O dólar pode ficar volátil no mercado doméstico. Uma queda pode ser influenciada pelo recuo predominante da moeda americana frente grande parte das divisas emergentes ligadas a commodities, enquanto o índice DXY, que compara a divisa americana ante seis rivais, mostra alta leve. Investidores operam de olho nas tensões geopolíticas envolvendo Índia e China e as duas Coreias, assim como novos surtos de covid-19 na China e nos EUA, apesar dos sinais positivos da economia americana e os recentes estímulos do Federal Reserve (Fed).
No Brasil, as atenções na abertura se voltam também para os dados do setor de serviços em abril, na esteira dos tombos da produção industrial (-18,8%) e do varejo restrito (-16,8%) e ampliado (-17,5%). O mercado espera recuo de 10,60% nos Serviços, conforme a mediana da pesquisa Projeções Broadcast. O resultado do indicador pode reforçar as apostas no mercado futuro de juros em corte adicional de 0,25 ponto da Selic em agosto, após a redução de 0,75 ponto esperada hoje, para 2,25% ao ano. Mas o investidor quer saber se o comunicado do Copom confirmará o fim do ciclo, como antecipou a autoridade na última ata, ou se há espaço para um novo corte, como vem prevendo alguns agentes financeiro.
Ficam no foco também a posse do novo ministro das Comunicações, Fábio de Faria, e o embate entre os poderes, após a resposta agressiva de Bolsonaro às ações do Supremo Tribunal Federal (STF) contra seus apoiadores. Ontem à noite, o presidente criticou “abusos” e falou em tomar “medidas legais” em rede social, após ser pressionado por seus seguidores a se manifestar sobre operação da Polícia Federal no âmbito do inquérito sobre os atos antidemocráticos recentes em Brasília. Após buscas e apreensões durante o dia pela Polícia Federal, a pedido da Procuradoria-Geral da República, o ministro do STF Alexandre de Moraes determinou a quebra de sigilo bancário de dez deputados federais e um senador bolsonaristas. Moraes também é relator do inquérito das fake news, que preocupa o Planalto.
Do lado econômico, há dúvidas se a equipe econômica conseguirá o apoio do Centrão no Congresso para emplacar um programa próprio de renegociação de débitos tributários, chamado de “Refis seletivo”. Isso porque, pelo novo programa, seriam beneficiados apenas quem provar que não tem condições de pagar a dívida com a União contraída antes da crise e também eventuais débitos acumulados no período mais crítico da pandemia, de acordo com técnicos do governo. Mas o Centrão defendeu até agora um projeto de lei que, na prática, permite descontos de até 90% em multas e ainda um salvo-conduto para empresas e pessoas físicas deixarem de pagar os débitos contraídos até dezembro.
E na tentativa de desfazer o mal-estar causado por declarações de Bolsonaro, de que não se deve contar com ajuste fiscal este ano, o ministro da Economia, Paulo Guedes, listou a reforma tributária, o novo marco regulatório do gás e as privatizações como pautas prioritárias na agenda pós-pandemia em reuniões com deputados do MDB e do PL, ontem.
O dólar no mercado à vista fechou ontem em alta de 1,79%, a R$ 5,2340. O dólar futuro para julho subiu 1,69%, a R$ 5,2485. O mercado doméstico foi pressionado pelo exterior, depois do discurso mais pessimista do presidente do Fed, Jerome Powell, em relação à recuperação da economia, e por razões domésticas, como a possibilidade de juros ainda menores após o desfecho da reunião do Copom e incertezas fiscais e em relação ao andamento das reformas. (AE)