda que apenas a redução significativa dos estoques brasileiros poderia pressionar positivamente os preços internos, levando a queda da produção para proporções abaixo de 90 milhões de toneladas.

Apesar de a previsão da CONAB referente ao volume de milho exportado em 2016/17 estar no patamar de 28 milhões de toneladas, o mercado espera proporções em torno de 32 milhões de toneladas. Se confirmado o volume, os estoques antes projetados acima de 21 milhões de toneladas cairiam para 16 milhões de toneladas. Ainda que considerado alto, o volume seria capaz de reduzir a pressão negativa dos armazéns, especialmente pelo suporte às cotações pela forte demanda internacional.

A tabela 1 reúne informações acerca da relação de oferta e demanda dos últimos anos, assim como os números projetados para a safra seguinte.

Outro fator que pressiona as cotações positivamente pode se dar pelo atraso do plantio da soja com o tempo seco persistente na maior parte das regiões produtoras, cenário que só deve se inverter para a maior parte dos estados a partir de final de outubro e início de novembro. O atraso do plantio da oleaginosa se reflete também na semeadura do milho de segunda safra, que pode ser agravada ainda pelo fenômeno climático La Niña, interferindo na regularidade e volume das chuvas na América do Sul.

Dessa forma, caso exista prejuízo à produção agrícola por condições climáticas desfavoráveis e atraso da disponibilidade da commodity ao mercado, haverá nova pressão altista sobre as cotações.

Ainda assim, a grande oferta da safra 2016/17 e os estoques historicamente altos podem limitar as altas, e caso as lavouras brasileiras apresentem potencial de alcançar as previsões de produção, a alta pode ser menos acentuada. Outro viés baixista no médio prazo ocorre pela colheita da safra norte-americana, apesar de queda do volume de milho produzido, ainda são estimados 360,30 milhões de toneladas (USDA).

No mercado físico, a baixa liquidez e as exportações em quantidade recordes pressionam positivamente as cotações, especialmente em regiões onde a demanda por tradings ou para alimentação animal são maiores, refletido em aumento de 13,47% do indicador do milho Esalq/BM&F desde o início de setembro.