O aumento dos casos de covid-19 nos principais Estados produtores de carne dos Estados Unidos está pondo à prova as medidas implementadas pela indústria para proteger os funcionários e sua produção, após uma onda de infecções ter resultado no fechamento temporário de várias unidades de processamento em abril.
Nos últimos dias, novas infecções por covid-19 subiram para um nível recorde na Geórgia, o maior Estado produtor de frango, com altas semelhantes em outros grandes Estados produtores de aves, como Arkansas, Alabama e Carolina do Norte. Isso está levantando temores entre alguns funcionários de que eles continuem em risco no trabalho.
A produção da indústria de carne dos EUA voltou aos níveis normais nas últimas semanas, após empresas como Tyson Foods, Cargill, Smithfield Foods e JBS USA terem aumentado as linhas de processamento e implementado turnos extras em fins de semana. Na semana encerrada em 27 de junho, a produção de carne bovina aumentou 5% ante igual período do ano anterior, e a produção de carne suína cresceu quase 14%, segundo o Departamento de Agricultura dos EUA (USDA). A produção de carne de frango caiu cerca de 2%. Funcionários de unidades de carne bovina e suína foram os mais atingidos pela onda de infecções dos últimos meses.
Nas últimas semanas, aumentaram as infecções per capita nos condados onda há unidades de processamento de carne bovina e suína, embora a uma taxa semelhante à média nacional, disse Will Sawyer, economista do banco agrícola CoBank. Há alguns meses, os casos no entorno de frigoríficos estavam aumentando a uma taxa muito maior do que no resto do país, disse.
As empresas do setor disseram ter investido centenas de milhões de dólares em equipamentos de segurança relacionados ao novo coronavírus e em pagamento extra aos trabalhadores, e que essas medidas ajudaram os funcionários a se sentirem confortáveis em voltar ao trabalho. As fábricas instalaram scanners para medir a temperatura dos trabalhadores e divisórias plásticas nas linhas de processamento de carne, onde os funcionários costumavam ficar lado a lado durante boa parte de seus turnos.
Representantes dos trabalhadores, porém, disseram que eles continuam em risco. “Os trabalhadores não acham que a situação tenha melhorado”, disse Stuart Appelbaum, presidente do Sindicato de Varejo, Atacado e Lojas de Departamentos, que representa funcionários de unidades de processamento de aves. Ele estima que 30% dos membros do sindicato que trabalham em frigoríficos continuam ficando em casa.
Scott Brooks, chefe de segurança alimentar da Tyson, disse que os casos têm aumentado entre os trabalhadores da empresa nas últimas semanas, mas em ritmo mais lento do que a população em geral. Algumas das fábricas da Tyson e outras instalações não registram novos casos há semanas, disse ele, acrescentando que testes recentes mostraram que muitos trabalhadores que testaram positivo não apresentaram sintomas. A empresa, que tem sede no Arkansas, está agora implementando um programa de testes contínuos.
Um porta-voz da JBS disse que metade dos funcionários de suas fábricas foi testada, independentemente das taxas locais de infecção. Nas áreas onde o número de casos é alto, mais de 80% dos funcionários foram testados, disse. Um porta-voz da Cargill disse que as fábricas da empresa estão operando a 95% dos níveis normais e devem voltar à plena produção nas próximas semanas.
A indústria de carne dos EUA, que emprega cerca de 585 mil trabalhadores, tornou-se inicialmente um dos epicentros de infecções. O Sindicato Internacional dos Trabalhadores do Comércio e do Setor de Alimentos disse na semana passada que 65 trabalhadores de frigoríficos morreram devido ao coronavírus e mais de 4 mil foram infectados. (AE)