Gustavo Rezende Machado é trainee pela Agrifatto
Lygia Pimentel é sócia-diretora da Agrifatto
Durante as últimas semanas, foi possível observar importantes variações para as previsões climáticas norte-americanas, para o câmbio e para os prêmios praticados nos portos brasileiros. Discutiremos a seguir as mudanças ocorridas durante os últimos dias e seus impactos no médio prazo.
1 – Clima norte-americano e sua consequência na CBOT
A influência do clima para a formação dos preços de commodities agrícolas pode ocorrer de forma gradual quando as previsões meteorológicas se confirmam pouco a pouco, mas representam fator de grande volatilidade quando não acompanham os modelos climáticos idealizados.
Assim, desde o início do mercado climático norte-americano registrado para a temporada 2016∕2017, havia incerteza se a safra conseguiria atingir seu potencial produtivo. Com isso, a especulação climática causou aumentos graduais e regulares até valores acima de US$ 10,00/bushel durante julho. Porém, a partir do relatório mensal do USDA – Departamento Norte Americano de Agricultura – divulgado no dia 10 de agosto, o cenário mudou para uma expectativa de safra recorde. Se as condições climáticas se confirmarem devido a chuvas adequadas durante as próximas três semanas, a oferta da nova safra norte-americana poderá causar pressão negativa sobre os preços para valores abaixo dos US$ 9,00/bushel e, mesmo se as condições climáticas forem desfavoráveis, reduzindo a previsão do USDA, as cotações não têm pouca chance de ganhar força suficiente para atingir preços acima de US$ 10,00/bushel, como observado nas semanas anteriores.
Na figura 1 temos a previsão climática do NOAA (serviço de previsão climática norte-americano) para a próxima semana, entre os dias 21 e 25 de agosto. O primeiro mapa (lado esquerdo) refere-se à probabilidade de chuvas, enquanto o segundo mapa (lado direito) compreende a previsão de temperatura.
Figura 1.
Previsão climática para os Estados Unidos para os dias 21 a 25 de agosto.
Portanto, para a próxima semana na região produtora de grãos dos Estados Unidos, a temperatura e as chuvas devem ficar acima do normal para o período, colaborando para o desenvolvimento da cultura e enchimento de vagens.
2. Câmbio e prêmio nos portos brasileiros
O câmbio se valorizou durante toda a semana passada, quando partiu de R$ 3,12 para R$ 3,20, pressionando negativamente os preços na CBOT e também melhores margens para a exportação. Porém, nesta manhã (16 de agosto) recuou próximo a R$ 3,17.
Já o prêmio no porto de Paranaguá subiu quase 24% entre ontem e hoje, efeito da redução de negócios realizados nos últimos dias, o que pode favorecer a comercialização no curto prazo, já que a influência das quedas na CBOT tem pressionado negativamente os indicadores de preço, chegando no porto a RS 69,50/sc de 60 kg.
Em conclusão, existe nesse momento uma pressão forte para preços mais baixos, enquanto os números de produção de 119 milhões de toneladas divulgados pelo USDA ficam cada dia mais próximos de uma concretização. As cotações em queda desestimulam novos negócios, e mesmo o aumento do câmbio e dos prêmios nos portos não devem ser os suficientes para contornar as margens reduzidas. Sendo assim, pelas previsões climáticas, ainda há espaço para novas quedas ao longo de agosto, com resistência para os próximos dias em US$ 9,10/bushel – mínima encontrada no final de junho.