Lygia Pimentel é médica veterinária e consultora pela Agrifatto
Leonardo Ribeiro é graduando em medicina veterinária e estagiário da Agrifatto

A pecuária caminha para a entressafra de animais terminados a pasto. Neste período as condições das pastagens ficam cada vez piores à medida que os dias sem chuvas avançam. Analisando a precipitação acumulada em julho deste ano e comparando com julho do ano passado, tivemos em 2017 um volume menor de chuvas, considerando a média Brasil.

Até o momento, julho registrou 31,6 mm de chuvas acumulados contra 41,3mm em julho de 2016, considerando a análise parcial até o dia 28. O destaque fica por conta da redução do volume sobre São Paulo e Mato Grosso do Sul. Veja a figura 1.

Figura 1.
Precipitação acumulada em julho de 2017 comparado com julho de 2016 em milímetros.

Os fenômenos El Niño e La Niña que afetam o regime de chuvas não interferiram sobremaneira no clima em 2017, já que atualmente há o predomínio da neutralidade climática, que deve perdurar pelos próximos três meses. Por outro lado, a ausência destes fenômenos faz com que as frentes frias cheguem de forma mais intensa, reduzam drasticamente as temperaturas e formem geadas em diversos locais, a exemplo da última frente fria que ocorreu neste mês. Desta forma, a capacidade de suporte das pastagens reduz e tende a reduzir consigo a oferta de animais terminados, permitindo uma sustentação nos preços do boi gordo, refletido nas cotações vistas no mercado futuro na última semana.

Apesar de a indústria ainda possuir programações longas, atendendo em média 9 dias, durante a semana passada alguns frigoríficos chegaram a subir os preços pagos pelo boi gordo. Com isso, a pressão baixista observada ao longo desta safra foi reduzida em algumas praças e em outras houve reação. Na comparação entre a média dos preços do boi gordo à vista observados na semana passada com a média da semana anterior, é possível verificar que Goiás registrou a maior alta, em 1,08%. Já em São Paulo, maior praça consumidora de carne bovina, as cotações subiram 0,26% e em Mato Grosso, estado detentor do maior rebanho do país, os preços permaneceram estáveis.

Mesmo com a ligeira alta, as vendas de carne no mercado atacadista seguem em baixo ritmo. O, o preço do boi casado recuou 4,93% no acumulado de julho, quando comparado ao preço médio de junho. O spread da indústria, ou seja, diferença entre os valores que os frigoríficos pagam pela arroba do boi gordo e o preço que vendem a carne no mercado atacadista, recuou 1,86 pontos porcentuais em julho, se comparado a junho. Observe o gráfico 1.

Gráfico 1.
Evolução do spread entre a arroba do boi gordo e a carcaça bovina no atacado (%).

 

Historicamente o spread se concentra no campo negativo, ou seja, usualmente a arroba custa mais caro do que a carcaça no atacado. A margem costuma ser recomposta através das vendas de couro, sebo, miúdos, subprodutos e da própria carne desossadas. Com a forte desvalorização da arroba registrada entre o fim de 2016 e o primeiro semestre de 2017, o spread trabalhou em campo positivo pelo período mais longo já registrado em nossa série histórica, mesmo considerando a desvalorização da carne no atacado. Isso ocorreu porque essa queda foi menor do que a registrada para o boi gordo.

Portanto, a maior oferta de animais continua ditando o ritmo do mercado, combinada à fraca demanda interna, apesar da recuperação interessante observada para as exportações brasileiras.

À medida que a estiagem se intensifica e a oferta de animais se restringe, a indústria deve seguir reajustando os preços, possivelmente diminuindo o spread.

Outubro já registra essa expectativa, sendo o contrato negociado em torno de R$ 135,00/@ neste início de semana. Isso pode voltar a animar o confinador conforme o mercado futuro volta a precificar ágio para a entressafra, mas ainda sem conseguir compensar a perda de cocho resultante do volume de problemas e incertezas vividas em 2017. Veja o gráfico 2.

Gráfico 2.
Evolução da quantidade de animais confinados e a perspectiva de confinamento para 2017, em milhões de cabeças.

Isso deve trazer uma típica entressafra de preços mais firmes, porém com uma demanda ainda bem aquém da média histórica, ou seja, a alta de preços deve ser regulada pela demanda ruim, que segue em recuperação.

Em outras palavras, espera-se alta, porém em nível moderado devido à dificuldade de encaixar a carne ao consumidor em maiores volumes.

O número do confinamento 2017 ainda deve sofrer mudanças conforme evolui a entressafra e, principalmente, a confirmação da alta de preços.

Essa análise é válida sem se considerar quaisquer outros problemas graves que venhamos a ter nos próximos meses, especialmente considerando a exportação de carne e o trecho da delação de Joesley Batista em que relata o pagamento de propina a fiscais agropecuários.

Um abraço e até a próxima!