Os shoppings centers e o comércio da cidade de São Paulo poderão reabrir com restrições durante 15 dias a partir de 1º de junho, de acordo com plano de reabertura gradual da economia do Estado de São Paulo anunciado nesta quarta-feira pelo governador João Doria (PSDB), pelo prefeito Bruno Covas (PSDB) e por secretários estaduais.

De acordo com o plano, que prevê normas para afrouxamento das regras adotadas vigentes até 31 de maio para frear a disseminação do coronavírus, a cidade de São Paulo se enquadra na fase 2 da reabertura, que permite também o funcionamento com restrições de escritórios, atividades imobiliárias e concessionárias de veículos.

As cidades da região metropolitana da capital foram enquadradas na fase 1 da reabertura, que permite apenas o funcionamento —além das atividades consideradas essenciais— da indústria não essencial e da construção civil. O mesmo aconteceu com as regiões da Baixada Santista e de Registro, que também não terão qualquer flexibilização nas regras atuais neste momento.

O plano, anunciado em entrevista coletiva no Palácio dos Bandeirantes, sede do governo estadual, prevê a reabertura da economia paulista em cinco fases. As regiões do Estado avançarão para a fase seguinte de acordo com a melhora em critérios como o crescimento de casos de Covid-19, doença respiratória provocada pelo novo coronavírus, e a disponibilidade de leitos de UTI (unidade de terapia intensiva) para tratar a doença.

Doria disse que a nova fase da quarentena em São Paulo, que batizou de “retomada consciente”, acontecerá até o dia 15 de junho, mas alertou que as autoridades do Estado podem voltar atrás se os índices da pandemia piorarem.

“É uma nova fase, uma nova prática, que vai permitir em alguns locais, em algumas áreas, uma retomada gradual e segura de atividades”, disse o governador.

“Quero alertar, no entanto, que a retomada consciente parte do princípio da colaboração de todos e da ajuda conjunta. Mas parte também do princípio que nós estaremos monitorando dia a dia a evolução do processo e o respeito à ciência e à medicina. Se tivermos que dar um passo atrás, se tivermos que retomar medidas que agora estaremos flexibilizando gradual, parcialmente, de forma heterogênea, não hesitaremos em fazê-lo para proteger vidas.”

PROTOCOLOS
No início deste mês, quando Doria anunciou a prorrogação da quaretena no Estado até 31 de maio, o coordenador do Centro de Contingência do Corovírus em São Paulo e presidente do Instituto Butantan, Dimas Covas, estabeleceu três regras para a flexibilização da quarentena: isolamento social mínimo de 55%, taxa de ocupação de leitos UTIs de no máximo 60% e 14 dias de queda sustentada no número de novos casos.

São Paulo é, de longe, o Estado que mais tem casos confirmados e mortes por Covid-19 no Brasil. De acordo com a Secretaria de Saúde estadual, são 89.483 diagnósticos da doença com 6.712 mortes. Na capital, segundo a secretaria municipal de Saúde, são 51.852 casos, com 3.421 mortes.

Números da secretaria estadual apontam para uma taxa de ocupação de leitos de UTI de 73,3%. Na capital, de acordo com a secretaria municipal, esse índice é de 85%. A última vez que o índice de isolamento social no Estado chegou ao patamar de 55% foi no último domingo, segundo dados do governo estadual, que apontaram taxa de 47% na terça. Na capital, o isolamento foi de 57% no domingo, caiu para 53% na segunda e voltou a ser reduzido, dessa vez para 49% na terça.

O prefeito Bruno Covas disse que haverá uma entrevista coletiva para informar quando os setores contemplados com a reabertura na capital poderão propor protocolos de funcionamento.

“Nós vamos explicar de que forma, a partir de quando, os setores vão poder apresentar à prefeitura os seus protocolos, que serão validados pela vigilância sanitária do município, assinados com o prefeito da cidade, para que eles possam retomar a sua atividade econômica”, disse o prefeito.

De acordo com Covas, a prefeitura ampliou a oferta de leitos de UTI e adotou medidas que aumentaram o isolamento social na capital o que, segundo ele, permitiu um achatamento da curva da pandemia na cidade e abriu espaço para a flexibilização.

O professor Gonzalo Vecina Neto, da Faculdade de Saúde Pública da Universidade de São Paulo, manifestou estranheza com o anúncio desta quarta e disse que, por ora, as três regras anunciadas pelas autoridades de saúde do Estado no início do mês —que considerou adequadas— não estão contempladas na capital paulista.

“Eu não entendi que as três regras foram alcançadas pelo município de São Paulo”, disse Vecina Neto à Reuters. “Se ele está supondo que vai alcançar, aí são outros quinhentos. Se alcançar, ok. Se não alcançar, os mortos vão ficar no colo dele”, afirmou o professor, que também é ex-presidente da Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa). Ele apontou, também, a necessidade de se fazer mais testes para detecção da Covid-19.

Após o anúncio da reabertura gradual, que incluiu a volta do funcionamento de concessionárias na capital, ações de siderúrgicas, que fizeram grandes cortes de produção desde o início da pandemia no país por causa na queda da demanda por aço de setores como o de veículos, estavam entre as maiores altas do Ibovespa .BVSP nesta tarde. Usiminas (USIM5.SA) saltava 15,9% e Gerdau (GGBR4.SA) e CSN CSNA3.SA disparavam cerca de 11%. O Ibovespa subia 2,33% às 16h28.

Além da capital paulista, regiões importantes do interior do Estado —como Campinas, Ribeirão Preto, Sorocaba e Taubaté— também foram enquadradas na fase 2 do plano de reabertura.

Na fase 3, que inclui bares e restaurantes também com restrições, foram enquadradas as regiões de Presidente Prudente, Araraquara/São Carlos, Bauru e Barretos.

Nenhuma região do Estado foi enquadrada na fase 4, que engloba academias de ginástica, ou na 5, que prevê a abertura de todos os setores desde que sejam seguidos protocolos de saúde. As quatro primeiras fases do plano não preveem o funcionamento de espaços públicos, de teatros e cinemas e a promoção de eventos em geral que envolvam a aglomeração, incluindo os esportivos. (Reuters)